Lya Luft*
Pois esta coluna vai aparecer exatamente na véspera de Natal. Ou nas
vésperas, porque já sai no sábado. Muitos hão de pensar, ué, essa
senhora, com tudo o que já viveu, experimentou, passou, leu, aprendeu,
curtiu ou sofreu, ainda acredita nisso?
Pois esta senhora
acredita em fadas e duendes que de noite cochicham entre as árvores do
meu jardim no Bosque de Gramado, acredita em anjos da guarda, acredita
em Deus, seja lá como o quiserem definir: força suprema, mistério que
envolve o mundo, enigma que criou e observa o universo com ar de pai
meio divertido, meio compadecido... não importa. Em deuses, desses
bonitos e humanos, deuses da alegria e do consolo, da água doce, do mar,
da floresta, dos tesouros, dos ventos.
Acreditei em Papai Noel e
Cegonha até uma idade vergonhosa na minha infância. O Coelho da Páscoa
se foi mais cedo, pois ninguém me explicava como esse bicho, mesmo
grandão, botava ou fabricava tanto ovo.
Seja como for, acreditar
é bom, se for em coisas boas. Também acredito que, apesar de todo o mal
que vejo no mundo - mais aquele de que não quero nem ouvir falar -,
existe bondade, amor, solidariedade, compaixão. Também existe amigo, e
família, e em horas difíceis, ah como é bom que existam. Não só pra
curtir férias, churrascos, festas, praia, não-fazer-nada, como pra
segurar a mão, dizer alguma coisa boa ou nem dizer nada, quando a dor
aperta.
Então, como eu não acreditaria em Natal? Não sei se
nasceu mesmo aquele menino lindo, de mãe virgem, me dava uma certa
peninha de José não ser o pai, mas essas coisas a gente respeita e
crença alheia pra mim é sagrada.
Mas acredito sobretudo no Natal
como dia, noite, hora, em que se reúnem família e amigos, ou amigos e
amigos, ou dois amantes, ou colegas, ou vizinhos, ou até desconhecidos, e
trocam abraços, e se desejam um bom Natal, muitas vezes já incluindo um
bom novo ano. Melhor do que este que está acabando, porque este quase
acabou com a gente.
Mais honesto, mais confiável, mais leve,
machucando menos, enganando menos, explorando menos, mutilando menos -
ajudando mais, empurrando um pouquinho mais pra cima e pra frente os que
estão no desalento. Sim, eu acredito que o novo ano deve ser abraçado
nas pessoas queridas, que Natal é possível: pra quem deseja, gosta,
acredita em solidariedade, alegria, convívio bom, e tudo que é jeito de
amor.
Que este Natal seja manso.
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* Escritora.
Fonte:http://flipzh.clicrbs.com.br/jornal-digital/pub/gruporbs/acessivel/materia.jsp?cd=15afc188f8076174422928d12c1831ad 23/12/2017
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