segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Últimas da cena pop

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Últimas da cena pop  
Taylor Swift | Foto: Eva Rinaldi

Se o agro é pop, o sertanejo também é. O Brasil é sertanejo. Goiânia, Ribeirão Preto, Barretos e Sorocaba têm mais influência sobre a estética brasileira do que Rio de Janeiro, São Paulo e Nova York. É só ouvir o que roda nas rádios vinte e quatro horas por dia, no streaming e ver como a turma se veste e corta o cabelo. Não sou fã de música sertaneja. Era no tempo do sertanejo raiz, daquelas modas de viola sobre a saudade da roça. Depois que o sertanejo se tornou filosofia de autoajuda ou, como dizia o grande produtor musical Miranda, “música pra fazer filhinho”, não ouvi mais, “descontinuei”. Aquilo que o pessoal “performa” não me “entrega” emoção.

Não posso, contudo, ficar alheio ao que o mundo sertanejo produz. Assim como não fiquei imune à passagem de Taylor Swift pelo país. Não estou comparando a cantora com sertanejos, embora a sua música também não seja a minha praia. Sou um sexagenário. Minha praia não tem mais ondas. Jurava que a moça falaria no seu último show no Rio de Janeiro da morte da sua fã, dois dias antes, em função do calorão e da falta de estrutura adequada para atender as pessoas naquelas condições extremas. De viva voz, nenhuma palavra. Considerações profissionais devem ter levado a diva a passar reto. Como membro da velha guarda da vida, fiquei chocado. Chamo de isso de frieza, indiferença, desinteresse, etc. Ah, teve uma frase em rede social. Criticada por muita gente, a cantora convidou a família da jovem que morreu para o último show em São Paulo e tirou foto com ela no camarim.

No pop brasileiro, o sertanejo triunfante, que suplantou MPB, Bossa Nova e samba com uma fornada musical só, Zezé Di Camargo, 61 anos, soltou esta ao influenciador digital Lucas Guimarães: “Você, além de ser um cara bonito, não parece que você é um homossexual. Você é um cara normal. Qualquer pessoa que viu você na rua, ninguém vai falar [que é gay]. Tem homossexual que você olha e você sabe. Também não tenho nada contra”. Uau! Como avançar com uma vanguarda desse naipe? O que dizer a esse senhor?

O cliente, porém, sempre tem razão. O capitalismo de consumo percebeu que a crítica do gosto alheio era a doença senil do esteticismo. Passou a borracha. Todos os gostos são legítimos. Cada um que consuma o que quiser. O consumismo, parafraseando Guy Debord, não diz nada além de, o que é bom vende, o que vende é bom. O resto é pedantismo. E assim o sertanejo é muito bom, pois vende muito. Os fãs não se responsabilizam pelas frases dos seus ídolos, embora possivelmente as repliquem com frequência. Zezé Di Camargo mostrou que poderia ser intelectual orgânico do bolsonarismo homofóbico.

O círculo se fechou: se o que é bom vende, precisa ser vendido ainda mais para que os outros espaços se tornem bons e também vendam. Se o que vende é bom, por que não lhe dar meios de amplificação, o que aumentará as vendas e o fará melhor ainda? No reino da mercadoria toda crítica ao que vende não passa de troco, moeda podre do ressentimento armado. Zezé Di Camargo vende. Portanto, é bom. Aquilo que ele diz ou pensa não chega a atrapalhar os negócios, talvez até o fortaleça no seu nicho, que pode ser comparado a sete fatias de uma pizza de oito pedaços. Se vende, é pop!  
 
* Jornalista. Escritor. Prof Univeristário

Fonte: https://www.matinaljornalismo.com.br/matinal/colunistas-matinal/juremir-machado/ultimas-da-cena-pop/?utm_source=Assinantes&utm_campaign=821e483df2-EMAIL_CAMPAIGN_2023_11_24_10_43_COPY_01&utm_medium=email&utm_term=0_-1b55c5e9c3-%5BLIST_EMAIL_ID%5D&mc_cid=821e483df2&mc_eid=02eb3e5cec

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