Luiz Felipe Pondé*
Ricardo Cammarota/Folhapress | ||
Tempos ruins. Grande parte da "nova direita", infelizmente, deu pra
imitar a direita "cultural" americana e está indo para a guerra
cultural, combatendo exposições de arte que "uma multidão de dez
pessoas" frequenta. Nesse caso, a nova direita segue de perto a "new
left", também americana, obcecada também, como a nova direita, por sexo,
penetração, crianças gozando, bebês trans, boquetes em público, sexo
anal no jardim, enfim, tudo isso que inteligentinhos dizem ser uma
"construção social".
Uma das tragédias da discussão política hoje é que grande parte da inteligência pública é parte da histeria. A verdade é que a "inteligência" política está sempre aquém da política. O que isso quer dizer? Isso quer dizer que, na política, como em tudo mais, não temos capacidade cognitiva pra armazenar e processar tanta informação ou dados.
Com isso não quero me colocar ao lado daqueles que, quando ouvem a palavra "algoritmoooooo", têm orgasmos múltiplos. Nem daqueles que pensam que a política será resolvida pela "Singularity University" porque geladeiras conversarão com fogões num mundo ideal. Nem daqueles que sonham com um algoritmo como líder máximo.
Um dos conceitos em filosofia política ou ciências políticas que mais me parece elegante é o de "cognição política". "Elegância" em filosofia (ou epistemologia, para os que estão mais habituados com o repertório filosófico) significa (de forma grosseira, mas correta), segundo Guilherme de Ockham (1285-1347), seu criador, "dizer muito sobre a realidade do mundo, de modo preciso e da forma mais curta possível". Quanto mais uma teoria ou conceito é simples na expressão e amplo na compreensão dos fenômenos, mais elegante ele é. Esta é a "navalha de Ockham".
A verdade é que não temos capacidade de lidar com o montante de dados que a política produz, logo, humildade, e não utopia, é a melhor atitude epistemológica aqui -e não apenas ética ou política.
Epistemologia é a parte da filosofia que estuda o conhecimento, logo, a cognição e seus modos de organização. Dizer que temos limites cognitivos pra entender a política significa dizer que nossa capacidade de armazenar e processar dados políticos está aquém da quantidade de dados que a realidade política produz. Dito de forma simples: nunca sabemos ao certo o que está acontecendo na política, tampouco os políticos.
Esse fato não implica a inviabilidade da política como saber ou prática, mas implica visões distintas da política, sua ciência e sua prática. Outro fator complicador é que a política se mistura com moral, psicologia e psicopatologias diversas, neurociências, sociologia, religião, marketing, mentiras banais, vaidades, economia, sexo. Enfim, uma infinidade de realidades que tornam impossível uma ideia clara e distinta sobre elas e suas relações.
Mas calma! Não entre em pânico por conta dessa neurose de "engenharia das coisas" que nos afeta, pior do que tesão pela "internet das coisas". Dizer que nossa capacidade de cognição política não suporta tantos fenômenos não quer dizer incapacidade total, quer dizer cuidado com visões de mundo que implicam uma crença numa percepção perfeita da política e dos homens. Proponho que você leia "Conflito de Visões", de Thomas Sowell, publicado entre nós pela É Realizações.
Crer na capacidade plena de nossa cognição política é ter uma "visão irrestrita" do homem (nos termos de Sowell), é crer em sua perfectibilidade infinita via engenharia social e política. É crer na política como esfera de soluções para problemas claramente compreendidos. Uma mistura de Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) com René Descartes (1596-1650). É crer em nossa capacidade irrestrita de ação racional no mundo.
Uma "visão restrita" do homem é crer que sua cognição é limitada e que tudo que podemos fazer são "trade-offs" (negociar) com os problemas que conhecemos "mais ou menos". É uma mistura de David Hume (1711-1776) com Adam Smith (1723-1790).
Se você for um cético como eu, deverá preferir David Hume e Adam Smith aos delírios do andarilho solitário Rousseau.
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Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/luizfelipeponde/2017/11/1933023-crer-em-nossa-capacidade-de-cognicao-politica-e-ter-visao-irrestrita-do-homem.shtml
Uma das tragédias da discussão política hoje é que grande parte da inteligência pública é parte da histeria. A verdade é que a "inteligência" política está sempre aquém da política. O que isso quer dizer? Isso quer dizer que, na política, como em tudo mais, não temos capacidade cognitiva pra armazenar e processar tanta informação ou dados.
Com isso não quero me colocar ao lado daqueles que, quando ouvem a palavra "algoritmoooooo", têm orgasmos múltiplos. Nem daqueles que pensam que a política será resolvida pela "Singularity University" porque geladeiras conversarão com fogões num mundo ideal. Nem daqueles que sonham com um algoritmo como líder máximo.
Um dos conceitos em filosofia política ou ciências políticas que mais me parece elegante é o de "cognição política". "Elegância" em filosofia (ou epistemologia, para os que estão mais habituados com o repertório filosófico) significa (de forma grosseira, mas correta), segundo Guilherme de Ockham (1285-1347), seu criador, "dizer muito sobre a realidade do mundo, de modo preciso e da forma mais curta possível". Quanto mais uma teoria ou conceito é simples na expressão e amplo na compreensão dos fenômenos, mais elegante ele é. Esta é a "navalha de Ockham".
A verdade é que não temos capacidade de lidar com o montante de dados que a política produz, logo, humildade, e não utopia, é a melhor atitude epistemológica aqui -e não apenas ética ou política.
Epistemologia é a parte da filosofia que estuda o conhecimento, logo, a cognição e seus modos de organização. Dizer que temos limites cognitivos pra entender a política significa dizer que nossa capacidade de armazenar e processar dados políticos está aquém da quantidade de dados que a realidade política produz. Dito de forma simples: nunca sabemos ao certo o que está acontecendo na política, tampouco os políticos.
Esse fato não implica a inviabilidade da política como saber ou prática, mas implica visões distintas da política, sua ciência e sua prática. Outro fator complicador é que a política se mistura com moral, psicologia e psicopatologias diversas, neurociências, sociologia, religião, marketing, mentiras banais, vaidades, economia, sexo. Enfim, uma infinidade de realidades que tornam impossível uma ideia clara e distinta sobre elas e suas relações.
Mas calma! Não entre em pânico por conta dessa neurose de "engenharia das coisas" que nos afeta, pior do que tesão pela "internet das coisas". Dizer que nossa capacidade de cognição política não suporta tantos fenômenos não quer dizer incapacidade total, quer dizer cuidado com visões de mundo que implicam uma crença numa percepção perfeita da política e dos homens. Proponho que você leia "Conflito de Visões", de Thomas Sowell, publicado entre nós pela É Realizações.
Crer na capacidade plena de nossa cognição política é ter uma "visão irrestrita" do homem (nos termos de Sowell), é crer em sua perfectibilidade infinita via engenharia social e política. É crer na política como esfera de soluções para problemas claramente compreendidos. Uma mistura de Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) com René Descartes (1596-1650). É crer em nossa capacidade irrestrita de ação racional no mundo.
Uma "visão restrita" do homem é crer que sua cognição é limitada e que tudo que podemos fazer são "trade-offs" (negociar) com os problemas que conhecemos "mais ou menos". É uma mistura de David Hume (1711-1776) com Adam Smith (1723-1790).
Se você for um cético como eu, deverá preferir David Hume e Adam Smith aos delírios do andarilho solitário Rousseau.
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Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/luizfelipeponde/2017/11/1933023-crer-em-nossa-capacidade-de-cognicao-politica-e-ter-visao-irrestrita-do-homem.shtml
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