Alberto Villas*
Convivo com o tempo instável sujeito a chuvas e trovoadas,
com as nuvens de chumbo, desde pequenininho. Pai meteorologista, fomos
nos acostumando com a previsão do tempo dentro de casa, todos os dias.
Ele era aquele cara que toda vez que o Córrego do Arrudas e o Rio das
Velhas começavam a subir, aparecia na tela da televisão alertando os
mineiros do perigo e esclarecendo o que estava acontecendo naquela Belo
Horizonte ainda meio provinciana, transbordando de água por todos os
lados.
Ele era conhecido no Mercado Central como Manda-Chuva
e, aos domingos, de barraca em barraca, ia respondendo se ia chover ou
não na hora do churrasco de cada um. Errava muito porque ainda não havia
internet, nem mesmo os satélites sobre nossas cabeças indicando de onde
e quando ia chegar aquela frente fria, aquele temporal ou aquele calor
infernal.
A chuva era colhida nos postos meteorológicos num recipiente chamado
pluviógrafo, e o sol, de ponta a ponta, era registrado no heliógrafo,
num rolinho de papel que era recolhido no final de cada dia. Não era
fácil saber se ia fazer sol ou se teríamos chuva no dia seguinte.
Minha mãe, mais prática, sentia a chegada da chuva pelo canto das
cigarras, que eram muitas naqueles lotes vazios do bairro do Carmo, o
que deixava meu pai meio chateado. Sempre achei que ela acreditava mais
nas cigarras cantando do que naqueles aparelhinhos do Serviço de
Meteorologia.
Hoje, temos um show diário da Maju na televisão, com todas aquelas
informações precisas, mostrando claramente as imagens da frente fria que
vem caminhando do Sul ou aquela assustadora mínima de 34 graus na
capital do Acre. Ninguém tira os olhos da TV, enquanto a Maju estiver no
ar. Todos nós aqui em casa gostamos da previsão do tempo da Maju,
acredito que uma herança que guardamos do velho.
Com
essa onda de aplicativo, de tanta informação no smartphone, acabei
dizendo sim quando entrou uma mensagem, nos primeiros dias do ano,
perguntando se eu queria receber informações meteorológicas pelo
celular.
Achei que de tempos em tempos, ficaria sabendo de um relâmpago aqui,
uma trovoada ali, uma chuvinha acolá. Que nada, minutos depois, bastou o
tempo fechar um pouquinho, que veio o primeiro aviso: “Chuva intensa
nas zonas Sul e Leste da Capital, Embu-Guaçu e Mogi das Cruzes. Tem
raios e risco de granizo. Atinge cidades vizinhas. Busque abrigo”.
O que mais me assustou foi o tal do busque abrigo. Meu Deus!
Buscar abrigo onde? Dentro de casa, na Igreja, num bunker aqui na Lapa?
Fiquei quietinho dentro de casa esperando o toró – que veio mesmo –
passar. Usei a técnica da minha mãe, que além de ficar de ouvido em pé
ao canto das cigarras, dizia São Brás! a cada clarão dentro de casa.
Ela costumava também desligar todas as tomadas, esconder facas,
canivetes e lâminas de Gillette por perto, e ai do filho que pegasse um
objeto pontiagudo na hora do barulho.
Ando meio apavorado a cada mensagem da Defesa Civil no meu
smartphone: “Não enfrente alagamentos nem ande em áreas alagadas, não
fique, fique atento a inclinação de muros, a rachaduras e a níveis de
rio, se precisar saia do local”.
O que me assusta mais é quando vem o aviso não fique perto de
árvores, porque tem um chorão enorme bem na jardim em frente ao meu
escritório. O que me resta é fechar a janela e ficar aqui quietinho
esperando o mundo acabar.
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* Jornalista. Escritor
Fonte: https://www.cartacapital.com.br/opiniao/o-mundo-esta-acabando/ 21/01/2019
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