Karen Berg
Guru espiritual de Madonna e Demi
Moore diz que famosos são pouco espiritualizados e acabam sendo julgados
pela imagem que passam
por Paula Rocha
BRASIL
"Os latino-americanos são naturalmente mais
espiritualizados do que os europeus e americanos", diz
Aos 68 anos, a americana Karen Berg é a mulher por trás da crescente popularidade da cabala no mundo. Em 1971, ela fundou com o marido, Rav Phillip Berg, o Kabbalah Centre, centro de estudos que possui hoje 50 filiais em diversos países, incluindo o Brasil – há uma unidade em São Paulo e outra no Rio de Janeiro. Desafiando uma tradição de quatro mil anos, que restringia o estudo da cabala a judeus ortodoxos homens, cultos e com mais de 40 anos, Karen decidiu aprender essa filosofia e transmitir seus ensinamentos para todos, independentemente de raça, sexo ou religião. Essa nova forma de aplicar a sabedoria milenar conquistou celebridades como Madonna, Demi Moore e Ashton Kutcher, que ajudaram a popularizar o Kabbalah Centre, mas também lançou luz sobre os problemas da instituição. Em 2011, o centro passou a ser investigado pelo governo americano por ter cometido irregularidades financeiras, incluindo a arrecadação de US$ 18 milhões para a construção de uma escola para meninas no Malauí, na África, que nunca saiu do papel. Karen é autora de dois livros, “Deus Usa Batom” e “Luz Simples”, mãe de quatro filhos e avó de 15 netos.
"Madonna busca a perfeição. Mercy e David (os filhos menores)
são as crianças mais bem-educadas que conheci"
"Demi Moore está bem melhor. Voltou a trabalhar e os
estudos da cabala a estão ajudando. Quantas pessoas
já não enfrentaram divórcios difíceis?"
Istoé -Por que decidiram abrir filiais do Kabbalah Centre no Brasil? Karen Berg -Cinco anos atrás, fiz uma
palestra no Rio de Janeiro e mil pessoas compareceram. Depois, fui a São
Paulo e praticamente o mesmo número de pessoas apareceu para me ouvir.
Pensei: “Se há tanta gente interessada em conhecer a cabala no Brasil,
por que não abrimos um centro?” Então abrimos. Não sabíamos o que
aconteceria. Mas deu certo. Hoje temos mais de 500 alunos presenciais
aqui. E eu acho que isso se deve também ao próprio povo brasileiro. Os
latino-americanos são naturalmente mais espiritualizados do que os
europeus e americanos.
Istoé -Chegou a conhecer alguma das celebridades brasileiras que frequentam o Kabbalah Centre aqui, como o jogador de futebol Ronaldo?
Karen Berg -Olha, eu ainda não tive
tempo de conhecer ninguém. Eu venho, passo poucos dias e já volto para
os Estados Unidos. Mas vejo de forma positiva a adesão das celebridades
daqui à cabala. Para mim, eles ajudam a divulgar a filosofia no País. E
quanto mais gente estudar e conhecer a cabala, melhor.
Istoé -Acha que a cabala seria tão popular sem o apoio de celebridades como Madonna, Demi Moore e Ashton Kutcher?
Karen Berg -É claro que o fato de a
Madonna estudar a cabala ajudou a popularizar a filosofia, pois mais
pessoas no mundo puderam ter contato com os ensinamentos por causa dela.
Mas, ao mesmo tempo, também dificultou a adesão dos que não gostam de
celebridades. Muita gente pensa: “Se os famosos estão estudando cabala,
deve ser algo pop e superficial.” As pessoas tendem a achar que as
celebridades são superficiais, mas é exatamente o contrário, elas não
são superficiais. A Madonna, por exemplo, é uma das pessoas mais
profundas, cultas e espiritualizadas que já conheci. Mas o público a
confunde com a “persona” que ela representa nos shows.
Istoé -Como é a sua relação com Madonna?
Karen Berg -Madonna é uma amiga
próxima. Nós nos vemos sempre no Shabbat (dia da semana sagrado para os
judeus), aos sábados, em Nova York, exceto quando ela está em turnê.
