Estamos no ano novo. Enfim? Enfim. Jair Bolsonaro tomou posse
com cara e discursos de Jair Bolsonaro. Ele não se contentou em ser
figurante na vida. Veio, viu e venceu. A bola está com ele para o que
der e vier. O que vem por aí? No seu jargão despachado, erro é canelada.
Acerto, bola na rede. O que vai ser? Goleada? Show? Chocolate? Pelada?
Batalha campal? É o que começaremos a saber a partir de agora mesmo. Em
princípio, o estilo é mais Felipe Melo, se me faço entender, ou o google
e o youtube ajudam, do que Neymar. Mas, no passado, o criticado estilo
Dunga levou ao tetracampeonato mundial. É verdade que havia também
Bebeto e Romário na equipe. Serão Paulo Guedes e Sérgio Moro?
Bolsonaro elegeu-se pilotando uma plataforma comportamental
cristalina e contundente. Não ganhou corações com propostas econômicas.
Seduziu e encantou com discursos contra o comunismo, o “kit gay”, o
petismo, a ideologização das escolas, a corrupção e a ideologia de
gênero. Não por acaso, repetiu em discurso que combaterá a ideologia de
gênero e que nossa bandeira nunca será vermelha. Ele, que ganhou sem
tempo de televisão, salvo no segundo turno, empolgando as redes sociais
com aquilo que estas mais prezam, atitude, pegada, papo reto, agora
reina sobre as imagens e exibe-se para câmeras insaciáveis. Só Lula
falou tão diretamente ao imaginário popular quanto Bolsonaro. Governar é
outra coisa? Ou também será diferente? Na composição do ministério,
Bolsonaro escanteou os partidos, ainda que tenha ouvidos as tais
bancadas temáticas e Onyx Lorenzoni, não necessariamente nessa ordem, e
cercou-se de dois superministros, Guedes e Moro, um ministrão, Osmar
Terra, e 19 ministros, cerca de um terço fardado de terno e gravata.
O novo presidente subiu a rampa do Planalto com muitas ideias na
cabeça e a caneta no bolso para reescrever nossa história com slogans
que lembram o passado ainda fumegante. Para ele, índio quer ser como
nós, que, afirmou, temos um modo de vida melhor, escola deve ensinar
português, matemática e ciências, sendo sexo tema reservado a papai e
mamãe. De economia, garante não entender, mas confia no seu Posto
Ipiranga, o ultraliberal Paulo Guedes, que faz a oposição temer reformas
e o mercado vibrar com revolução. Quem será Bolsonaro como presidente?
Os que “secam o governo”, embora neguem, oscilam. Alguns o comparam a
Jânio Quadros, que renunciou menos de sete meses depois de alcançar o
Planalto. Outros o associam a Fernando Collor, que sofreu impeachment
depois de meses de agonia e sangramento público. Bolsonaro quer ser ele
mesmo e fazer história como um super-homem com a farda sob o tern.
O vencedor obviamente não se identifica com os derrotados. Tem o
próprio roteiro. Se foi nacionalista e estatizante no passado, pretende
ser liberal no futuro que começou ontem. Até que ponto? Vai privatizar
tudo como sonha o mercado e sugere o impassível Paulo Guedes, o que não
brinca em serviço e pretende esfaquear até o Sistema S? Ou vai proteger
as tais empresas estratégicas? Há quem considere essa expressão típica
de comunistas. Uma coisa é certa, se coisa certa há: Jair Bolsonaro vai
jogar no colo do Congresso Nacional uma cesta de propostas impopulares
de reformas. Os parlamentares vão ajudá-lo? Em troca de quê? A reforma
da Previdência vai dar as caras logo. A nova era chegou. Já era. Como
diria aquele outro, sendo otimista, aceita que dói mais, mas a dor pode
curar. Na posse, pouca gente, nenhum chefe de Estado das grandes
potências mundiais e muito rolo com a imprensa. A coisa promete muita
emoção.
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* Jornalista. Escritor. Sociólogo. Prof. Universitário. Cronista do Correio do Povo
Fonte: http://www.correiodopovo.com.br/blogs/juremirmachado/2019/01/11449/o-comeco-da-era-bolsonaro/ 02/01/2019
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