MARTHA MEDEIROS*
De uns tempos para cá, tenho viajado por alguns
roteiros, digamos, mais exóticos. Depois de Machu Picchu, foi a vez de
conhecer o deserto do Atacama, no Chile, de onde regressei semana
passada.
Costumo me informar bastante sobre os lugares que vou visitar. Acredito que conhecimento prévio adiciona, não subtrai. Claro, corre-se o risco de a expectativa não se confirmar, mas o Atacama entrega o que promete. Todas as imagens triunfantes que vemos nas revistas e livros são exatamente daquela forma, daquela cor – só o impacto é que é maior ao vivo.
Aterrissar em Calama, vilarejo instalado no meio do deserto e cercado pela cordilheira dos Andes, é como imagino a chegada à Lua. Dali, inicia-se o percurso de cem quilômetros que leva do aeroporto a San Pedro de Atacama, quartel-general de onde saem todos os passeios pela região. Instantaneamente, muda-se o olhar, muda-se de pele. A terra penetra no corpo e a aridez consolida nosso primitivismo como se fosse um carimbo de entrada. Muita água, muita manteiga de cacau, hidratantes a toda hora: paliativos. Já se está impregnado de secura e arrebatamento. Tenho tomado dois banhos por dia e o Atacama não sai de mim.
Faltará espaço, aqui, para contar detalhes sobre o hotel (um oásis de frente para o vulcão Licancabur) e sobre os passeios – trekking em meio a cáctus gigantes, as imensas lagunas altiplânicas, os cristais de sal, as revoadas dos flamingos, as cavalgadas e tours de bicicleta por uma vastidão que já não se vê neste mundo apertado entre prédios, e o Valle de la Luna, que permite, em meio aos desfiladeiros, vislumbrar um céu de um azul que eu não sabia que existia. De tudo isso, o que cabe destacar agora é a feliz constatação de que o turismo profissional pode coexistir em perfeita harmonia com a natureza, sem profaná-la. No deserto, o meio ambiente é tão mais soberano que o homem, que ninguém se atreve a violar o aspecto selvagem do local. Só a natureza se exibe, só ela se impõe, nós somos humilde plateia.
A anatomia singular das montanhas, a luminosidade mutável, o entardecer aristocrático, o silêncio como pano de fundo, a profusão de estrelas no céu, o contraste entre a dureza mineral do solo e a leveza do ambiente, tudo nos condiciona a imaginar que estamos num museu impressionista a céu aberto. É uma viagem pictórica, antes de tudo.
Para geólogos, fotógrafos, pintores, atletas e aventureiros, é destino obrigatório. Para os entediados com os hot spots turísticos de sempre, uma opção a considerar com seriedade. Para quem precisa se esconder, não imagino alternativa melhor. Para quem quer fazer compras, manter as unhas intactas e estrear o vestido novo, acredite: mais vale continuar admirando o Atacama pelos cartazes das agências de viagens instaladas nos shoppings.
Costumo me informar bastante sobre os lugares que vou visitar. Acredito que conhecimento prévio adiciona, não subtrai. Claro, corre-se o risco de a expectativa não se confirmar, mas o Atacama entrega o que promete. Todas as imagens triunfantes que vemos nas revistas e livros são exatamente daquela forma, daquela cor – só o impacto é que é maior ao vivo.
Aterrissar em Calama, vilarejo instalado no meio do deserto e cercado pela cordilheira dos Andes, é como imagino a chegada à Lua. Dali, inicia-se o percurso de cem quilômetros que leva do aeroporto a San Pedro de Atacama, quartel-general de onde saem todos os passeios pela região. Instantaneamente, muda-se o olhar, muda-se de pele. A terra penetra no corpo e a aridez consolida nosso primitivismo como se fosse um carimbo de entrada. Muita água, muita manteiga de cacau, hidratantes a toda hora: paliativos. Já se está impregnado de secura e arrebatamento. Tenho tomado dois banhos por dia e o Atacama não sai de mim.
Faltará espaço, aqui, para contar detalhes sobre o hotel (um oásis de frente para o vulcão Licancabur) e sobre os passeios – trekking em meio a cáctus gigantes, as imensas lagunas altiplânicas, os cristais de sal, as revoadas dos flamingos, as cavalgadas e tours de bicicleta por uma vastidão que já não se vê neste mundo apertado entre prédios, e o Valle de la Luna, que permite, em meio aos desfiladeiros, vislumbrar um céu de um azul que eu não sabia que existia. De tudo isso, o que cabe destacar agora é a feliz constatação de que o turismo profissional pode coexistir em perfeita harmonia com a natureza, sem profaná-la. No deserto, o meio ambiente é tão mais soberano que o homem, que ninguém se atreve a violar o aspecto selvagem do local. Só a natureza se exibe, só ela se impõe, nós somos humilde plateia.
A anatomia singular das montanhas, a luminosidade mutável, o entardecer aristocrático, o silêncio como pano de fundo, a profusão de estrelas no céu, o contraste entre a dureza mineral do solo e a leveza do ambiente, tudo nos condiciona a imaginar que estamos num museu impressionista a céu aberto. É uma viagem pictórica, antes de tudo.
Para geólogos, fotógrafos, pintores, atletas e aventureiros, é destino obrigatório. Para os entediados com os hot spots turísticos de sempre, uma opção a considerar com seriedade. Para quem precisa se esconder, não imagino alternativa melhor. Para quem quer fazer compras, manter as unhas intactas e estrear o vestido novo, acredite: mais vale continuar admirando o Atacama pelos cartazes das agências de viagens instaladas nos shoppings.
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* Escritora. Cronista da ZH
Fonte: ZH on line, 11/04/2012
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