A nomofobia é um vício em que a pessoa não consegue se
afastar do celular, apresentando quadro semelhante à crise de
abstinência
Aumento do número de pessoas dependentes do celular gerou um novo
transtorno: a nomofobia, ou o medo de se desconectar do mundo virtual
Nos últimos anos, avanços tecnológicos têm tornado os celulares cada
vez mais indispensáveis. O acesso à internet nos aparelhos ampliou as
possibilidades de comunicação, mas essa rápida evolução também gerou um
novo problema. Para muitos, a obsessão pelo celular é tão intensa que se
caracteriza como um quadro de dependência com efeitos similares às
drogas pesadas, como ansiedade, perda de contato social e até mesmo
depressão, além de outras consequências físicas e mentais que se agravam
com o uso prolongado do celular.
O alerta é feito pela psicóloga clínica Mônica Vidal, mestranda em
Comportamento e Cognição Humana na Universidade de Barcelona, que em
entrevista ao Opinião e Notícia apresentou um novo
transtorno do século 21: o medo de se afastar do telefone celular, ou a
“nomofobia”, uma palavra derivada da expressão em inglês No Mobile Phobia.
“Esse transtorno é caracterizado pelo medo irracional de permanecer
isolado e desconectado do mundo virtual”, define a psicóloga.
Tecnologia móvel
Segundo um levantamento da Agência Nacional de Telecomunicações
(Anatel), em 2014 haviam 273,58 milhões de telefones celulares ativos no
Brasil, superando o número de habitantes no país e 10 milhões a mais
que no ano anterior.
Em uma recente pesquisa de conectividade, a empresa americana do ramo
da tecnologia de celulares Qualcomm relevou que o Brasil é o quarto
país mais conectado da América Latina e o 44º do mundo, em um ranking de
73 países. Na classificação, o Brasil está como intermediário – as
classificações possíveis são ultraconectado, avançado, intermediário e
emergente –, mas a pesquisa indica que o Brasil tende a avançar
rapidamente nessa questão.
Com uma conectividade maior, o acesso à informação se torna mais
fácil. Para Mônica, o acesso à internet, facilitado pelas tecnologias
móveis, faz com que “o usuário não seja somente um consumidor de
informação, mas também gerador de conteúdo” em um mundo hiperconectado.
O aumento da velocidade de circulação da informação também influi na
percepção do tempo. Para a psicóloga, há uma necessidade de imediatismo
por parte das pessoas que se expõem demais à tela do celular. “Se uma
pessoa envia uma mensagem e você não responde imediatamente, fica uma
situação desconfortável”, diz a psicóloga. “As relações digitais também
dão uma ilusão de companhia, o que pode provocar relações superficiais
entre as pessoas”, acrescentou. Uma das características da nomofobia é a
tendência a supervalorizar os relacionamentos e as atividades online em
detrimento das atividades presenciais.
Além disso, a pessoa exposta ao celular pode perder a noção do
tempo, o que ela classifica como “um estado alterado da consciência” que
ocorre quando a pessoa se mantém em “um estado progressivo de
contemplação”. “Por isso as pessoas ficam conectadas mais tempo do que
pretendiam estar”, diz.
Características da nomofobia
“A pessoa que tem nomofobia apresenta um quadro semelhante à síndrome
de abstinência de pessoas que são usuárias de drogas, trazendo um
comprometimento tanto da saúde física quanto mental, além das esferas
psicológicas, sociais e comportamentais”, afirma a psicóloga.
“Geralmente a nomofobia está associada a outro transtorno, como
ansiedade, síndrome do pânico, estresse pós-traumático, transtorno
obsessivo compulsivo, bipolaridade, depressão, entre outros.”
Os principais sintomas da nomofobia são a sensação de vazio
existencial, angústia, desespero, irritabilidade, baixa autoestima,
rejeição e também problemas físicos, como dores na coluna, torcicolo,
lesão por esforço repetitivo, tremores, insônia, náusea, estresse,
sudorese, tensão muscular, ressecamento de retina e perda auditiva.
Há sinais que indicam quando a pessoa pode ter nomofobia, como por
exemplo, a checagem constante do celular, a procrastinação de tarefas
diárias e o isolamento de atividades sociais.
A psicóloga alerta que a exposição exagerada compromete o rendimento
escolar ou profissional, além de prejudicar o sono. “A pessoa não
consegue se desligar mentalmente da sua vida online. Ela chega a sonhar
com o que fez no celular”, diz.
Segundo uma pesquisa da empresa francesa Ipsos, 18% dos brasileiros
acima de 16 anos entrevistados em 70 cidades admitiram ser dependentes
de seus celulares. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) de 2013, 66% da população brasileira
acima de 10 anos tem pelo menos um celular.
Tratamento
Mônica admite que na atual configuração social, há uma dificuldade de
se distanciar das tecnologias móveis. No entanto, ela recomenda que as
pessoas procurem um uso produtivo, que não comprometa a qualidade de
vida. A psicóloga sugere limitar o uso diário para equilibrar a vida
social e online.
O primeiro passo para tratar a nomofobia é reconhecer o problema e
buscar uma solução. “Não tem como ajudar uma pessoa com algum problema
se ela não reconhece que ela tem um”, diz. A partir daí, a pessoa pode
ser levada para acompanhamento psicológico, ou se o quadro for mais
grave, psiquiátrico, com uso de medicação para reduzir os níveis de
ansiedade. Mônica também considera o apoio familiar fundamental para o
tratamento.
Outra maneira de combater o vício está no próprio uso dos celulares,
através de aplicativos que limitam o uso diário do aparelho, como o
Break Free, Mental e Moment. No entanto, a psicóloga destaca que os
aplicativos não substituem o tratamento psicológico.
Cuidado com crianças e adolescentes
O nível de atenção à exposição aos dispositivos móveis deve ser ainda
maior para crianças e adolescentes. “A exposição excessiva das crianças
e dos adolescentes pode causar danos e prejuízos no desenvolvimento do
cérebro, comprometendo a atenção e o foco”, afirma Mônica.
Em relação ao tempo de exposição ideal aos celulares, tablets e até
mesmo à televisão, ainda não há uma recomendação padrão. É preciso usar o
bom senso.
“Em média, é recomendável que crianças de um a dois anos de idade se
exponham a no máximo 20 minutos e crianças de três a quatro anos até
duas horas por dia”.
A psicóloga também alerta para possíveis casos de cyberbullying e de
divulgação imprópria de conteúdo entre jovens, o que também resulta de
uma exposição longa às tecnologias móveis. “Uma vez que um conteúdo cai
na rede, você perde o controle sobre ele”, alerta.
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Reportagem por Nycolas Santana - 22 Dec, 2015 - Foto: Pixabay
Fonte: http://opiniaoenoticia.com.br/opiniao/tendencias-debates/a-fobia-de-ficar-longe-do-celular/
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