Por Andrés Ferrari Haines
Não pode haver mais dúvidas de que o futuro do mundo será diferente do que é
agora. Nas últimas semanas, tanto Vladimir Putin quanto Joe Biden afirmaram a
necessidade da criação de uma nova ordem internacional. Embora seja cedo para saber qual deles prevalecerá, por suas palavras, fica evidente que se trata de duas propostas excludentes.
O presidente dos EUA afirmou que é necessário um novo ordenamento mundial, pois o que foi estabelecido no pós-guerra e funcionou bem por 50 anos parece ter "perdido força". Biden acredita que seu país "tem a oportunidade de unir o mundo como nunca antes" e melhorar "as perspectivas de paz". Ele pediu aos compatriotas que lembrem que "somos os Estados Unidos da América, pelo amor de Deus. Pensem nisso. Somos os Estados Unidos" e que "nunca houve algo que tenhamos proposto e não tenhamos conseguido. Nem uma única vez na história dos Estados Unidos." Isso é uma necessidade porque "o que está em jogo é literalmente a democracia americana."
Para Biden, o "liderança americana é o que mantém o mundo unido. As alianças americanas são o que nos mantêm seguros", porque "somos a nação essencial. Os
Estados Unidos continuam sendo um farol para o mundo", reiterando autopercepções históricas do país e de seu lugar no mundo, que têm sido repetidas desde o surgimento dos Estados Unidos.
O que Biden deixou claro, assim, foi que a nova ordem mundial seria construída principalmente pelos Estados Unidos, assim como foi para o Ocidente após a Segunda Guerra Mundial e para o mundo inteiro após a queda da União Soviética.
O ministro russo Lavrov captou claramente a essência dessa mensagem e rapidamente apontou que "os discursos dos Estados Unidos sobre a criação de sua própria nova ordem mundial para toda a 'humanidade' se baseiam em um 'complexo de superioridade'" e que "a
chamada ordem baseada em regras do Ocidente provou não ser nada além de uma fachada para os interesses de Washington."
Segundo Lavrov, "as consignas mudam, da globalização e ocidentalização à americanização, universalização, liberalização etc. Mas a essência continua a mesma: subjugar todos os atores independentes à sua vontade, obrigá-los a agir de acordo com regras que beneficiem o Ocidente", porque as regras que inventam só "insistem que todos devem seguir, sempre que sirvam aos interesses americanos. Assim que outros se tornam um pouco mais
eficientes do que os próprios Estados Unidos, as regras mudam".
Portanto, desde a Rússia também se fala que é necessário construir uma nova ordem mundial, mas de forma e conteúdo diferentes dos propostos pelos Estados Unidos.
Dessa forma, Putin apontou que "a criação de um mundo multipolar, mais democrático, mais honesto e justo para a maioria das pessoas é inevitável e historicamente necessária". Esse ordenamento se baseia no fato de que existem "muitas civilizações. E nenhuma delas é melhor ou pior do que a outra. São iguais, como expressão das aspirações de suas culturas, tradições, povos".
Para Lavrov, esse ordenamento está em andamento porque "o Ocidente não conseguiu
colocar o mundo contra a Rússia", já que havia "anunciado em alto e bom som" que infligiria uma "derrota estratégica" após o início do conflito em fevereiro de 2022, deixando a Rússia como um "Estado pária" sem status global. Lavrov destaca que o contrário aconteceu, com a Rússia sendo convidada a participar de inúmeros eventos internacionais importantes sem restrições, como as cúpulas do G20 e dos BRICS.
Lavrov destaca especialmente que, no recente Fórum do Cinturão e Rota para a Cooperação Internacional realizado em Pequim, Putin "foi o convidado principal e falou
imediatamente após o anfitrião, o presidente da China". Nessa ocasião, Putin elogiou o projeto, afirmando que sua iniciativa de infraestrutura fazia parte dos esforços para criar "um mundo e um sistema multipolar mais justos".
Em sua cobertura do encontro, a CNN se alarmou porque a imprensa ocidental "em sua maioria nem mesmo o cobriu", destacando que, com os líderes da China e da Rússia, estavam 24 líderes nacionais e mais de cem delegações, em grande parte do Sul Global, todos discutindo como poderia ser a ordem mundial alternativa promovida pelo encontro entre
Putin e Xi.
As palavras do Putin estiveram em sintonia com as de Xi, que, sobre a base dos 154 países que aderiram formalmente ao projeto e os cerca de US$ 1 trilhão já investidos em quase todos os continentes do mundo, afirmou que "o que foi alcançado nos últimos 10 anos mostra que a cooperação do Cinturão e Rota está do lado certo da história. Representa o avanço de
nossos tempos e é o caminho certo a seguir".
Indagado pela CNN ao respeito, Craig Singleton, membro sénior do grupo de reflexão da Fundação para a Defesa das Democracias em Washington, afirmou: “a mensagem de Xi é clara – a atual ordem liderada pelos EUA não conseguiu trazer paz ou prosperidade a muitas nações em desenvolvimento, e uma nova ordem é necessária para enfrentar as questões de
hoje e antecipar os desafios de amanhã”.
Imagem do Correio do Povo
Fonte: no Observatório Internacional do Século XXI
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