Paulo Ghiraldelli Jr.
O ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, em cerimônia de sua posse, em Brasília -
Temos o direito e o dever de ensinar o marxismo
O ministro da Educação do governo Bolsonaro é
colombiano. Talvez não tenha tido tempo, nem interesse, em ler a
Constituição do país em que vive, o Brasil. Nela há um item importante
que parece que ele desconhece: "Art. 206. O ensino será ministrado com
base nos seguintes princípios: (...) II - liberdade de aprender,
ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber". Todavia,
duvido que o ministro da Educação não tenha imaginado isso a respeito da
nossa Carta Magna, pois há algo bem parecido na Constituição da
Colômbia.
Desse modo, suas falas dizendo que o serviço do MEC é combater o "marxismo" ("cultural"?), tudo leva a crer, são inconstitucionais. Nós, professores, temos o direito de ensinar o marxismo e temos o dever de, em caso de sociologia, fazê-lo junto com o ensinamento de outros clássicos, especialmente Weber e Durkheim.
Mas temos o direito, também, de pautar nossas ações pelo marxismo --pois é um corpo de ideias que já pertence às análises mais diversas, e está incrustado em nossa prática cotidiana, inclusive das instituições.
Ninguém poderia se dizer bem formado por uma universidade saindo dela sem saber fazer uma análise social informada pela existência de classes sociais e de conflito de classes. Uma pessoa assim, ignorante de um marxismo básico, seria empregada onde? Uma pessoa assim estaria aquém das necessidades do mercado de trabalho. Imagine um médico que não sabe como surgiram os conceitos de classe, de luta de classes, de direita e esquerda?
Um médico assim talvez imaginasse que o nazismo fosse de esquerda! E quando alguém dissesse para ele que os pobres deveriam ser atendidos, ele gritaria no meio do corredor: "Isso é coisa que já ouvi na esquerda, é o Hitler!". Daí a outras imbecilidades haveria menos que um passo.
Já imaginou um executivo, um engenheiro ou um jornalista ignorantes quanto à ideia de uma sociedade sem Estado, nascida, entre outros, da cabeça de Marx? Tomariam o Estado como algo natural, como uma árvore. Não imaginariam utopias. Seriam tacanhos em suas tarefas empresariais e empregatícias!
Nossa Constituição não garante a liberdade de cátedra apenas para garantir a liberdade, mas também para proteger a nação da imbecilidade.
Entender a época em que vivemos é, hoje, uma necessidade não mais do verniz de classes abastadas. É entender o que se pode fazer no âmbito de uma vida burguesa, que é a nossa vida. Temos de entender a modernidade porque somos modernos e porque nossa própria sobrevivência é dependente desse nosso entendimento.
Desse modo, suas falas dizendo que o serviço do MEC é combater o "marxismo" ("cultural"?), tudo leva a crer, são inconstitucionais. Nós, professores, temos o direito de ensinar o marxismo e temos o dever de, em caso de sociologia, fazê-lo junto com o ensinamento de outros clássicos, especialmente Weber e Durkheim.
Mas temos o direito, também, de pautar nossas ações pelo marxismo --pois é um corpo de ideias que já pertence às análises mais diversas, e está incrustado em nossa prática cotidiana, inclusive das instituições.
Ninguém poderia se dizer bem formado por uma universidade saindo dela sem saber fazer uma análise social informada pela existência de classes sociais e de conflito de classes. Uma pessoa assim, ignorante de um marxismo básico, seria empregada onde? Uma pessoa assim estaria aquém das necessidades do mercado de trabalho. Imagine um médico que não sabe como surgiram os conceitos de classe, de luta de classes, de direita e esquerda?
Um médico assim talvez imaginasse que o nazismo fosse de esquerda! E quando alguém dissesse para ele que os pobres deveriam ser atendidos, ele gritaria no meio do corredor: "Isso é coisa que já ouvi na esquerda, é o Hitler!". Daí a outras imbecilidades haveria menos que um passo.
Já imaginou um executivo, um engenheiro ou um jornalista ignorantes quanto à ideia de uma sociedade sem Estado, nascida, entre outros, da cabeça de Marx? Tomariam o Estado como algo natural, como uma árvore. Não imaginariam utopias. Seriam tacanhos em suas tarefas empresariais e empregatícias!
Nossa Constituição não garante a liberdade de cátedra apenas para garantir a liberdade, mas também para proteger a nação da imbecilidade.
Entender a época em que vivemos é, hoje, uma necessidade não mais do verniz de classes abastadas. É entender o que se pode fazer no âmbito de uma vida burguesa, que é a nossa vida. Temos de entender a modernidade porque somos modernos e porque nossa própria sobrevivência é dependente desse nosso entendimento.
"É triste ver o Brasil tendo
que ter gente como eu gritando pelo óbvio e tendo de invocar a lei (e o
bom senso)
contra as autoridades que não a conhecem.
Jamais imaginei que
um dia fôssemos
chegar a isso!"
Os clássicos contemporâneos das ciências humanas nos colocam de modo apto a manter nosso mundo funcionando. A universidade é o lugar para o qual vamos para nos habilitar a melhor viver. Não vamos viver melhor se não pudermos compreender os clássicos. Marx está entre eles, como Platão ou Machado de Assis ou Newton ou a Bíblia.
É triste eu ter que escrever isso, o óbvio. É triste ver o Brasil tendo que ter gente como eu gritando pelo óbvio e tendo de invocar a lei (e o bom senso) contra as autoridades que não a conhecem. Jamais imaginei que um dia fôssemos chegar a isso!
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