Efraim Rodrigues*
Cresci ouvindo minha mãe falar “- Odeio maquinas!” Elas eram todas
responsabilidade de meu pai, excluindo sua, até hoje querida, máquina de
escrever.
Ambientalistas de variadas extirpes nutrem igual impaciência
tecnológica. Adoramos ouvir o idilismo ingênuo de ” Casa no campo” e
imaginar como seríamos felizes morando em uma casa de tamanho ideal de
pau a pique e sapê.
Sem esquecer que o frugalismo é o único caminho que pode nos tirar da
enrascada ambiental em que nos metemos, é necessário também lembrar
assim como nós fizemos as ferramentas, também elas nos fizeram.
O cérebro humano só pôde desenvolver-se em sua plenitude quando
passamos a contar com a densidade energética da alimentação carnívora,
mas como um animal que não corre muito, não é muito forte e não voa pode
caçar ? Caça com as ferramentas que inventou, assim como coleta também,
usando cestos, outra ferramenta que nos moldou como espécie. O
cozimento dos alimentos influenciou até nossa anatomia craniana, com a
redução de nossa mandíbula abrindo espaço para o neocórtex, a sede do
pensamento subjetivo. Até nosso polegar opositor, que nos difere de
outros primatas, foi se desenvolvendo para melhorar nossa destreza com
lanças e arcos.
A evolução da espécie humana não parou um só segundo nos últimos cem
mil anos, e nem sempre ela nos brindou com um presentão como um
neocórtex. Recentemente ganhamos também um barrigão. Veja um gráfico
interessante em meu blog sobre os principais avanços tecnológicos dos últimos cem anos. A maioria deles é gerador de barriga.
Para onde vamos então, interagindo com máquinas que criam máquinas cada vez mais rápido ?
Será o futuro um lugar parecido com o filme Matrix, em que
colocaremos uma porta USB nos bebês assim que nascem (espero que até lá
resolvam esta desgraça do plug USB estar sempre do lado errado), ou
talvez tenhamos implantes em nossos cérebros, como os Borgs de Jornada
nas Estrelas ?
Uma preocupação de prazo mais curto em nossa relação com as máquinas é
para onde elas levarão o planeta. Se por um lado as máquinas estão
fazendo mais com menos (também coloquei em meu blog um gráfico sobre a
evolução do gasto de energia em computadores), também nunca tantos
dependeram de tantas máquinas, e seu uso em grande escala causa uma
série de problemas ambientais.
No entanto, colocar a culpa na tecnologia é um modo maroto de lavar as mãos. Toda tecnologia é criada por alguém e para alguém.
E minha mãe tem certeza que ela não é esta pessoa.
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* Efraim Rodrigues,
Ph.D. (efraim@efraim.com.br), Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor
pela Universidade de Harvard, Professor Associado de Recursos Naturais
da Universidade Estadual de Londrina, consultor do programa FODEPAL da
FAO-ONU, autor dos livros Biologia da Conservação e Histórias
Impublicáveis sobre trabalhos acadêmicos e seus autores. Também ajuda
escolas do Vale do Paraíba-SP, Brasília-DF, Curitiba e Londrina-PR a
transformar lixo de cozinha em adubo orgânico e a coletar água da chuva.
É professor visitante da UFPR, PUC-PR, UNEB – Paulo Afonso e Duke – EUA
Fonte: http://www.ecodebate.com.br/2012/04/16/
Imagem da Internet
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