Luis Fernando Veríssimo*
A
baixa popularidade da Dilma e o índice de aprovação do seu governo lá em baixo
seriam razões não jurídicas para derrubá-la. Mas isto seria um mau precedente
As
ideias simples são sedutoras. São soluções ou explicações fáceis para questões
complexas, e seu principal atrativo é que nos eximem de pensar. Agora mesmo o
candidato a candidato do Partido Republicano nas próximas eleições
presidenciais nos Estados Unidos Donald Trump teve uma ideia exemplar na sua
simplicidade. Admira que ninguém a tenha tido antes. Como nunca se sabe se o
muçulmano que chega aos Estados Unidos vai se comportar ou vai sair matando
americanos, Trump propõe — simplesmente — que se proíba a entrada de muçulmanos
no país. À Estátua da Liberdade — que, na entrada do Porto de Nova York,
simboliza a acolhida indiscriminada que os Estados Unidos sempre deram a
imigrantes e visitantes — só restaria guardar sua tocha e ir para casa. Dizem
que, com a eleição de Trump, pela primeira vez o país, que já teve na
Presidência todo tipo de gente, de líderes legítimos a escroques confessos,
terá eleito uma piada. Mas a piada perde a graça quando se sabe que Trump
lidera a tropa de candidatos republicanos em todas as pesquisas de intenção de
votos.
Ideia
simples, também, é que basta extrair a Dilma, como um foco infeccioso, do
governo e tudo melhorará. Como não há razão jurídica para depor a Dilma —
opinião não minha, um perigoso bolchevique, mas de vários juristas respeitados
—, o impedimento da presidente passa a ser apenas uma obsessão, ou uma ideia
simples fixa. A baixa popularidade da Dilma e o índice de aprovação do seu
governo lá em baixo seriam razões não jurídicas para derrubá-la. Mas isto seria
um mau precedente. O Brasil, com sua mania de criar moda (só no Brasil alguém
poderia dizer que fundos na Suíça e contas na Suíça são duas coisas
completamente diferentes e continuar presidindo a Câmara), estaria inventando o
governo por pesquisa de opinião. Cotação muito baixa nas pesquisas — rua! Um
péssimo precedente. Não esqueçamos que, pelo critério da popularidade, o
Fernando Henrique não teria sobrevivido até o fim do seu mandato.
Ideias
simples também comandam o terrorismo mundial: o que pode ser mais basicamente
irracional, mais antidiplomático e intolerante — enfim, menos complicado — do
que explodir tudo à sua volta, e a você mesmo, por uma causa ou um deus?
Infelizmente, as ideias simples ganham força em todo o mundo. E o pior é que os
próprios meios de combatê-las ficam cada vez mais infectados por elas. Nos
Estados Unidos, estão dizendo que Trump só teve a coragem de falar o que muita
gente pensa mas não fala.
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* Escritor. Jornalista. Cronista.
Fonte:http://oglobo.globo.com/opiniao/as-ideias-simples-18313211?utm_source=newsletter&utm_medium=email&utm_content=opiniao&utm_campaign=newsdiaria
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