Juremir Machado da Silva*
Não, não é do Brasil que vou falar, mas dos
Estados Unidos da América. É o país da impunidade. Pensei nisso, outro
dia, revendo o filme de Charles Ferguson, "O Trabalho Interno", que
levou o Oscar 2011 de Melhor Documentário. Se Hollywood consegue vender
seus próprios defeitos como grandes obras, os Estados Unidos não
desperdiçam matéria-prima. "O Trabalho Interno" mostra o que, hoje, todo
mundo sabe, em grande parte por sua disseminação: os artífices da
grande crise de 2008, a que colocou o império de joelhos - no Brasil foi
só uma "marolinha" -, jamais se deram mal. Os grandes executivos que
produziram a quebradeira receberam as suas gratificações milionárias,
mesmo comendo um pedaço do bolo financiado pelo Estado com dinheiro do
contribuinte para evitar um estrago ainda maior, e seguiram em frente.
Muitos desses executivos "visionários" arranjaram emprego nos altos escalões do governo Obama. Nem sequer fizeram um estágio na cadeia. Nota de rodapé: o Portal G1, das Organizações Globo, noticiou com isenção, grandeza e cosmopolitismo a vitória de Ferguson: "''Lixo Extraordinário'' perde o Oscar para ''O Trabalho Interno''". Depois, nós, os gaúchos, é que somos bairristas. Pois é, o tempo passou, a crise anda lá pela Grécia, os americanos continuam tentando tirar o pé do barro, desvalorizando o dólar e sacaneando as economias emergentes, arrancando repetidos protestos de Dilma Rousseff, e tudo parece como sempre foi no planeta. Já tem liberal dizendo que a crise mostrou apenas o fracasso do Estado do bem-estar social europeu e que a salvação está no modelo liberal americano de gestão globalizada.
"O Trabalho Interno" dá nome aos bois. Mostra a cara de cada malandro e diz o quanto cada um embolsou. Era a turma que louvava o Estado mínimo. O documentário indica também quem arranjou uma boa teta na administração Obama. A quadrilha que quebrou o sistema contava com banqueiros, lobistas, professores universitários, políticos, jornalistas, economistas e os tais CEO top de linha. Um bando de larápios engravatados, cínicos, imperturbáveis e sem nada a perder. Aliás, com tudo a ganhar. No jargão deles, em qualquer cenário. Passado o tsunami, estão todos felizes, empregados, dando lições de economia, ganhando por consultorias fabulosas e certos de que a intervenção do Estado na economia deve ser mínima, exceto quando for necessário salvar grandes bancos, grandes empresas e seus grandes salários de uma crise fabricada.
Cadeia, nos Estados Unidos, só para ladrão de galinha. Ou para algum colarinho branco muito desavisado. A nata dos gestores permaneceu acima dessas baixarias judiciais e punitivas. O Brasil precisa reagir. Sugiro que faça uma reclamação aos órgãos internacionais competentes. Não botamos nenhum mensaleiro na cadeia até agora. Os Estados Unidos não botaram nenhum fazedor de crise em cana. Estamos no mesmo barco. Como os Estados Unidos são mais poderosos, podem, no entanto, saltar à nossa frente, tomando-nos um qualificativo que parecia exclusivo do nosso modo de ser: país da impunidade.
----------------------------- Muitos desses executivos "visionários" arranjaram emprego nos altos escalões do governo Obama. Nem sequer fizeram um estágio na cadeia. Nota de rodapé: o Portal G1, das Organizações Globo, noticiou com isenção, grandeza e cosmopolitismo a vitória de Ferguson: "''Lixo Extraordinário'' perde o Oscar para ''O Trabalho Interno''". Depois, nós, os gaúchos, é que somos bairristas. Pois é, o tempo passou, a crise anda lá pela Grécia, os americanos continuam tentando tirar o pé do barro, desvalorizando o dólar e sacaneando as economias emergentes, arrancando repetidos protestos de Dilma Rousseff, e tudo parece como sempre foi no planeta. Já tem liberal dizendo que a crise mostrou apenas o fracasso do Estado do bem-estar social europeu e que a salvação está no modelo liberal americano de gestão globalizada.
"O Trabalho Interno" dá nome aos bois. Mostra a cara de cada malandro e diz o quanto cada um embolsou. Era a turma que louvava o Estado mínimo. O documentário indica também quem arranjou uma boa teta na administração Obama. A quadrilha que quebrou o sistema contava com banqueiros, lobistas, professores universitários, políticos, jornalistas, economistas e os tais CEO top de linha. Um bando de larápios engravatados, cínicos, imperturbáveis e sem nada a perder. Aliás, com tudo a ganhar. No jargão deles, em qualquer cenário. Passado o tsunami, estão todos felizes, empregados, dando lições de economia, ganhando por consultorias fabulosas e certos de que a intervenção do Estado na economia deve ser mínima, exceto quando for necessário salvar grandes bancos, grandes empresas e seus grandes salários de uma crise fabricada.
Cadeia, nos Estados Unidos, só para ladrão de galinha. Ou para algum colarinho branco muito desavisado. A nata dos gestores permaneceu acima dessas baixarias judiciais e punitivas. O Brasil precisa reagir. Sugiro que faça uma reclamação aos órgãos internacionais competentes. Não botamos nenhum mensaleiro na cadeia até agora. Os Estados Unidos não botaram nenhum fazedor de crise em cana. Estamos no mesmo barco. Como os Estados Unidos são mais poderosos, podem, no entanto, saltar à nossa frente, tomando-nos um qualificativo que parecia exclusivo do nosso modo de ser: país da impunidade.
*Sociólogo. Escritor. Prof. Universitário. Cronista do Corrio do Povo
juremir@correiodopovo.com.br
Fonte: Correio do Povo on line, 19/04/2012
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