DIANA CORSO*
Depois que nos enamoramos de um desafio, ele vai possuir nossa mente, como qualquer paixão.
Fala-se
muito em foco, em concentração, dando a ideia de que na busca de uma
solução para um problema deveríamos centrar nele o pensamento. Sim e
não, às vezes é justamente quando nos distraímos que a questão pode usar
todos os recursos de nosso cérebro e achar a saída do labirinto. Como
sou muito avoada, passei a vida lutando para prestar atenção no que
devia. Por isso mesmo, custei a entender que era preciso relaxar para
criar.
Costuma acontecer que na distração aconteçam as melhores ideias. Quando travo no momento de escrever, é hora de ir para baixo da água! Lá, invariavelmente, vem uma solução, calmamente, sem precisar persegui-la. Uma frase redonda, aquela abordagem para um tema árduo que já tinha desistido de procurar. Por alguns anos achava que a mágica morava na minha banheira, até que fiquei sem ela e descobri que a pausa é a dona do segredo.
Já recorri a soluções piores, fui tabagista, uma forma péssima de fazer pausas. Mas o que têm em comum tomar um banho e fumar? No banho, cantamos sem preocupação com quem ouve, para tristeza dos que escutam, diga-se. Há quem ria sozinho das piadas que faz para si mesmo. As crianças cantarolam, fazem vozes, brincam por horas. Tomar banho é sempre uma forma de cair dentro de si; fumar também. Significava sair de cena, mesmo quando se fica no mesmo ambiente.
Como psicanalista, se ficar prestando atenção no que dizem meus pacientes focada em um esforço racional de coerência e de teorização, provavelmente farei apenas interpretações banais e inúteis. A novidade, necessária para desvendar seus impasses, surpreende tanto a mim quanto a eles: é uma palavra que soa diferente, um ponto de vista inusitado. Freud chamava isso de “atenção flutuante”, um tipo de escuta distraída e empática para o qual nos preparamos.
Para a grande maioria dos distraídos, há um elemento essencial, que faz diferença para que nos tornemos capazes de pensar algo que preste: é preciso importar-se com o problema, a questão, a tarefa. Não se trata de qualquer devaneio, ir janela afora atrás da borboleta azul, mas, sim, de fazê-lo possuído, envolvido com alguma tarefa. É fato que por trás da capacidade de concentrar-se está, sim, a possibilidade de relaxar, de fazer pausas, seja um banho ou fazer como uma amiga, que lava louça nessas ocasiões. Porém, a premissa é de que haja uma entrega. Portanto, o segredo encontra-se na motivação, a qual só surge quando algo nos diz respeito, nos agrada, envolve. Não é uma questão hedonista, de só fazer o que se gosta, mas, sim, de fazer as coisas da forma menos alienada e burocrática possível. Depois que nos enamoramos de um desafio, ele vai possuir nossa mente, como qualquer paixão.
-------------------------Costuma acontecer que na distração aconteçam as melhores ideias. Quando travo no momento de escrever, é hora de ir para baixo da água! Lá, invariavelmente, vem uma solução, calmamente, sem precisar persegui-la. Uma frase redonda, aquela abordagem para um tema árduo que já tinha desistido de procurar. Por alguns anos achava que a mágica morava na minha banheira, até que fiquei sem ela e descobri que a pausa é a dona do segredo.
Já recorri a soluções piores, fui tabagista, uma forma péssima de fazer pausas. Mas o que têm em comum tomar um banho e fumar? No banho, cantamos sem preocupação com quem ouve, para tristeza dos que escutam, diga-se. Há quem ria sozinho das piadas que faz para si mesmo. As crianças cantarolam, fazem vozes, brincam por horas. Tomar banho é sempre uma forma de cair dentro de si; fumar também. Significava sair de cena, mesmo quando se fica no mesmo ambiente.
Como psicanalista, se ficar prestando atenção no que dizem meus pacientes focada em um esforço racional de coerência e de teorização, provavelmente farei apenas interpretações banais e inúteis. A novidade, necessária para desvendar seus impasses, surpreende tanto a mim quanto a eles: é uma palavra que soa diferente, um ponto de vista inusitado. Freud chamava isso de “atenção flutuante”, um tipo de escuta distraída e empática para o qual nos preparamos.
Para a grande maioria dos distraídos, há um elemento essencial, que faz diferença para que nos tornemos capazes de pensar algo que preste: é preciso importar-se com o problema, a questão, a tarefa. Não se trata de qualquer devaneio, ir janela afora atrás da borboleta azul, mas, sim, de fazê-lo possuído, envolvido com alguma tarefa. É fato que por trás da capacidade de concentrar-se está, sim, a possibilidade de relaxar, de fazer pausas, seja um banho ou fazer como uma amiga, que lava louça nessas ocasiões. Porém, a premissa é de que haja uma entrega. Portanto, o segredo encontra-se na motivação, a qual só surge quando algo nos diz respeito, nos agrada, envolve. Não é uma questão hedonista, de só fazer o que se gosta, mas, sim, de fazer as coisas da forma menos alienada e burocrática possível. Depois que nos enamoramos de um desafio, ele vai possuir nossa mente, como qualquer paixão.
*Psicanalista . dianamcorso@gmail.com
Fonte: http://www.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a4985422.xml&template=3898.dwt&edition=28481§ion=1012
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