Juremir Machado da Silva*
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Já não pode tapar o sol com a peneira: o
golpe de 1964 foi dado oficialmente com o apoio dos Estados Unidos. Há
coisas que se sabe, mas ficam mais interessantes quando as provas se
tornam irrefutáveis. Pode-se ler o passado com certo humor. Por exemplo,
como se produz um golpe por interesse externo, convencendo a todos que
se trata de interesse interno. Ou como se inventam as condições para a
imposição de uma ditadura em nome da democracia. Tudo isso leva a velhas
perguntas. Por que Jango não resistiu? Porque tomou conhecimento da
Operação Brother Sam, o dispositivo militar americano para intervir, se
necessário, a botinadas no Brasil.
Um comunicado do Departamento de Estado para o embaixador americano no Brasil, o engajado Lincoln Gordon, pouco antes do golpe diz: "As seguintes decisões foram tomadas de modo a dar apoio militar e logístico às forças anti-Goulart. Navios petroleiros darão apoio à esquadra, partindo da base de Aruba. Força naval de combate foi ativada para exercícios na costa Sul do Brasil, destino inicial é o Porto de Santos. Força naval composta por um porta-aviões, quatro destróieres e cruzadores de apoio. De Porto Rico serão embarcados 110 toneladas de munição, armas leves e gás lacrimogêneo para contenção e controle de massas". Uma forcinha aos amigos!
Um telegrama da CIA é ainda mais explícito: "João Goulart deve ser removido com urgência. Os governadores de São Paulo e Minas Gerais finalmente chegaram a um acordo. A revolução será iniciada pelas tropas de Mourão Filho". Tudo dominado. Castelo Branco comia na mão de Vernon Walters. A imprensa golpista ajudava a criar o clima adequado. Logo depois do serviço sujo feito começaram as prisões arbitrárias. Assessor da Casa Branca, McGeorge Bundy, liga para o presidente Johnson:
Bundy - Há uma mensagem que queremos mandar para Castelo Branco por ocasião da sua posse. Existe uma diferença entre Gordon, que quer ser bem entusiasta, e nosso ponto de vista na Casa Branca, de que o senhor deve ser cauteloso enquanto esse cara está botando gente em cana.
Lyndon Johnson - Acho que tem gente que precisa ir em cana aqui e lá também.
Bundy alerta que a mensagem será publicada. Johnson dá uma resposta elegantemente coloquial: "Estou me lixando". Robert Bentley, assessor de Lincoln Gordon no Brasil, encontrou uma excelente justificativa para a resposta de Johnson: "Ele era do Texas. Prendem gente no Texas". Está explicado. Finalmente, a história se esclarece. Esse mesmo Bentley, entrevistado depois do fim da ditadura que ajudou a implantar, diante das evidências de tortura e do atropelo total à democracia, saiu-se com um comentário exuberante: "Lamento, lamento, de qualquer maneira". Que salafrário! Caro leitor, perca um capítulo da sua novela ou deixe Michel Teló de lado por um instante e veja o documentário "O Dia Que Durou 21 Anos". A sua visão do passado e da televisão levará um choque.
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Um comunicado do Departamento de Estado para o embaixador americano no Brasil, o engajado Lincoln Gordon, pouco antes do golpe diz: "As seguintes decisões foram tomadas de modo a dar apoio militar e logístico às forças anti-Goulart. Navios petroleiros darão apoio à esquadra, partindo da base de Aruba. Força naval de combate foi ativada para exercícios na costa Sul do Brasil, destino inicial é o Porto de Santos. Força naval composta por um porta-aviões, quatro destróieres e cruzadores de apoio. De Porto Rico serão embarcados 110 toneladas de munição, armas leves e gás lacrimogêneo para contenção e controle de massas". Uma forcinha aos amigos!
Um telegrama da CIA é ainda mais explícito: "João Goulart deve ser removido com urgência. Os governadores de São Paulo e Minas Gerais finalmente chegaram a um acordo. A revolução será iniciada pelas tropas de Mourão Filho". Tudo dominado. Castelo Branco comia na mão de Vernon Walters. A imprensa golpista ajudava a criar o clima adequado. Logo depois do serviço sujo feito começaram as prisões arbitrárias. Assessor da Casa Branca, McGeorge Bundy, liga para o presidente Johnson:
Bundy - Há uma mensagem que queremos mandar para Castelo Branco por ocasião da sua posse. Existe uma diferença entre Gordon, que quer ser bem entusiasta, e nosso ponto de vista na Casa Branca, de que o senhor deve ser cauteloso enquanto esse cara está botando gente em cana.
Lyndon Johnson - Acho que tem gente que precisa ir em cana aqui e lá também.
Bundy alerta que a mensagem será publicada. Johnson dá uma resposta elegantemente coloquial: "Estou me lixando". Robert Bentley, assessor de Lincoln Gordon no Brasil, encontrou uma excelente justificativa para a resposta de Johnson: "Ele era do Texas. Prendem gente no Texas". Está explicado. Finalmente, a história se esclarece. Esse mesmo Bentley, entrevistado depois do fim da ditadura que ajudou a implantar, diante das evidências de tortura e do atropelo total à democracia, saiu-se com um comentário exuberante: "Lamento, lamento, de qualquer maneira". Que salafrário! Caro leitor, perca um capítulo da sua novela ou deixe Michel Teló de lado por um instante e veja o documentário "O Dia Que Durou 21 Anos". A sua visão do passado e da televisão levará um choque.
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* Sociólogo. Prof. Universitário. Escritor. Tradutor. Colunista do Correio do Povo
juremir@correiodopovo.com.br
Fonte: Correio do Povo on line, 25/04/2012
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