Para mim, ela é uma das personalidades mais admiráveis do mundo do
entretenimento. Ela está há três décadas na ativa, e ainda assim
consegue cativar pessoas no mundo inteiro. Cada vez que ela sobe no
palco, seu show é absolutamente perfeito. Madonna é muito
perfeccionista. Ela busca perfeição na carreira e em casa, com seus
filhos. Mercy e David são as crianças mais bem-educadas que já conheci.
E, além disso, ela sabe como ser amiga. Ela já está no Kabbalah Centre
há 15 anos.
Istoé -Um dos principais ensinamentos da cabala é aprender a lidar com o ego. Como ensinar isso a uma celebridade?
Karen Berg -Da mesma forma que
ensinaria a alguém comum. Uma celebridade não é diferente. A única
diferença são os números em volta dela, o dinheiro que ela movimenta com
seu trabalho. Mas, na intimidade, a celebridade enfrenta os mesmos
problemas que qualquer um de nós. Com o agravante de que ela é mais
cobrada e mais vigiada do que um anônimo. Por isso também é mais difícil
para as celebridades serem espiritualizadas. Mas, com dedicação,
qualquer um pode passar por cima de seu ego, aprender a fazer algo pelos
outros e encontrar nisso a felicidade.
Istoé -A sra. esteve com Demi Moore após a separação de Ashton Kutcher? Ela procurou a cabala para se recuperar da depressão?
Karen Berg -Sim, estive com Demi
recentemente e ela está bem melhor agora. Veja, ela passou por um
momento terrível e agora está voltando a ser ela mesma. Voltou a
trabalhar e, sem dúvida, seus estudos da cabala a estão ajudando a
superar essa fase ruim. Acho que ela vai sair dessa bem melhor, e até
mais forte. Todos nós passamos por fases ruins. Quantas pessoas já não
enfrentaram divórcios difíceis? Ela está passando pelos mesmos
obstáculos que muitas outras pessoas já passaram, com a diferença de ter
todos os olhos do mundo voltados para ela.
Istoé -Como a cabala pode ajudar em um processo de separação?
Karen Berg -Quando uma pessoa é deixada
pelo ser amado, ou quando um amigo te trai, a cabala nos ensina que
devemos nos perguntar: “O que eu fiz para gerar isso?” Para a cabala,
não existe negatividade no mundo. A negatividade está dentro de nós.
Toda vez que nos encontramos em uma situação ruim, em que parece haver
somente aspectos negativos, é porque precisamos mudar algo em nós ou
porque estamos passando por um teste.
Istoé -Em 2004, seu marido, Rav, teve um derrame. Foi difícil passar por essa situação e seguir tocando o Kabbalah Centre sozinha?
Karen Berg -Difícil, não. Foi
devastador. Eu lembro de estar sentada na sala de espera do hospital
naquela noite e perguntar para Deus: “O que você quer que eu faça
agora?” O médico chegou a mim e disse que Rav havia sofrido um derrame
com danos cerebrais graves. Isso significava que ele poderia ficar
paralisado ou em estado vegetativo, mas que provavelmente não
sobreviveria. Eu fiquei louca e disse ao doutor que Rav não iria morrer,
não naquele momento. Dias depois, o médico me disse que Rav
sobreviveria.
Istoé -Como ele está hoje?
Karen Berg -Quem o vê não acredita que
ele tenha passado por isso. Rav fala, anda, viaja e continua
trabalhando. Não no mesmo ritmo de antes, claro. Mas está a anos-luz do
primeiro prognóstico. E essa experiência foi determinante para que eu
soubesse que precisava mudar. Hoje sou mais forte e devo isso ao fato de
não ter ficado em casa me lamentando, mas sim por ter continuado com
nossa missão, fazendo o meu trabalho e o trabalho do Rav, junto de
nossos filhos.
Istoé -Um de seus netos tem síndrome de Down. Como a família recebeu essa notícia?Karen Berg -No começo foi muito
difícil. Meu filho Michael e sua mulher, Monica, ficaram atônitos.
