Saving Capitalism: For the Many, Not the few
De Robert B. Reich
Publicado por Knopf
U$ 26,95
De Robert B. Reich
Publicado por Knopf
U$ 26,95
Existe um impasse no debate sobre economia entre progressistas e conservadores.
Os progressistas olham um mar crescente de desigualdade e dizem que os livres mercados precisam ser melhor regulados.
Os conservadores se põem a isso desenhando uma linha teórica na
areia. Eles afirmam que o tipo de regulação que os progressistas querem é
antiamericano, indo contra o capitalismo ao impedir o
“livre mercado”. Este mercado precisa ser livre, dizem eles. Ele é o
espírito guia do capitalismo americano. É ele o que faz o nosso mundo
girar.
Tais argumentos são totalmente fictícios, afirma Robert Reich, ex-secretário do Trabalho e um conhecido economista político.
A resenha é de Vinnie Rotondaro, publicada por National Catholic Reporter, 25-11-2015. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
O seu novo livro, intitulado “Saving Capitalism: For the Many, Not the Few”
[Salvando o capitalismo: para muitos, não para poucos, obra sem
tradução no Brasil], baseia-se mais no senso comum e na história
econômica recente do que na teoria econômica propriamente. Ele descarta o
impasse entre intervencionistas governamentais e os defensores do “livre mercado” como um “debate sem sentido”.
Este seu tom não é de todo sem sentido: o capitalismo
é um sistema, escreve ele, feito pelo homem e mutável. Não há numa “mão
divina livre” pronta a salvar o dia caso o governo deixasse de existir e
se desfizesse de suas leis e regulações.
Os mercados são sistemas, lê-se no livro. Eles são artificiais.
Sempre há leis e regulações em um mercado. As políticas econômicas de um
governo não “se intrometem no livre mercado”, explica o autor. “Elas
constituem o livre mercado. Sem elas o mercado não existe”.
Em outras palavras, trata-se de um falso dilema. O debate não é sobre
a influência (intromissão) ou a “liberdade” de mercado, mas sobre poder e de quem joga com ele.
“A mão invisível do mercado está ligada a um braço rico e musculoso”, escreve Reich.
“Decisões importantes” tendem a ser “tratadas a portas fechadas, em
negociações influenciadas desproporcionalmente por corporações gigantes,
grandes bancos e indivíduos ricos com recursos o suficiente para serem
ouvidos. O dinheiro deles compra lobistas, contribuições de campanha,
campanhas de relações públicas, esquadrões de especialistas e estudos,
exércitos de advogados e promessas de empregos”.
E assim a noção de “livre mercado” se torna uma espécie de cortina de
fumaça usada pelos ricaços para continuar o aparelhamento de um sistema
que eles já aparelharam para o seu próprio benefício.
Reich fala o mesmo que o Papa Francisco
quando afirma que estes chefões são, cada vez mais, ajudados pelo “fato
de que as regras subjacentes estão bem escondidas numa economia onde
grande parte do que se possui e comercializa está se tornando intangível
e complexo”.
Na exortação apostólica Evangelii Gaudium, Francisco
advertia sobre uma “nova tirania invisível, às vezes virtual, que
impõe, de forma unilateral e implacável, as suas leis e as suas regras”.
Reich escreve: “Poucas ideias têm envenenado mais
profundamente as mentes das pessoas do que a noção de um ‘livre mercado’
que existiria em algum lugar no universo, dentro do qual o governo se
intromete”.
Segundo ele, vivemos cada vez menos numa democracia.
O mito do “livre mercado” auxilia a afastar a atenção para um “círculo
vicioso”, em que o “predomínio econômico alimenta o poder político, e o
poder político amplia ainda mais o predomínio econômico”.
“O aumento da desigualdade de riqueza e renda (...)
não se deve unicamente à globalização e às mudanças tecnológicas que
recompensam os que têm boa formação e estão bem conectados enquanto que
pune os que não têm estas vantagens”, escreve. “Em vez disso, a
ampliação da desigualdade vem sendo produzida dentro dos blocos de
construção do próprio ‘livre mercado’”.
Este círculo alimenta-se com a corrupção,
mas não com o suborno direto. Pelo contrário, ele produz um tipo de
“sedução” sutil, de acordo com o autor, fazendo uma distinção que traz à
mente a obra de Zephyr Teachout, ex-professora de Direito na Fordham University.
Teachout, coautora do livro “Corruption in America: From Benjamin Franklin’s Snuff Box to Citizens United”
[sem tradução no Brasil], sustenta que enfrentamos uma crise de
definição, uma crise daquilo que significa corrupção. O fato de que os
tribunais estão definindo corrupção de uma maneira cada vez mais
estreita ela chama de um problema político fundamental. Diz que as novas
definições omitem considerações importantes e psicológicas do senso
comum.
De forma semelhante, Reich afirma: “Poucos funcionários públicos nos EUA
solicitam ou recebem propinas diretamente (...). É simplesmente mais
fácil escolher um caminho que foi cuidadosamente pavimentado para eles
pelos lobistas, especialistas pagos e advogados inteligentes e
experientes”.
Reich explica e sintetiza muita coisa em seu livro. Ele levanta o capô do sistema econômico para examinar a miríade de modos em que o debate sobre o “livre mercado” é usado para mascarar e impulsionar a corrupção. Ele coloca várias realidades – como o “mito da meritocracia”, os “mecanismos” por detrás dos salários altos dos CEOs, a ascensão dos “pobres trabalhadores”, o aumento dos “ricos que não trabalham” e o “declínio do poder de barganha da classe média” – dentro deste contexto.
O autor finaliza o seu livro com uma nota otimista, dizendo ser possível, ou melhor provável, que um “poder compensatório ao nosso sistema político-econômico” seja restaurado.
Por quê? “Porque 90% dos americanos da parte de baixo (...) têm mais
em comum, em termos econômicos, do que em relação com os altos
executivos de grandes empresas, com o pessoal da Wall Street, os ricos da América”, escreve.
Segundo Reich, “o único jeito de reverter este curso é ver a grande maioria dos que hoje carecem de influência sobre as regras do jogo se organizarem e se unificar”, criando consciência daquilo que realmente a economia representa.
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Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/549717-autor-desafia-o-mito-do-livre-mercado
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