domingo, 17 de dezembro de 2017

Marina Colasanti: “Não perco tempo com leituras insignificantes”

A escritora Marina Colasanti
A escritora Marina Colasanti 

Escritora ítalo-brasileira ganhou na FIL de Guadalajara o Prêmio SM de Literatura Infantil e Juvenil

Os livros ajudaram a pequena Marina Colasanti (Asmara, Eritreia, 1937) a esquecer que vivia sob o cerco da Segunda Guerra Mundial. Desde então, publicou mais de 60 obras para crianças e adultos. Antes, estudou Belas Artes no Rio de Janeiro. Foi jornalista do Jornal do Brasil. Traduziu Roland Barthes e Yasunari Kawabata para o português. Agora, acaba de receber na Feira Internacional do Livro de Guadalajara (México) o Prêmio Ibero-americano SM de Literatura Infantil e juvenil.
Como teria sido a guerra para você sem os livros? Totalmente sem graça. E sem exemplos de sobrevivências significativos. A literatura é construída em torno de conflitos ou perigos que ameaçam os personagens e que precisam ser superados. É o que acontece com Ulisses ou nos contos de fadas, com Peter Pan e os Três Mosqueteiros. É a mesma coisa para quem vive uma guerra. Como teria sido pobre e monótono crescer sob a Segunda Guerra Mundial alimentada apenas pelos slogans e as imposições do regime fascista.

Considerando os seus diversos interesses, como faz para organizar suas leituras? É bastante caótico. Adoro ler em aeroportos e nos voos. Posso ler de pé em uma livraria apenas para ter uma ideia do que o autor está falando ou abandonar um livro depois de poucas páginas. Fiz 80 anos de idade este ano, e o tempo se tornou algo extremamente valioso. Não posso perdê-lo com leituras insignificantes. 
 
Existe poesia na literatura infantil? Apenas quando ela é excelente.

E literatura infantil na poesia? Se não for poesias para crianças, não. Até mesmo quando o poeta fala sobre sua infância, não estamos no campo da literatura infantil. A poesia é mais vertical e mais codificada.

Continua a acreditar em fadas? Nunca acreditei em fadas, tampouco trabalho com elas. Acredito em símbolos.

Walt Disney está para a literatura infantil assim como uma marcha militar está para a música? Boa frase! Mas uma marcha militar pode se aproximar da música e existem muitos toques militares na grande música clássica, bem como na ópera. Disney, ao contrário, troca o simbólico pelo óbvio, transforma contos milenares em musicais esvaziando-os de seu conteúdo. Sua única finalidade é de caráter mercantilista.

Quais livros infantis atuais serão os clássicos de amanhã? Gostaria de dizer: os melhores. Mas sabemos que, além da qualidade, também as circunstâncias desempenham um papel importante na construção de um clássico.

O  que você gostaria de ser se não fosse aquilo que é? Teria sido artista plástica. Foi para isso que estudei. 
O que acha que está sendo socialmente supervalorizado hoje em dia? O desejo individual e o ego.

Que tipo de tarefa você jamais aceitaria fazer?
Qualquer uma que implicasse maltratar seres vivos. Ou em que eu tivesse de mentir.
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Fonte:  https://brasil.elpais.com/brasil/2017/12/07/cultura/1512653327_008594.html 

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