O
truque mais incrível da Apple, alcançado através tanto de marketing
quanto de filosofia, é fazer com que seus consumidores sintam que estão
pessoalmente fazendo história – que são uma espécie de elite
histórico-espiritual, mesmo quando existem milhões deles. O comprador de
um produto da Apple sente que está fazendo parte de uma missão
histórico-mundial, uma revolução – e Jobs gostava tanto da retórica
revolucionária que a revista Rolling Stone deu a ele o apelido de “Sr. Revolução”.
[...] Não é de admirar que a contracultura tenha malogrado no começou
da década de 1980: a promessa era que todos podiam mudar o mundo
comprando um Macintosh. Equiparar a Apple ao processo histórico (Hegel
chega a Palo Alto!) e convencer o mercado de que a companhia sempre
representa o lado bom de todo conflito abriu horizontes não mapeados em
criatividade promocional. Para vender seus produtos Jobs recorreu ao
poder da cultura; ele foi um gênio do marketing porque apelava sempre
para o sentido da vida. Com sua primeira linha de computadores, a Apple
apropriou-se com sucesso do tema da decentralização de poder na
tecnologia que foi tão caro para a Nova Esquerda na década anterior. Se
as pessoas ansiavam por uma tecnologia que fosse pequena e bonita – para
emprestar o slogan de E. F. Schumarcher, popular naquela época, – Jobs
podia dar isso a elas.
A Apple permitiu que gente que havia perdido todas as batalhas
importantes da sua era pudesse participar de uma luta sua – uma batalha
por progresso, por humanidade, por inovação. E essa era uma batalha que
só podia ser vencida nas lojas. Como disse à revista Esquire,
no começo da década de 1980, o diretor de marketing da Apple: “Todos
sentíamos que tínhamos perdido o movimento dos direitos civis. Tínhamos
perdido o Vietnam. O que tínhamos era o Macintosh”. O consumidor como
revolucionário: era uma noção brilhante – e, é claro, uma ilusão
terrível.
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http://www.baciadasalmas.com/31/03/2012
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