Juremir Machado da Silva*
Entre nós, caro leitor, esse negócio de
chamar Dilma Rousseff de presidenta é um mico tão grande quanto dizer
off e sale em lugar de liquidação. É impressionante a disciplina dos
petistas e até dos seus aliados. Todos dizem presidenta. Deve ser o tal
de centralismo democrático. Uma patacoada. Está certo que o gênero
masculino, o homem branco, fez as regras e impôs o uso. Algumas,
entretanto, não expressam qualquer machismo ou é necessário muito
esforço para enxergá-lo na fala. Presidente é apenas uma palavra que
serve para os dois gêneros. Se não é assim, quando eu for eleito, quero
ser chamado de "presidento". Bobagem não tem limite. Agora, foi
noticiada a aprovação de lei federal determinando "flexão de gênero
correspondente ao sexo" em diplomas.
Essa papagaiada consumiu cinco anos no Senado e dois anos na Câmara dos Deputados. Não bastasse ter de ouvir os políticos dizendo "trabalhadores e trabalhadoras", ouviremos e leremos a partir de agora "senhora bacharela". É puro desconhecimento da Língua Portuguesa. Evanildo Bechara, membro da Academia Brasileira de Letras e um dos responsáveis pelo estrago chamado de Acordo Ortográfico, esse que liquidou o trema, teve um momento de lucidez ao explicar: "A lei confunde título com tratamento. Os certificados e diplomas concedem o título de doutor. Na hora em que você vai tratar o diplomado, é que muda o tratamento para doutor ou doutora conforme o sexo. Dizer que um diploma concede título de mestra é erro de redação. A culpa nem é da presidente, a ideia veio do Congresso; mas faltou orientação a ela. Além disso, nos regimes democráticos, os governos não interferem na língua. Quem fez isso foi Mussolini". Uau!
Como a ABL não é democrática, Benito Bechara permitiu-se dar uma esculhambada na língua a ponto de revoltar alguns intelectuais portugueses que se recusam a adotar o tal acordo. A presidente da ABL, Ana Maria Machado, indignada com a asneira, apresentou uma sugestão: "Que sejam então proibidos nomes como Juraci e Alcione, que a gente nunca sabe se é homem ou mulher". Pensando bem, sou contra. Tenho uma ideia melhor, muito mais sofisticada e coerente. Se for menina, Alciona. Se for menino, Alciono. Abaixo esse "e" que mistura sexos. Queremos as coisas bem claras. Ou, quem sabe, reservamos o "e" para os demais gêneros, que também vão acabar pedindo flexão própria. Presidento, homem. Presidenta, mulher. Presidente, os dois. Vai ser dose ler num diploma "bacharela em Comunicação". Será o diploma do analfabeto.
Sou a favor da língua viva. Não tenho preconceito com "a nível de", embora dê alguma coceira. Língua é convenção. Muda todo dia. Tem mudanças, porém, que convencem de cara. Outras, não. É o meu lado reacionário. Sou a favor do plural. Como será que o Congresso Nacional vai resolver o problema da designação de conjuntos formados por uma mulher e vários homens? Hoje, diz-se, guris, levantem-se. É altamente discriminatório com a guria desse grupo fictício. Pelo jeito, seremos obrigados a dizer os guris e a guria, por favor, levantem-se. A guerra dos sexos vai continuar. Na língua. Bacharela!
--------------------------Essa papagaiada consumiu cinco anos no Senado e dois anos na Câmara dos Deputados. Não bastasse ter de ouvir os políticos dizendo "trabalhadores e trabalhadoras", ouviremos e leremos a partir de agora "senhora bacharela". É puro desconhecimento da Língua Portuguesa. Evanildo Bechara, membro da Academia Brasileira de Letras e um dos responsáveis pelo estrago chamado de Acordo Ortográfico, esse que liquidou o trema, teve um momento de lucidez ao explicar: "A lei confunde título com tratamento. Os certificados e diplomas concedem o título de doutor. Na hora em que você vai tratar o diplomado, é que muda o tratamento para doutor ou doutora conforme o sexo. Dizer que um diploma concede título de mestra é erro de redação. A culpa nem é da presidente, a ideia veio do Congresso; mas faltou orientação a ela. Além disso, nos regimes democráticos, os governos não interferem na língua. Quem fez isso foi Mussolini". Uau!
Como a ABL não é democrática, Benito Bechara permitiu-se dar uma esculhambada na língua a ponto de revoltar alguns intelectuais portugueses que se recusam a adotar o tal acordo. A presidente da ABL, Ana Maria Machado, indignada com a asneira, apresentou uma sugestão: "Que sejam então proibidos nomes como Juraci e Alcione, que a gente nunca sabe se é homem ou mulher". Pensando bem, sou contra. Tenho uma ideia melhor, muito mais sofisticada e coerente. Se for menina, Alciona. Se for menino, Alciono. Abaixo esse "e" que mistura sexos. Queremos as coisas bem claras. Ou, quem sabe, reservamos o "e" para os demais gêneros, que também vão acabar pedindo flexão própria. Presidento, homem. Presidenta, mulher. Presidente, os dois. Vai ser dose ler num diploma "bacharela em Comunicação". Será o diploma do analfabeto.
Sou a favor da língua viva. Não tenho preconceito com "a nível de", embora dê alguma coceira. Língua é convenção. Muda todo dia. Tem mudanças, porém, que convencem de cara. Outras, não. É o meu lado reacionário. Sou a favor do plural. Como será que o Congresso Nacional vai resolver o problema da designação de conjuntos formados por uma mulher e vários homens? Hoje, diz-se, guris, levantem-se. É altamente discriminatório com a guria desse grupo fictício. Pelo jeito, seremos obrigados a dizer os guris e a guria, por favor, levantem-se. A guerra dos sexos vai continuar. Na língua. Bacharela!
* Sociólogo. Prof. Universitário. Escritor. Cronista do Correio do Povo. Tradutor.| juremir@correiodopovo.com
Crédito: ARTE PEDRO DREHER SOBRE FOTOS CP MEMÓRIA .br
Fonte: Correio do Povo on line, 18/04/2012
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