segunda-feira, 9 de abril de 2012

Combate ao terrorismo à francesa

Análise
Por STEVEN ERLANGER
 
PARIS - A França e os Estados Unidos têm noções diferentes de liberdade, igualdade e fraternidade, embora as palavras sejam semelhantes nas duas línguas. Os métodos de combate ao terrorismo local também são muito diferentes, derivando de histórias, sistemas jurídicos e concepções de Estado diferentes.
Em março, os horrores em Toulouse -o assassinato de sete pessoas em pouco mais de uma semana por Mohammed Merah, um francês de 23 anos que alegou pertencer à Al Qaeda- levantaram um forte debate na França sobre se a polícia e os serviços de segurança falharam ou não em identificá-lo a tempo.
Merah passou pela peneira francesa, que é fortemente baseada em inteligência e avaliação humanas. Os franceses se perguntam por quê e se ele poderia ter sido mais facilmente identificado pelo método americano, mais automatizado -e caro- de monitoração computadorizada de telefonemas e da internet. As diferenças entre os dois países e seus métodos são consideráveis.
"Nos Estados Unidos, é o sistema que conta. Na França, são os homens", diz Marc Trévidic, renomado magistrado que pesquisa terrorismo na França.
Depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, os americanos investiram recursos enormes na "guerra global ao terrorismo". Esta incluía localizar os potenciais terroristas islamitas no país, em meio a uma pequena e bem integrada população muçulmana. Os franceses vêm lidando com o terrorismo (e o islã) há muito mais tempo. Com o maior número de muçulmanos na Europa -quase 10% da população-, a França se concentrou em evitar o recrutamento de potenciais terroristas por meio da infiltração em mesquitas e redes radicais.
Em parte por causa de sua história e em parte por causa dos orçamentos mais limitados, os franceses contam mais com inteligência e recursos humanos locais e menos com grampos telefônicos e vigilância automatizada do que os americanos. Isso pode tornar os franceses bem informados, mas menos sistemáticos, menos capazes de "ligar os pontos" que os americanos. De modo geral, disse o juiz Trévidic, os franceses têm um décimo dos recursos dos americanos.
O Estado francês é altamente centralizado. Cansada dos atentados à bomba nos anos 1980, a França tentou coordenar melhor a inteligência doméstica e estrangeira com o estabelecimento em 1984 da Unidade de Coordenação da Luta Antiterrorista (Uclat).
O combate ao terrorismo é menos centralizado nos EUA. As tensões entre o FBI, a Agência Central de Inteligência (CIA) e as agências locais ou estaduais são legendárias, especialmente entre o FBI e o Departamento de Polícia de Nova York. Essa tensão é o tema central do livro "Securing the City" ["A Segurança da Cidade"], de Christopher Dickey (2009).
"A França é um país com duas forças policiais", nota Dickey, "ambas nacionais, por isso há menos rivalidade entre órgãos."
Legalmente, os franceses centralizaram os casos de terrorismo em um tribunal e tentaram reintegrar os processos de combate ao terrorismo em uma lei regular, mas com mais flexibilidade para as investigações de terrorismo agirem, ordenar grampos e deter suspeitos por um período de tempo maior. Os EUA estão tentando reconciliar o processo legal com o combate ao terrorismo -veja a dificuldade para fechar o centro de detenção na baía de Guantánamo ou a discussão sobre julgar os detidos em tribunais civis ou militares.
O Estado francês também tem muito poder para espionar a vida dos cidadãos e deter suspeitos em nome da prevenção. Sua abordagem foi criticada por preconceito racial e abuso dos direitos civis. E quando ela falha enfrenta duras críticas da opinião pública.
Desde 1995, quando atentados à bomba aterrorizaram Paris, os franceses não enfrentam um ataque na escala do que ocorreu em Toulouse -algumas coisas claramente estão dando certo. Mas para eles, isso é um pequeno consolo, assim como o sucesso dos EUA em evitar outro ataque em seu território não serve para consertar os erros anteriores. 
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Fonte: Folha on line, 09/04/2012 -  http://www1.folha.uol.com.br/fsp/newyorktimes/35945-combate-ao-terrorismo-a-francesa.shtml

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