sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

O sujeito politicamente flex

Moisés Mendes*

O indivíduo que oscila entre os legalistas e os golpistas, para ficar bem com uns e outros, será o personagem de 2016.


As pessoas politicamente flex. Esse era o assunto dia desses numa esquina da Redação. Pessoas flex prosperam em momentos de crise. Podem ser movidas por rompantes retóricos nebulosos. Podem, por exemplo, condenar radicalmente um impeachment como algo sem fundamento, como podem, por outras vias e conversas enviesadas, aderir a teses golpistas.

Os flexíveis interpretam personagens de acordo com o público. Condenam aos berros uma ideia e ao mesmo tempo se mobilizam, dissimuladamente ou não, em direção contrária. Falam para plateias variadas. Enganam os que não os conhecem bem.

O Brasil de 2016 será a terra fértil do sujeito política e moralmente flex. O flex produz o discurso que lhe convém, porque na hora em que o bicho pegar ele pode apresentar recibo de compromissos com a legalidade ou com o golpe.

É quase sempre assim, em ambientes politicamente degradados. Uma das mais árduas tarefas é saber quem está com quem. E poderá ser assim no Brasil, até o desfecho do atual governo.

Os flex discursam ou escrevem para um lado e para outro. Ser flex não é pra qualquer um. Para efeitos retóricos, são legalistas. Pragmáticos, são golpistas.

Eles poderiam ser uma coisa ou outra e desfrutar do direito de se posicionar. Mas o flex se movimenta em mais de uma direção. É temerário numa hora dessas ter um sujeito flex por perto.

Estávamos, então, falando do sujeito flex quando alguém dobrou a esquina e quis saber como andava a notícia dada pelo Cerveró, há uns dois meses, de que em 2002 os tucanos compraram a petroleira argentina Pérez Companc e levaram propina de US$ 100 milhões.

Na época, o negócio foi considerado estranho. Mas negócios tucanos são apenas estranhos, alguém disse. Nunca mais se falou no assunto. Polícia Federal, Ministério Público — parece que ninguém quer saber mais nada sobre quem recebeu e quem repartiu o dinheiro. Nada se sabe e nada se saberá.
Cerveró perdeu tempo. Antigos corruptos estão liberados para atuarem como novos moralistas. É o que concluímos. E continuamos então falando do sujeito flex, um assunto muito mais interessante.

O flex é o antigo duas caras. Você aí deve ter alguns na família, na firma, na repartição. Proteja-se.
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* Jornalista.   Editor especial e colunista de Zero Hora
Fonte: http://zh.clicrbs.com.br/rs/opiniao/colunistas/moises-mendes/noticia/2016/02/o-sujeito-politicamente-flex-4973062.html
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