Antônio Delfim Netto*
O capitalismo "real" é o espantalho usado para exaltar as
virtudes do socialismo "ideal", propagado nos nossos livros de história,
fontes do delírio socialista de ingênuos que se pensam progressistas.
O "capitalismo" seria um ser monstruoso que existe fisicamente e
tem alma: pensa, comanda, reage, oprime e se alimenta da conspiração
permanente contra a maioria desprovida da sociedade.
A verdade é que a estrutura social e econômica a que chamamos de
"capitalismo" é apenas um instante na incessante busca do homem por uma
organização que lhe permita viver livremente a sua humanidade num
ambiente de relativa igualdade.
O homem precisa, primeiro, satisfazer as suas necessidades naturais
de forma eficiente, o que o levou a explorar a coordenação das
atividades produtivas através do mercado. Nele, pela troca, descobriram
como aproveitar suas diferentes habilidades na divisão do trabalho. Mas
os mercados são tanto mais eficientes quanto mais apoiados num Estado
forte, constitucionalmente controlado, capaz de mantê-los competitivos, o
que está na base da propriedade privada. Essa propiciou a mercadização
do trabalho e da terra, que separou os homens em duas classes: os que
alugam a sua força de trabalho (os operários) e os que as alugam (os
capitalistas). Para equilibrar o poder econômico do capital, os
trabalhadores, organizados em sindicatos e partidos, impuseram o
sufrágio cada vez mais universal, que os vem empoderando
progressivamente.
Ninguém melhor do que Marx entendeu a eficiência revolucionária, as
limitações e as injustiças do capitalismo, e que ele é apenas um
momento da história que continuará a desenrolar-se.
Seu generoso sonho foi tentar encontrar "cientificamente" o caminho final.
O problema é que a história é um acidente aleatório, aberta a todas
as possibilidades. Os caminhos podem ser muitos e surpreendentes, mas a
direção do vetor tem sido a mesma: maior liberdade combinada com maior
igualdade e relativa eficiência produtiva para que sobre tempo ao homem
para realizar a sua humanidade. Tudo temperado com tolerância política
porque, a rigor, os três valores (liberdade, igualdade e eficiência
produtiva) são incompatíveis.
A última moda é culpar o "capitalismo" pela desgraça ecológica que
se abate sobre o mundo. Pois bem, o socialismo "real" (produto de
asseclas que certamente Marx rejeitaria) da União Soviética foi o maior
destruidor de ambiente do século XX. E o socialismo "real" da China tem
na poluição ambiental o seu maior problema. Isso mostra que a poluição
não é privilégio de nenhum regime. É o resultado da atividade humana.
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* Economista, ex-deputado federal e ex-ministro da Fazenda, do Planejamento e da Agricultura
Fonte:http://jcrs.uol.com.br/index.php?id=/economia/index.php
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