"Se a Conferência Internacional sobre o Clima que está sendo realizada em Paris acabasse em uma fase de impasse, eu não descartaria uma polida intervenção do Papa Francisco." A convicção é do cardeal Peter Turkson, que foi o curador da Laudato si'
e que, desde a sua publicação, intensificou a sua participação em
encontros e seminários para explicar como o cuidado da criação – tema da
encíclica – é uma exigência imprescindível para um cristão.
E uma confirmação já veio no Ângelus do domingo, 6 de dezembro, quando o Papa Francisco declarou que acompanha "com viva atenção" as negociações de Paris,
desejando "todos os esforços" voltados a atenuar os impactos das
mudanças climáticas e, ao mesmo tempo, a combater a pobreza e fazer
florescer a dignidade humana (e antes de sair para a viagem à África ele havia declarado que "estamos à beira do suicídio").
O presidente do Pontifício Conselho Justiça e Paz é igualmente explícito: "Não podemos professar o amor de Deus quando não amamos do que Ele criou". E, na Irlanda,
no dia seguinte aos acontecimentos de Paris, afirmou: "As ameaças que
derivam da desigualdade global e da destruição do ambiente estão
correlacionadas e devem ser consideradas como as maiores ameaças que
enfrentamos hoje como uma única família humana".
Se, durante o mês de novembro, ele tinha completado uma série de encontros entre os Estados Unidos e a América Central – na Universidade de Santa Clara, com o tema "Do Vale do Silício a Paris" – para ilustrar o que está em jogo na COP-21, nestes dias de trabalho, Turkson não para a sua ação de "embaixador da Laudato si'", como muitas vezes ele é apresentado.
A última conferência foi proferida em Londres, a convite da organização humanitária CAFOD (também membro do movimento católica Global Climate), sempre sobre o mesmo tema.
Poucas horas antes da abertura da Porta Santa no Vaticano, uma certeza: "O que está em jogo é a própria sobrevivência do homem sobre o planeta azul. A COP-21
será capaz de chegar a um acordo justo, eficaz e juridicamente
vinculante para limitar as emissões de gases de efeito estufa e parar o
aquecimento global? Se assim for, essa vai ser a porta para assegurar um
futuro sustentável para a nossa casa comum. Caso contrário, a
humanidade continuará fechando a porta sobre si mesma...".
"O Jubileu é a oportunidade para cuidar
da criação e mostrar piedade para os pobres. Tanto a natureza quanto a
sociedade estão ameaçadas pela degradação. Durante este ano de oração e
de reconciliação, podemos contribuir para levar a misericórdia de Deus
para a nossa casa comum e para todos os que a habitam."
Para o prelado ganês, existem "cinco portas mais uma" capazes de nos fazer compreender a crise atual.
A primeira porta é o reconhecimento de
que a crise – mudanças climáticas, poluição e degradação do ambiente
natural – afeta a todos e a tudo. O que está em jogo é a justiça entre
as pessoas e as gerações, e a dignidade daqueles que agora habitam o
planeta e daqueles que habitarão no futuro. Seis bilhões de pessoas são
responsáveis apenas por 6% das emissões que sufocam o nosso planeta, mas
são elas as mais atingidas (e a ONU alertou sobre os possíveis milhões de "refugiados ambientais" que baterão às nossas portas).
A segunda porta é a consciência da responsabilidade de cada um: a mensagem da Laudato si' é
dirigida a todos os habitantes do planeta. "A interdependência nos
obriga a pensar em um só mundo, em um projeto comum" (LS 164). E não só
políticos, especialistas e técnicos: todos nós devemos agir, na linha de
simples bons hábitos cotidianos, como sugeridos pelo papa (coleta
diferenciada, limitar o desperdício de água e de energia, carona
solidária).
O reconhecimento de que todos os seres
vivos estão fundamentalmente interconectados, como já acreditava, muito
antes da ciência, a sabedoria dos povos indígenas, é a terceira porta.
Não devemos pensar em termos de crises diferentes, social e ambiental,
mas sim em termos de uma única crise, sentido e ouvindo o grito da terra
e o grito dos pobres (basta pensar, sugere Turkson, que a Síria
nos últimos anos sofreu a pior seca e a mais grave perda das colheitas
da sua história, onde os pastores perderam 85% do seu gado, e um caso
semelhante é a seca na região do Sahel na África ocidental e também no Chifre da África).
A quarta porta é dizer a verdade e ter a
coragem de identificar os problemas, sem negar o óbvio: "Devemos ser
honestos e reconhecer, por exemplo, que os combustíveis fósseis
permitiram enormes progressos humanos nos últimos dois séculos, mas
agora ameaçam tornar inabitável o planeta, e devemos deixar de acreditar
que os recursos são ilimitados ou que a economia pode crescer sem
avaliar o seu impacto ambiental".
Só resta, então, a porta do diálogo como
o único modo de enfrentar os problemas em busca de soluções eficazes,
um diálogo autêntico, honesto e transparente que não ceda aos interesses
particulares de países individuais ou de grupos específicos.
"A doutrina social católica já contém
todos os princípios úteis para um verdadeiro diálogo: sob a insígnia da
solidariedade e da subsidiariedade, é preciso se concentrar sempre no
bem comum e mostrar especial solicitude para com os pobres e a terra."
Sem esquecer uma última porta, a da oração. "A maioria das pessoas conhecem uma excelente oração para uma visão ecológica, a do Pai Nosso:
'Seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu'. Qual poderia
ser a vontade do Pai celeste? Talvez uma visão que inclua depósitos de
lixo tóxico? Comportamentos nefastos que pioram as condições de vida? Ou
talvez as injustas divisões entre ricos e pobres?".
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Reportagem por A reportagem é de Maria Teresa Pontara Pederiva, publicada no sítio Vatican Insider, 09-12-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/550092-qa-vontade-do-pai-nosso-nao-e-um-planeta-degradadoq
Imagem da Internet
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