Ruy Castro*
Leio na Folha que a obesidade no Brasil
subiu 40% nos últimos seis anos. Significa que, hoje, um em cada seis
brasileiros usa tamanho GG, geme para experimentar roupa nos cubículos
das lojas, se esbofa para dar o laço no sapato, só consegue se enfiar
nos jeans se se deitar na cama e vive de dieta. Esse mesmo brasileiro,
em 2006, estava abaixo da linha da pobreza, pesava 45 kg e só não morria
de fome porque comia calango com farinha.
Da mesma forma, o dólar -o grande vilão, o eterno fantasma. A ele se
deveram as dezenas de mudanças da moeda no Brasil, a então impagável
dívida externa, a quebradeira de empresas centenárias e o suicídio de
muita gente boa -todos apanhados por maxidesvalorizações e afins. Pois,
já de algum tempo, o dólar está por baixo no Brasil e é o real que canta
de galo. Curiosamente, isso atrapalha tanto a economia que as
autoridades estão fazendo tudo para que ele volte a subir -debalde.
Idem, ibidem, nossa relação com os EUA. No passado, todo brasileiro
médio sonhava em se mudar para lá. Uma cidade de Minas Gerais transferiu
quase toda a sua população e, se alguém gritasse "Rapa!" na Rua 46, em
Nova York, saíam brasileiros ilegais por todas as janelas. Não admira
que fôssemos tratados a pontapés nos aeroportos americanos. Pois, hoje,
não se vê mais ninguém chegando, e a população de brasileiros é a que
mais decresce nos EUA.
E o que dizer das duras que os funcionários nos aeroportos brasileiros
passaram a dar nos visitantes que nos chegam da Europa, exigindo de
alguns que apresentem até o bilhete de volta? Quando já se viu isso no
Brasil desde 1500?
É tanta prosperidade que eu, acostumado à pindaíba, às vezes até
estranho. O futuro, sempre tão prometido, enfim chegou. E o Brasil é
hoje um novo-rico, com todos os traços da categoria.
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* Colunista da Folha
Fonte: Folha on line, 13/04/2012
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