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Psicanalista é conhecida por falar sobre temas ainda considerados tabus, como sexo a três e infidelidade
Regina Navarro Lins sacode, incomoda, obriga a refletir. Conhecida do público pela presença em discussões na mídia sobre amor e sexo, a psicanalista carioca fala com naturalidade não apenas das questões íntimas – é segura também ao prever um cenário bem mais diverso do que o observado hoje quanto a possibilidades de relacionamento. Defensora feroz da plena realização dos desejos, ideal que não pode ser aprisionado na definição de relação monogâmica, ela condena a idealização estabelecida pelo padrão do amor romântico. – Esse modelo de casamento que está aí é impossível – decreta Regina, no ar com o quadro Sexo em Pauta, às sextas-feiras, no programa Em Pauta, da Globonews. Aos 66 anos, Regina não é uma libertária em teoria. Com dois filhos e uma neta, ela está no terceiro casamento, com o escritor Flávio Braga, parceiro de cinco dos seus 11 livros publicados – segundo ela, nunca houve promessa de exclusividade na relação. – Cada um deveria responder a duas perguntas para si próprio: “Me sinto amado? Me sinto desejado?”. Se a resposta for sim para as duas, o que o outro faz quando não está comigo não me diz respeito – relata.
Por que o sexo gera tanto preconceito?Há 2 mil anos, desde que o cristianismo se instalou, o sexo é visto como algo abominável. A coisa era tão séria que a Igreja desenvolveu a ideia de danação eterna. Quem tivesse um pensamento sexual, que é supernatural porque todos temos sexo, acreditava que, quando morresse, teria uma danação eterna. Entre os séculos 3 e 5, milhares de pessoas foram para o deserto do Egito martirizar o corpo para se livrar da danação eterna. O sexo sempre foi visto como algo que deveria ser evitado – até hoje, todos os xingamentos e ofensas são ligados a sexo. Uma criança na nossa cultura, desde muito cedo, associa sexo, inconscientemente, a algo sujo, perigoso. No século 18, as pessoas não acreditavam mais em danação eterna, começou a cair essa crença, mas a medicina ocupou o lugar da Igreja. Nos séculos 18 e 19, os médicos passaram a normatizar o que pode e o que não pode. Apontaram todas as baterias contra a homossexualidade e a masturbação. O século 19 foi de uma repressão espantosa da sexualidade, com a culpa já dentro da pessoa. Antes, vinha de fora, era o medo da danação eterna. Essa época ainda tem muita influência na gente. A marca da feminilidade era a mulher não gostar de sexo. Lorde Acton, um médico muito importante na Inglaterra, dizia o seguinte: “Hoje, felizmente, sabemos que essa história de que mulher tem prazer sexual não passa de uma calúnia vil”. As mentalidades começaram a mudar a partir dos anos 60, estamos no meio de um processo de mudança, mas por mais que as pessoas conscientemente não acreditem que o sexo é uma coisa tão terrível, tão pecaminosa, no inconsciente esses valores ainda persistem. O processo de mudança é lento e gradual. Postei no “Se eu fosse você”, um espaço do meu blog, o caso de uma mulher de 74 anos, virgem, com uma educação super-repressora. A família toda morreu. Ficaram ela e a irmã, que tem 76 anos. Ela disse que agora tem um tesão louco, se masturba todo dia, não consegue nem dar ordem para a empregada se não se masturbar antes e não quer que a irmã descubra. Os comentários dos internautas ao caso dela são péssimos. As pessoas são tão preconceituosas, é uma coisa incrível.
Falamos pouco sobre sexo?
As pessoas falam pouco, sim. Quando falam, falam com constrangimento. Os pais deveriam falar sobre sexo abertamente com crianças e adolescentes. As pessoas não entendem que essa repressão toda gera disfunções sexuais, como ausência de orgasmo, disfunção erétil, ejaculação precoce, além de violência e crimes. Pode ser diferente. Há escolas que têm a cadeira de educação sexual, mas a imensa maioria, até onde vi, só fala de menstruação, uso de camisinha, gravidez. Nunca vi, nem soube até hoje, de uma educação sexual que fale do prazer, que ensine o prazer, que diga a importância do prazer. É um problema sério.
Você tem 42 anos de atendimento em consultório. Os relacionamentos mudaram muito nesse período?
Muito. De quatro, cinco anos para cá, há uma novidade, que é o maior desafio que os casais estão vivendo: uma das partes propõe a abertura da relação e a outra arranca os cabelos. Geralmente é o homem propondo a abertura, mas há casos em que é a mulher. Vou dar um exemplo: uma médica de 39 anos com o marido de 36, engenheiro, casados há cinco anos. Se gostam muito, estão pensando em ter filho, mas ele adora ir para casas de suingue com ela. E ela teve uma educação religiosa, fica muito magoada porque acha que, se ele a amasse, não iria querer vê-la beijando outro homem. Já brigaram por causa disso. Ele insiste. Então, combinaram que só iriam uma vez de dois em dois meses. Mas ele não aguenta esperar dois meses, e vieram para a terapia de casal. Esse está sendo o maior desafio, aparece cada vez mais. É impressionante a quantidade de gente que faz sexo a três, de casais que contratam garotas de programa. O detalhe é que ninguém conta para ninguém, nem para a melhor amiga. Muitas das mulheres que eu atendo dizem assim: “Faço terapia, mas não conto para a minha terapeuta porque acho que ela não vai entender”. Olha que absurdo.
