José Eustáquio Diniz Alves*
[EcoDebate]
A população mundial atingiu a maior taxa de crescimento da história da
humanidade na década de 1960, cerca de 2,1% ao ano. Foi nesta época que
se começou a se difundir a visão catastrófica da “bomba populacional”.
De lá para cá, o ritmo de crescimento demográfico tem diminuído, estando
em torno de 1,1% ao ano, no quinquênio 2010-15. Ou seja, a chamada
“bomba populacional” está sendo desarmada. A população mundial está
crescendo menos e vivendo mais. A esperança de vida ao nascer era de 48
anos em 1950-55 e subiu para 68 anos no quinquênio 2005-10.
Mas enquanto a população como um todo cresce em ritmo mais lento, a
população idosa cresce num ritmo mais veloz, pois a grande onda de
nascimentos e de filhos sobreviventes depois da Segunda Guerra Mundial,
especialmente das décadas de 1950 e 1960, está se transfomando em uma
grande onda de idosos que chegam à “terceira idade” agora no século XXI.
Alguns autores estão chamando este fenômeno de tsunami grisalho (grey
tsunami).
De fato, existiam no mundo 204 milhões de pessoas com 60 anos e mais
de idade, em 1950. Este número passou para 610 milhões em 2000, para 760
milhões em 2010 e deve atingir 1.378.945.000 (um bilhão e trezentos e
setenta e oito milhões e 945 mil) idosos em 2030. Enquanto a população
total deverá apresentar um crescimento de pouco mais de 3 vezes entre
1950 e 2030, a população idosa (60 anos e +) deverá apresentar um
crescimento de quase 8 vezes, no mesmo período. Ou seja, esta onda de
tamanho quase 8 vezes maior está sendo chamada de tsunami grisalho.
Em 1950 o total da população mundial era de 2,532 bilhões de
habitantes. Em 2075, a divisão de população da ONU projeta que o mundo
terá 2,539 bilhões de pessoas com 60 anos e mais de idade. Ou seja,
haverá mais idosos no mundo em 2075 do que toda a população mundial de
1950.
Nos países desenvolvidos a população de 60 anos e mais era de 95
milhões em 1950, passando para 269 milhões em 2010, devendo chegar a 370
milhões em 2030. Nos países em desenvolvimento a população idosa era de
109 milhões de habitantes em 1950, passou para 491 milhões em 2010 e
deve chegar a 1 (um) bilhão de pessoas em 2030. Portanto, a grande
maioria dos idosos (60 anos e +) do mundo estarão localizados nos países
em desenvolvimento.
Paralelamente ao tsunami grisalho houve uma queda das taxas de
fecundidade no mundo. Isto significa que além da redução do ritmo de
crescimento demográfico passa a haver uma mudança da estrutura etária da
população, com o progressivo estreitamento da base e o alargamento do
topo da pirâmide populacional. Ou dito em outros termos, a queda da
fecundidade acelera o processo de envelhecimento populacional. Portanto,
o desafio não é apenas o fato de haver mais idosos na população, mas
também o fato de haver menos jovens e adultos para cuidar e contribuir
com a manutenção do padrão de vida desta população idosa.
Em 1950, as pessoas com 60 anos e mais de idade representavam apenas
8% da população mundial este número passou para 11% em 2010 e deve
chegar a 17% em 2030. Nos países desenvolvidos, as pessoas com 60 anos e
mais de idade representavam 12% da população total em 1950, passando
para 22% em 2010 e devendo chegar a 29% em 2030. Nos países em
desenvolvidos, as pessoas com 60 anos e mais de idade representavam
apenas 6,3% da população total em 1959, passando para 9% em 2010 e
devendo chegar a 14,4% em 2030.
Portanto, os países em desenvolvimento vão ter o maior volume de
pessoas idosas, mas são os países desenvolvidos que já apresentam o
maior percentual de idosos na população. Isto é, o processo de
envelhecimento populacional é universal, mas os países desenvolvidos vão
ter uma carga de dependência demográfica mais pesada de idosos nas
próximas décadas. O tsunami grisalho vai atingir primeiro os países
desenvolvidos e, algumas décadas mais à frente, os países em
desenvolvimento.
O tamanho da onda do envelhecimento vai variar conforme os países e
as regiões. Mas ninguém vai ficar imune ao tsunami grisalho, pois esta
onda vai afetar a dinâmica econômica e demográfica de todo o mundo, que
precisa, desde já, se preparar para lidar com este fenômeno inevitável.
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*José Eustáquio Diniz Alves,
Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor
titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da
Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus
pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
Fonte: http://www.ecodebate.com.br/2012/04/20/
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