Tornar-se avó é um momento de felicidade com um toque de consciência dos aniversários que você perderá -
Escritora conta experiência de ser avó e ter a consciência de que seu tempo está se esgotando
Robin Marantz Henig*
Eu estava na sala de parto quando meu primeiro
neto nasceu. Eu sabia o que não fazer —não tocar, não falar — mas eu não
sabia exatamente o que eu deveria fazer. Eu me sentia grata por ter
sido convidada para fazer parte daquele momento e, ao mesmo tempo, com
medo de estragar as coisas de algum jeito.
O parto gira ao redor da mulher em trabalho de parto, é claro, e
todos os outros ao redor são coadjuvantes. Mas eu me sentia mais fora de
lugar do que eu esperaria.
Qual deveria ser o meu papel? De repente eu me vi lidando com a minha
própria incerteza, tentando encontrar o equilíbrio entre ficar
invisível e me tornar uma mãe coruja.
Hoje, três anos depois, eu vejo que aquela experiência é uma metáfora para a vida de avó:
a alegria de ver de perto seus filhos se tornarem pais junto com uma
sensação de mãos atadas enquanto a nova família se desenvolve.
Essa é a verdade amarga de ser avó:
essa é seu último “desenvolvimento”. Enquanto seus filhos e netos
crescem, eles devem crescer para longe, para que permaneçam e perdurem
mesmo depois que você se for. Mesmo que você os veja de perto, você
estará sempre do lado de fora, com seu nariz pressionado contra a janela
—e você tem cada vez mais consciência de quantas histórias deles
acontecerão sem você.
Eu aguardei aquele momento na sala de parto durante uma eternidade.
Conforme meus 60 anos se aproximavam, o desejo de ter um neto aumentava.
Eu queria segurar um bebê —e não qualquer bebê, mas um bebê com quem eu
pudesse ter aquela conexão primitiva que eu senti ao segurar minhas
duas filhas.
Eu queria o cheiro, o toque e o peso de um bebê nos meus braços; eu
queria que aquele pequeno ser me conhecesse, confiasse em mim e me
procurasse quando quisesse conforto; eu queria um bebê para dar forma e
sentido aos meus dias.
Não estava sozinha nesse desejo. Toda uma geração de mulheres fortes e
bem-sucedidas sentia algo parecido, ou pelo menos era assim que eu via o
mundo.
Mas por que eu me sentia assim? Estamos tentando reviver a nossa
própria juventude, quando nós e nossos bebês éramos um monte de
infinitas possibilidades? Esse nosso desejo é algo altruísta, uma
esperança de que nossos filhos experimentem a alegria de serem pais e
mães? Estamos apenas entediadas e à procura de algo com sentido para
fazer?
A vontade de ter um neto é, de muitas formas, como a vontade das
mulheres mais jovens de ter um bebê, com as mesmas incertezas sobre
fertilidade, desejo e compromisso. Mas com uma diferença brutal: essas
incertezas não são suas. Elas são do seu filho ou da sua filha, que
geralmente pensam que têm todo o tempo do mundo, enquanto nós, avôs e
avós, sabemos que nosso tempo está se esgotando.
Como a escritora Edwidge Danticat observou, o maior objetivo ao criar
uma criança é dar a ela tudo de que ela precisa para deixar você um
dia, “ficar maior, mais esperta, engatinhar, balbuciar, andar, falar,
fazer aniversários que você espera viver para ver”.
The New York Times
Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2019/01/avos-vivem-alegria-e-angustia-ao-pensar-no-futuro-dos-netos.shtml
Nunca tinha tido uma visão de como é estar do outro lado (avó), lendo esse texto entendo quando minha mãe as vezes esta triste.
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