Se não contam para a terapeuta, estão colocando dinheiro fora, então.
Estão rasgando dinheiro (risos)! Elas não têm coragem de contar e vêm aqui porque me veem na televisão. Atendi um cara muito legal, de 42 anos, casado com uma psicóloga há 15 anos, três filhos, adora a mulher. Me contou que eles fazem sexo todos os dias, se dão superbem. Conversando um dia com ela, ele falou: “Acho que a gente deveria abrir a relação para você poder transar com outras pessoas e eu também. Você teve poucas experiências”. E ela: “Tudo bem”. Dois meses depois, ele descobriu que ela estava tendo um caso. Ele enlouqueceu de ciúme, ficou doido. Me procurou e disse: “Não quero sofrer com isso, não quero sentir ciúme, não quero sentir o que eu senti. Acho que é justo ela ter outras transas, acho justo eu ter. Quero me entender melhor para não sofrer por isso”. Ele acredita naquilo, mas na hora em que vivenciou doeu porque é um condicionamento cultural muito forte. A mudança é lenta e gradual.
É um equívoco pensar que o casamento será capaz de suprir alguém com amor e satisfação sexual pela vida inteira?
Um casamento pode ser ótimo, mas, para isso, as pessoas precisam reformular as expectativas que alimentam a respeito da vida a dois. Por exemplo: as pessoas acham que nada mais vai interessar se o outro não estiver presente, que um vai ter todas as necessidades atendidas pelo outro, que os dois vão se transformar num só. É fundamental que as pessoas tenham liberdade de ir e vir, que as suas ideias sejam respeitadas, seu modo de ser, que tenham amigos e programas em separado, que não haja controle da vida do outro – inclusive da vida sexual do outro. Se as pessoas reformularem as expectativas do amor romântico, de que os dois vão se completar e nada mais vai faltar, e se tiverem respeito pelo outro, aí acho possível continuarem muitos anos bem. Mas com esse modelo de casamento que está aí, eu acho impossível. Não tem condição. Quando estava escrevendo meu primeiro livro, A Cama na Varanda, nos anos 1990, saiu uma pesquisa do IBGE com casados: quase 80% se declararam decepcionados com o casamento. É claro que esse modelo que está aí não funciona.
Casamento com liberdade sexual seria o ideal?
As pessoas são obcecadas pela certeza de exclusividade. Um dos programas que tive no rádio era respondendo perguntas e 99% eram sobre isso. Penso o seguinte: ninguém tem de se preocupar se o outro transou ou não com outra pessoa. Cada um deveria responder a duas perguntas para si próprio: “Me sinto amado? Me sinto desejado?”. Se a resposta for sim para as duas, o que o outro faz quando não está comigo não me diz respeito, não é da minha conta. Não tenho a menor dúvida de que as pessoas viveriam melhor assim. Primeiro, porque não adianta você controlar o outro, isso é uma fantasia. Tem gente que diz assim: “Ah, mas aí você está favorecendo a pessoa a se apaixonar por alguém”. Conheço muita gente que, no meio de um casamento, apaixonou-se e foi embora. Muita gente. Todas tinham relações tidas como monogâmicas. Todas tinham um pacto de exclusividade. Não funciona. Quando as pessoas começam a namorar, já está implícito que o outro só vai transar com você e você só vai transar com ele. Como é que você sabe que você só vai transar com ele? Por quê? Penso que chega uma hora em que, para viver bem, tem de ter sabedoria. Tive um paciente no consultório, um advogado, que tinha a mulher mais ciumenta do mundo. Era impressionante. A mulher acordava às 10h e ligava para ele de meia em meia hora. Controlava tudo: com quem ele almoçou, com quem comeu, com quem saiu. E o cara saía de casa todo dia às 6h30min com a desculpa de que tinha muitos processos no escritório. Todos os dias, ele passava na casa da namorada e transava com ela. Chegava ao escritório lá pelas 9h30min. Quando a mulher começava a ligar, ele estava tranquilo e satisfeito. As pessoas se iludem que podem controlar o parceiro. Não podem.
A fidelidade absoluta lhe parece algo impossível, irreal?
Os modelos tradicionais hoje não dão respostas satisfatórias. Então, abre-se espaço para cada um escolher sua forma de viver. Eu jamais proporia a mudança de um modelo por outro: “Sempre houve exigência de exclusividade, então, agora é proibido ser exclusivo”. Não. Se uma pessoa quiser ficar 40 anos com outra e só transar com ela, tudo bem. Se outra pessoa quiser ter três parceiros fixos, tudo bem também. O importante é que não haja modelo, que cada um possa escolher como quer viver. O único problema é que as escolhas, na maioria das vezes, não são livres. São escolhas determinadas pelo que está no inconsciente, pela culpa, pelo medo. Se você conseguir ter o maior número possível de escolhas livres, melhor.
