Todo
governo tem seu núcleo duro. É aquele pequeno grupo ao qual um
presidente se recolhe informalmente, quando quer soltar a gravata, tomar
um uisquinho e falar mal da imprensa, sem medo de consequências. O
grupo pode ser pequenininho: o do Temer era um trio, formado pelo
Moreira Franco e o Padilha, que mantiveram a condição de amigos e
confidentes do presidente até o fim do seu governo, mesmo tendo que se
esquivar de algumas suspeitas flutuantes. Companheiros de descontração
não são necessariamente conselheiros, mas sabe-se muito sobre os
caminhos de um governo sabendo-se com quem ele anda, e conversa.
O
novo ministro e Relações Exteriores do Brasil, e o ministro mais
polêmico até agora, Ernesto Araújo, escreveu um artigo em inglês para a
revista New Criterium, americana de direita, sobre o que
acontece no País, que ele vê como uma intervenção da Divina Providência
na nossa História. Segundo Ernesto Araújo, foi Deus que proporcionou o
encontro entre o candidato Jair Bolsonaro, o novo moralismo nacional
evidenciado pela operação Lava Jato e pela prisão de corruptos, e as
ideias políticas de Olavo de Carvalho e econômicas de Paulo Guedes.
Esse
núcleo duro do novo governo representa suas crenças básicas, não se
sabe ainda se inflexíveis ou não. De qualquer maneira, Araújo nos deu
uma ideia do pequeno grupo a que Bolsonaro pode recorrer quando
precisar, ele mesmo, relaxar e entender o que se passa. Reuniões
informais do grupo seriam um problema, com Deus e Olavo de Carvalho
disputando o direito de escolher onde seriam os encontros – um impasse
decidido por Donald Trump, com sua determinação que seriam em
Mar-a-Lago, sua propriedade na Flórida, onde poderia jogar um pouco de
golfe.
Espera-se que o
Deus providencial de Ernesto Araújo interfira mais vezes na nossa
história. Há mais milagres a serem feitos, mesmo para quem acredita em
outros deuses.
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* Jornalista. Escritor.
Fonte: https://cultura.estadao.com.br/noticias/geral,foi-deus,70002664542 -03/01/2019
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