Ninguém na família sabia como lidar com essa situação, nem como lidar
com uma criança com necessidades especiais. Meu neto ficou um mês e meio
no hospital, para que meu filho e minha nora aprendessem a cuidar dele,
dar comida. Hoje ele está com 9 anos e é uma criança maravilhosa,
feliz. Agora ele está aprendendo a ler. Não esperamos muito dele, apenas
que seja quem ele é e que seja feliz. Muita gente pensa que a vida não
joga desafios no colo de quem é espiritualizado. Na verdade, é o
contrário. A vida traz mais desafios para quem é muito seguro de suas
crenças para testá-las.
Istoé -Quando começou o Kabbalah Centre sofreu preconceito por ser mulher?
Karen Berg -Eu estava disposta a
estudar e a ensinar uma filosofia que durante séculos havia sido
estudada em segredo apenas por homens judeus com mais de 40 anos. Para
eles, era uma afronta uma mulher querer estudar e, pior ainda, ensinar a
cabala. Quando decidimos abrir o Kabbalah Centre, nos mudamos para
Jerusalém. Eu tinha duas filhas de um casamento anterior, cheguei a
Jerusalém com Rav sem emprego, sem falar hebraico e sem conhecer
ninguém. E foram os melhores anos da minha vida porque só tínhamos um ao
outro, e tínhamos certeza de nosso propósito na Terra.
Istoé -Por que considera tão importante as mulheres estudarem a cabala?
Karen Berg -As mulheres são
naturalmente mais espiritualizadas do que os homens. Então, se elas
aprenderem a cabala, será mais fácil transmitir esse conhecimento para
as outras pessoas, como seus maridos e filhos. A mulher é a responsável
pela espiritualidade em sua casa. Elas se interessam mais por esse
assunto e estão mais dispostas a se dedicar a esse aprendizado.
Istoé -Então por que as principais religiões são comandadas por homens?Karen Berg -Boa pergunta. A maioria das
mulheres sabe intuitivamente que existe uma força maior no universo. Já
os homens precisam de rezas e restrições de comportamento para se
espiritualizar. Eles, por natureza, são mais promíscuos e gananciosos do
que as mulheres. E por isso precisam de mais restrições. Vemos mais
padres, pastores e líderes espirituais masculinos porque os homens
precisam se identificar com aquele que está pregando. Precisam de um
modelo masculino como guia espiritual para chegarem ao mesmo patamar em
que as mulheres estão desde o nascimento.
Istoé -No ano passado, o
Kabbalah Centre foi investigado pelo governo americano por
irregularidades financeiras, entre elas o uso das doações ao projeto
“Raising Malawi”, que nunca saiu do papel. O que tem a dizer sobre isso?
Karen Berg -Nós nunca fomos contatados
pelo governo americano a respeito disso. Eles nos pediram para enviarmos
registros financeiros, declarações de impostos, etc. Nós enviamos e,
desde então, não tivemos nenhum retorno deles. É um bom sinal. Já se
passou quase um ano e meio e continuamos com nosso trabalho normalmente.
Até onde sei, a “Raising Malawi” fez um ótimo trabalho cuidando de
crianças órfãs, oferecendo-lhes comida, água potável e cuidados médicos.
Istoé -É verdade que, a despeito do voto de pobreza feito pela sra. e seu marido, o Kabbalah Centre possui bens de luxo em seu nome?Karen Berg -Primeiro, não fizemos voto
de pobreza, mas sim voto de modéstia. E vivemos conforme esse voto.
Segundo, essa história de mansões e carrões é mentira. Minha casa é
comum. Confortável, claro, mas normal. Igual à de qualquer família de
classe média americana. E, quando eu viajo, vou de classe econômica,
igual a todo mundo. Não tenho jatinho particular.
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Fonte: http://www.istoe.com.br/assuntos/entrevista/detalhe/200537_AS+CELEBRIDADES+NAO+SAO+SUPERFICIAIS+
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Fonte: http://www.istoe.com.br/assuntos/entrevista/detalhe/200537_AS+CELEBRIDADES+NAO+SAO+SUPERFICIAIS+
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