Paul Krugman*
Por dois anos, maioria das autoridades econômicas foi refém de uma doutrina destrutiva, a austeridade
Primeiro a boa notícia: as pessoas enfim começam a admitir que as
medidas de austeridade não estão funcionando. Agora a má notícia: parece
haver pouca probabilidade de mudança de rumo no curto prazo.
Abril foi o mês em que a fadinha da confiança morreu.
Pela maior parte dos dois anos passados, a maioria das autoridades
econômicas na Europa e muitos políticos e sabichões nos EUA estiveram
cativos de uma doutrina econômica destrutiva.
De acordo com ela, os governos deveriam responder a uma severa depressão
econômica não da maneira que os manuais de economia recomendam
-gastando mais para compensar a queda na demanda privada-, e sim por
meio de austeridade fiscal.
Os críticos alertaram desde o começo que austeridade, em um momento de depressão, só agravaria ainda mais o problema.
Mas os "austeros" insistiam em que o oposto ocorreria. Por quê? Por
causa da confiança! "Medidas inspiradoras de confiança fomentarão, e não
prejudicarão, a recuperação econômica", declarou Jean-Claude Trichet,
então presidente do Banco Central Europeu (BCE).
Quanto à doutrina: apelos que mencionam as maravilhas da confiança
teriam parecido naturais para o presidente Herbert Hoover -e confiar na
fadinha da confiança funcionou tão bem para a Europa quanto havia
funcionado nos EUA durante a presidência de Hoover (1929-1933). Em toda a
periferia da Europa, da Espanha à Letônia, políticas de austeridade
criaram crises econômicas dignas da depressão.
Nada disso deveria surpreender, já que há muito tempo é evidente que políticas de austeridade jamais cumprem o que prometem.
Mas os líderes europeus passaram anos negando o óbvio, insistindo em que
suas políticas estavam para começar a funcionar, e celebrando supostos
triunfos, mesmo que as provas concretas quanto a eles fossem quase
invisíveis.
Um exemplo notável é a Irlanda, cujos sofridos habitantes foram
mencionados como exemplo do sucesso das medidas de austeridade no começo
de 2010 e no fim de 2011.
Nas duas ocasiões, o suposto sucesso se provou miragem; passados três
anos da adoção de seu programa de austeridade, a Irlanda ainda não
demonstrou qualquer sinal de recuperação real de uma crise que conduziu o
índice de desemprego a quase 15%.
No entanto, alguma coisa mudou nas últimas semanas. Diversos eventos -o
colapso do governo holandês devido a uma proposta de pacote de
austeridade; o forte desempenho de François Hollande, cuja retórica é
amenamente oposta à austeridade, no primeiro turno da eleição
presidencial francesa; e um relatório econômico que mostra que o Reino
Unido está em situação pior, na crise atual, do que a que enfrentou nos
anos 30- parecem enfim ter derrubado a muralha da negação. Subitamente,
todo mundo passou a admitir que a austeridade não está funcionando.
A questão agora é determinar o que farão a respeito. E a resposta, temo, será: "Não muito".
Embora os austeros pareçam ter abandonado suas esperanças, não parecem ter abandonado o medo.
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* Econonomista norte-americano. Autor de diversos livros, também é desde 2000 colunista do The New York Times.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
Fonte: Folha on line, 28/04/2012
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