Estas pessoas não existem: são “criadas” por Inteligência Artificial. Fotos, vídeos e textos muito verossímeis multiplicam os riscos de manipulação total. Emerge imenso problema: como regular a ciência, em meio à crise civilizatória?
Em 2019, vivemos em um mundo no qual vídeos e imagens deepfake de pessoas, totalmente fabricadas, podem ser criadas por inteligência artificial
Enquanto isso, uma tecnologia chamada GPT-2 da OpenAI está ficando famosa por sua habilidade de escrever convincentemente e enganosamente [reproduzindo o estilo de autores como George Orwell, ou o seu (N.T.)].
Nesse novo mundo, a IA é capaz de mimetizar conteúdo humano, e tem o potencial de ser usada por maus atores, e campanhas financiadas por Estados, para influenciar os sentimentos da população de várias formas.
Estamos testemunhando uma explosão de fraude online. Em uma era na qual até o Facebook recusa o título de empresa de mídia, o que exatamente são os deepfakes?
A invasão dos deepfakes
Deepfakes são, essencialmente, identidades falsas criadas com o deep learning [aprendizagem profunda, por meio de uso maciço de dados], por meio de uma técnica de síntese de imagem humana baseada na inteligência artificial. É usada para combinar e sobrepor imagens e vídeos preexistentes e transformá-los em imagens ou vídeos “originais”, utilizando a tecnologia de GAN (Generative Adversarial Network, ou rede geradora antagônica). Veja uma primeira explicação neste vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=DFrJv-eJb64De maneira fascinante, o engenheiro de software da Nvidia, Philip Wang, criou um website demonstrando a potência da técnica GAN para gerar imagens de pessoas falsas. Você pode conferir neste endereço:.
O site gera imagens baseado em um novo método de StyleGAN, desenvolvido pela Nvidia, que torna possível treinar o sistema para construir imagens artificiais de alta qualidade, com resolução de até 1024×1024 pixels.
Se você atualizar o site continuamente, verá um exemplo dessas “faces fake”, através do qual humanos digitais e personas falsas poderiam se tornar robôs (bots) de internet, capazes de nos influenciar em diversas maneiras. Aqui está uma amostra desses rostos: thispernondoesnotexist (essas pessoas não existem na vida real).
Como você pode observar, não há nenhuma maneira de dizer que essas não são pessoas reais. Personagens e textos fake são os próximos fronts do debate em torno do deepfake, que está só começando e é ainda outra maneira com a qual a inteligência artificial pode ser aproveitada como máscara e alterar o sentimento coletivo através de truques digitais.
Tecnologias como o GPT-2 e os GANs vão se tornar cada vez mais inteligentes. A suposta interferência russa no ciclo eleitoral norte americano de 2016 é um despertar para muitos, mas provavelmente apenas o início. Humanos digitais, âncoras de jornais de inteligência artificial, personas virtuais — tudo é possível na nova internet. O mercado de farsa online já está maduro.
Meio caminho rumo à Matriz
Criar uma realidade deepfake é meio caminho andado à Matrix. Pense só no potencial de uso indevido da combinação de vídeos e identidades deepfake com as fake news.O crescimento dos deepfakes poderia abrir um novo front na guerra desinformacional.
A infiltração deepfake seria relativamente barata e fácil de transformar em arma.
Se as imagens, notícias e vídeos gerados por AI alcançaram um nível no qual estão frequentemente indistinguíveis de fotografias e vídeos reais, e conteúdo humano, estamos no limiar de uma nova era de guerras de inteligência artificial.
Não ser capaz de dizer o que é real na internet já é fortemente problemático em uma era de redes sociais e Facebook, mas nas condições atuais só vai piorar. Considerando que os jovens gastam mais tempo online do que nunca, eles provavelmente se tornarão mais acostumados à AI a cada ano, o que pode gerar consequências inesperadas na sociedade.
Por que o deep learning aumenta as fake news
O perigo dos deepfakes representa um novo tipo de ameaça à cybersegurança, na qual o que pode ser feito está muito à frente de como combatê-lo. Essas redes geradoras antagônicas (GANs), desenvolvidas pelo Nvidia, poderiam ser facilmente classificadas como uma má utilização do deep learning, se tais corpos regulatórios existissem.Pode ser que você tenha visto o vídeo deepfake abaixo no YouTube. Obama poderia ter dito isso, mas ele não disse: https://www.youtube.com/watch?v=cQ54GDm1eL0
A facilidade de usar os deepfakes implica que um novo tipo de hipocrisia e de conteúdo ilusório online está chegando. Não se trata mais de fake news, mas de memes, spam e conteúdo feito cada vez menos por humanos, para o bem e para o mal.
Geradores de texto falso. Imagens falsas. Vídeos falsos. Clonagem de voz. Clonagem de personas. A combinação de tecnologia mais inteligente vai criar problemas humanos muito reais, que vão muito além das fake news e dos discursos de ódio, que o facebook será incapaz de conter.
Entrando na toca do coelho virtual
Enquanto isso, a internet continuará a evoluir na interseção da IA, de uma maneira na qual o modo como os humanos fazem versões de si mesmos pode ser irreconhecível até para nós. Caminhamos rapidamente em direção a um mundo de implantes neuro e no qual estaremos cercados não apenas de robôs, mas de identidades de IA (chame-os como quiser).A geração Z, grupo das pessoas que nasceram na última década do século XX e nos primeiros anos do século XXI, está passando tanto tempo na internet que sua realidade é mais repleta de eventos online do que face a face.
A desinformação vai aumentar de tal maneira que o facebook e os deepfakes vão gerar um mundo de eventos míticos de imersão, entretenimento e um capitalismo de vigilância que será profundamente perturbador para nossa saúde mental e estabilidade política.
Se regulação da IA atrasar, muitos perigos surgirão, devido aos desenvolvimentos tecnológicos e os usos de novas ferramentas.
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Reportagem Por Michael K. Spencer | Tradução: Gabriela Leite
Fonte: https://outraspalavras.net/internetemdisputa/deep-fake-a-ultima-distopia/?utm_source=newsletter&utm_medium=email&utm_campaign=30_5_deep_fake_a_ultima_distopia_por_um_karl_marx_devorado_tragedia_ambiental_a_um_passo_ada_colau_expoe_a_proposta_municipalista&utm_term=2019-05-30
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