Movimentos aparentemente direitistas mostram uma nova onda mundial
Alemães
saíram às ruas aos milhares, neste fim de semana, para protestar contra
os imigrantes muçulmanos e a "islamização" da Europa. Trata-se de um
movimento de raiz xenófoba que, nos últimos anos, só cresce no Velho e
bom Mundo. Corresponde, talvez, a essas coisas de Trumps nos Estados
Unidos e Bolsonaros no Brasil.
Há quem diga que é o "ressurgimento da direita".
Não é.
Tem a ver com a feminilização do Ocidente.
As
pessoas se confundem, quando pensam em termos de "esquerda" e
"direita". Econômica e politicamente, esquerda e direita podem ser
compreendidas quando você contrapõe outras duas forças que, quase
sempre, têm de coexistir: o Estado e o mercado.
A possibilidade de o mercado não existir só se dará se você atingir o comunismo perfeito, que é uma ficção.
A possibilidade de o Estado não existir só se dará se você atingir o anarquismo perfeito, que também é uma ficção.
Salvo
essas duas exceções, que, aliás, são bastante implausíveis, o mercado e
o Estado precisam conviver, e convivem. É aí que se dá o jogo de
pressão e contrapressão entre a direita e a esquerda.
Você pode
traçar uma linha, colocando numa ponta o Estado e na outra o mercado.
Quanto mais perto do Estado você estiver, mais à esquerda você estará.
Quanto mais perto do mercado, mais à direita.
Isso num mundo teoricamente ideal. O problema é que a realidade teima em bagunçar a teoria.
Veja
o caso do Brasil. O governo do PT é de esquerda. É a favor do Estado
forte e interventor. Mas o governo militar, de direita, também era a
favor do Estado forte e interventor. Mais: as características de ambos
os governos são idênticas. Os dois são nacionalistas, estatizantes,
desenvolvimentistas e administram o bem social por programas. Só que um
está na ponta esquerda e outro na ponta direita daquela nossa linha.
Como se explica esse fenômeno?
A
resposta poderia ser encontrada no que dizia um velho ídolo da direita,
o senador Roberto Campos, que a esquerda apelidou de Bob Fields, por
sua admiração pelos Estados Unidos.
Roberto Campos, que foi
ministro e embaixador no governo militar, criticava o governo militar.
Afirmava que o Brasil nunca havia sido verdadeiramente capitalista, e
sim que o capitalismo brasileiro era "patrimonialista". E é. O
capitalismo brasileiro jamais foi realmente capitalista, foi sempre
"socialista patrimonial", devido à proteção estatal dada ao grande
capital. É fácil se dizer capitalista quando você não corre os riscos
inerentes ao capitalismo.
Agora veja outra aparente contradição:
Bernie Sanders, pré-candidato dos Democratas a presidente dos Estados
Unidos, se diz socialista, e faz quase que o mesmo raciocínio de Roberto
Campos. Sanders é um feroz crítico à proteção que o Estado americano
oferece ao sistema financeiro. Isto é: aos bancos. Sobretudo os grandes
bancos.
Sanders propõe que novos impostos cobrados dos bancos
financiem a universidade da classe média americana. Assim, o sistema de
Educação nos Estados Unidos estaria todo garantido pelo Estado, já que,
nos antigos primeiro e segundo grau, as crianças recebem até o material
escolar de graça (mochila, lápis, caderno, o meu filho ganhou tudo da
escola).
Curiosamente, esse é um instrumento tido como socialista. Nos Estados Unidos, o campeão do capitalismo! Como pode?
Para
aumentar a confusão, do outro lado do mundo aparece a China, furioso
comunismo maoísta até 1978, quando Deng Xiaoping decretou que
"enriquecer é glorioso". Então, a China tornou-se um híbrido:
politicamente comunista, economicamente capitalista.
Mas será que é assim mesmo? Vou tentar destrinchar isso tudo no próximo texto, e falar, afinal, da feminilização do Ocidente.
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* Colunista da ZH
Fonte: http://zh.clicrbs.com.br/rs/opiniao/colunistas/david-coimbra/noticia/2016/02/o-ocidente-efeminado-4970332.html
Imagem da Internet
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