Montserrat Martins*
"E se lhe pedirem o que você
não pode gastar, cante
“bandeira branca, amor, não posso mais…”.
Com desemprego e inflação pulando juntos, esse vai ser o Carnaval mais
contido dos últimos anos. Com menos dinheiro para gastar com viagens e
hospedagens, as pessoas procuram soluções mais “caseiras” para passar os
dias de folia, trocando “onde eu queria estar” por “onde eu posso ir”.
O paradoxo é porque o Carnaval, em si, é uma festividade de caráter
eufórico, onde as pessoas que participam pulam muito, bebem muito, ficam
muito, gastam muito. Ter de conter gastos, ter de se adaptar à crise
financeira, é uma água no chope carnavalesco.
Sendo uma vez por ano, é claro que quem gosta vai de qualquer jeito,
tem quem economize o ano todo para esse momento. Quem não gosta
aproveita para descansar e fazer outros programas, sem esquecer, é
claro, que nem todos tem feriadão e muitas pessoas trabalham essa época,
algumas no comércio, sujeito a ter menos ganhos esse ano.
Vai ser ainda mais fantasioso viver a folia, comparado com o que as
pessoas estão passando na vida real. Com o desemprego que já atingiu
milhões de pessoas e ameaça outros tantos milhões, tem clima para
euforia? É preciso fazer uso daquela “licença poética” e esquecer o
mundo lá fora por um tempo, para mergulhar na euforia nesses dias.
Imortal criador da “Escolinha do Professor Raimundo”, o humorista
Chico Anysio tinha também seus traços depressivos, como se viu numa
resposta dele sobre o carnaval: “É como aquela música ‘quanto riso, ó quanta alegria, mais de mil palhaços no salão… o chato é você ser um deles‘…”.
Hoje prevalece o funk sobre as marchinhas clássicas, que os jovens
pouco conhecem. Elas eram mais inocentes, de ironia mais sutil. A que
mais combina com este ano é aquela do “Ei, você aí, me dá um dinheiro aí, me dá um dinheiro aí…”.
Mas como tudo tem um lado bom – menos o Pink Floyd que tem os dois
lados bons, como diz o Humberto Gessinger – esse ano pode ser um bom
exercício para aprender a se divertir gastando menos. Afinal as maiores
alegrias não se pode comprar, como estar com as pessoas que se gosta, as
boas amizades, as brincadeiras em família ou em turma. Bebidas ou
lugares podem ter seu charme, mas em última instância a felicidade
depende das boas companhias, do bom humor. E se lhe pedirem o que você
não pode gastar, cante “bandeira branca, amor, não posso mais…”.
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* Montserrat Martins,
Colunista do Portal EcoDebate, é médico psiquiatra, bacharel em
Ciências Jurídicas e Sociais e presidente do IGS – Instituto Gaúcho da
Sustentabilidade.
Fonte: http://www.ecodebate.com.br/2016/02/08/bandeira-branca-amor-artigo-de-montserrat-martins/
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