João Miguel Tavares e Pe. Gonçalo Portocarrero de Almada
O livro Senhor Bispo, o pároco fugiu serviu de pretexto a uma
reflexão sobre a vida dos padres e a crise por que tantos passam. A
apresentação ficou a cargo dos cronistas João Miguel Tavares, leigo, e o
Pe. Gonçalo Portocarrero de Almada.
João Miguel Tavares, jornalista e cronista, lembra a sua experiência na
diocese de Portalegre-Castelo Branco de onde é originário. «A dimensão
humana do padre diocesano sempre me fascinou, porque, no contexto do meu
contacto com dioceses do Alentejo, estamos a falar de uma vida dura.
Tendem a ser pessoas profundamente isoladas e de terem a seu cargo um
trabalho imenso de igrejas atrás de igrejas e de andar centenas de
quilómetros para acudir a todas aquelas pessoas.» Daí que o tema da obra
o tenha «interessado bastante»: «um padre esmagado pela burocracia e
que se tornou funcionário e nem sequer é de Deus, mas da paróquia».
João Miguel Tavares defende que hoje em dia, «os padres são mais
precisos do que nunca e é por isso que temos de cuidar deles». Nas
sociedades em que «matámos Deus e ficou uma enorme cratera no seu lugar,
as pessoas têm muitas angústias». Na apresentação da obra, o jornalista
fez uma analogia: «Um bom padre é um PT (Personal Trainer) da
alma. Da mesma forma que um PT nos põe a mexer músculos que nem damos
por eles, um bom padre pode pôr-nos a mexer músculos espirituais.» Se
são mais precisos do que nunca também têm mais dificuldades. No final de
ler o livro, João Miguel Tavares ficou com duas conclusões: «Os
cristãos têm de se preocupar com os seus padres que andam há décadas a
levar pancada.» A outra: «Os párocos deviam confessar-se mais às suas
comunidades: os seus erros, as suas angústias, as suas dúvidas. Os
padres têm alguma dificuldade em confessar a sua humanidade.»
Padres em busca da sua identidade
O outro apresentador da obra foi o Pe.
Gonçalo Portocarrero de Almada. Num tom divertido, confessou que
«algumas vezes sinto algum medo porque penso que fui insensato e ter
aceitado ser padre. Como é que é possível conjugar algo tão único e
surpreendente com matéria tão pobre. Eu também espirro! Sou uma pessoa
que espirra! E tenho comichão!»
O sacerdote diz que o papel dos padres está dificultado porque tudo mudou. «O padre já não é uma autoridade. Hoje em dia, ele diz que não se faz alguma coisa. “Não se faz!? Não faça ele! Eu faço o que quiser!” De maneira que se torna difícil encontrar qual o seu lugar. Padre quer dizer pai. Não há uma receita a priori que tenha uma receita exata», defendeu. Mas o Pe. Gonçalo diz que a essência do que é ser padre é comum à de ser cristão: «Deus conta connosco e quer que contemos com Ele. Deus conta connosco! E conta connosco e não é por eu ser bom porque não sou; não é por eu ser especial porque não sou.» Este papel que Deus quer dar e a colaboração que pede é fundamental. «Todos nós somos isto, somos chamados a ser os seus pés, as suas mãos neste mundo onde falta tanto carinho.»
O sacerdote diz que o papel dos padres está dificultado porque tudo mudou. «O padre já não é uma autoridade. Hoje em dia, ele diz que não se faz alguma coisa. “Não se faz!? Não faça ele! Eu faço o que quiser!” De maneira que se torna difícil encontrar qual o seu lugar. Padre quer dizer pai. Não há uma receita a priori que tenha uma receita exata», defendeu. Mas o Pe. Gonçalo diz que a essência do que é ser padre é comum à de ser cristão: «Deus conta connosco e quer que contemos com Ele. Deus conta connosco! E conta connosco e não é por eu ser bom porque não sou; não é por eu ser especial porque não sou.» Este papel que Deus quer dar e a colaboração que pede é fundamental. «Todos nós somos isto, somos chamados a ser os seus pés, as suas mãos neste mundo onde falta tanto carinho.»
João Miguel Tavares, leigo
O sacerdote diz ter gostado de ler o
livro e concorda com o pároco Benjamim, personagem principal da obra: é
bom fugir. «Nós, os padres, devemos fugir. Não interessa que as pessoas
gostem dele, mas que amem a Cristo. O padre que é vedeta é um mau padre.
O padre tem de ser uma pessoa que leva a Cristo. O interessante do
padre é que ele desapareça. Tenho um grande amor ao sacerdócio, mas não
gosto do clericalismo. O sacerdócio cristão não é pôr o sacerdote no
centro.»
O Pe. José Carlos Nunes, diretor-geral
da PAULUS Editora, que distribui a obra da Multinova Livreiros,
salientou que o livro Senhor Bispo, o pároco fugiu pretende dar aos
leitores «uma forma diferente de abordar a vida dos padres, do clero e
dos leigos».
Senhor Bispo, o pároco fugiu é
um livro de Jean Mercier que trata as dificuldades por que passa um
pároco desanimado e afogado em atividades, reuniões e sem tempo para a
sua relação com Deus. O padre Benjamim está em crise e acaba por fugir.
Texto: Cláudia Sebastião
Fotos: Ricardo Perna
Fotos: Ricardo Perna
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Fonte: http://familiacrista.paulus.pt/crise-dos-sacerdotes-em-debate
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