As pessoas vão optar, cada vez mais, por relações múltiplas?
Não tenho a menor dúvida. Daqui a algum tempo, não sei precisar se são 10, 20 ou 30 anos, menos pessoas vão querer se fechar em uma relação a dois e mais gente vai optar por ter relações múltiplas, variadas. O casamento do jeito que a gente conhece não vai ter chance de continuar existindo diante de todas as transformações que estão ocorrendo. Não quer dizer que não vai ter ninguém que não queira se fechar em um casal. Pode ser que minha tataraneta diga: “Tadinha da minha tataravó, tinha um parceiro para tudo!”. É possível que, daqui a algum tempo, as pessoas tenham vários parceiros: um especial para viagem, um para o sexo, um para programas culturais, e assim por diante.
Ainda é muito forte a idealização da união perfeita e completa?
É, mas isso está mudando por causa do fim do amor romântico. O amor é uma construção social. Em cada período da história, apresenta-se de um jeito. As pessoas pensam que o amor sempre foi como é hoje. O amor romântico começou no século 12, mas nunca foi permitido no casamento, que era por interesses familiares, econômicos. No século 19, o amor romântico passou a ser uma possibilidade, mas essa coisa do romance entrou para valer de 1940 para cá, muito incentivada pelos filmes de Hollywood. Por que eu critico o amor romântico? Ele é calcado na idealização. Você conhece uma pessoa, atribui a ela características de personalidade que ela não possui, casa, se desencanta, responsabiliza o outro, fica com raiva, acha que foi enganado. Isso é o que a gente mais vê: rancor no casamento, falar mal do outro porque idealizou uma pessoa que não existia. Escrevi um livro sobre fidelidade e fui procurar o que os meus colegas de profissão dizem a respeito. Fiquei muito impressionada. Eles usam a palavra traição. Quem usa essa palavra tem uma ideia muito ruim de relação extraconjugal. Dizem que há relação extraconjugal quando o casamento vai mal, quando acaba o amor, a mulher quando trai é porque está magoada. Não vi ninguém dizer o que me parece óbvio: a imensa maioria das relações extraconjugais acontece porque variar é bom. Variar de comida é bom, variar de roupa é bom, variar de lugar onde você passa as férias é bom. As pessoas têm vontade de variar. Podem amar muito o seu parceiro fixo, ter um sexo ótimo, e assim mesmo ter relações extraconjugais. O amor romântico está dando sinais de estar saindo de cena porque hoje o que as pessoas buscam é a individualidade, que não tem nada a ver com egoísmo. Ao sair de cena, o amor romântico está levando sua característica fundamental, a exigência de exclusividade.
Há pouco você escreveu no seu blog que é cada vez menor o tempo de duração de um casamento satisfatório e que as dúvidas em relação a manter ou não um casamento começaram a surgir depois que o cônjuge passou a ser escolhido por amor e não mais por interesses familiares.
Há quem diga que as separações acontecem porque hoje as pessoas são egoístas, que tudo é descartável... sempre esses clichês. Não é nada disso. As separações só começaram a ocorrer quando o amor entrou no casamento. As expectativas mudaram. Antes, o marido deveria ser provedor e respeitador. A esposa deveria ser boa mãe, boa dona de casa. Se isso acontecesse, ninguém se separava. Estavam cumprindo os seus deveres. O marido tinha suas relações fora de casa porque a esposa deveria ser respeitada, virtuosa, o sexo era papai e mamãe, para engravidar. Ele ia ter prazer fora de casa, e as mulheres aceitavam dizendo que isso era da natureza do homem. Quando o amor entrou no casamento, as expectativas mudaram completamente. Passaram a ser de prazer sexual e de realização afetiva. Se um dos dois falha, as pessoas se separam.
A juventude de hoje parece mais indiferente ao peso dos rótulos?
A bissexualidade do pessoal jovem é grande. As meninas, principalmente, experimentam, coisa que antigamente era impensável. Quando você está no meio de um processo de mudança de mentalidade, você encontra comportamentos díspares: jovens conservadores, que estão querendo casar direitinho, e outros não. Meu último livro, O Livro do Amor, para o qual fiquei cinco anos pesquisando, começa na pré-história e passa por todos os períodos do Ocidente. Dois pontos são claros: a opressão da mulher nos últimos 5 mil anos e a repressão da sexualidade nos últimos 2 mil anos. Você percebe a transformação das relações amorosas pelos sinais. O programa do João Jardim, Amores Livres, no GNT, é um sinal da mudança das mentalidades. Outros sinais: as casas de suingue lotadas, a procura do sexo a três, os casais propondo abrir a relação.
Você também acredita na bissexualidade como tendência. Isso vale para as próximas gerações ou os heterossexuais de hoje já devem passar por mudanças?
O importante é que a fronteira entre o masculino e o feminino está se dissolvendo. A grande discussão no Ocidente hoje é o fim do gênero. Há artigos que escrevi há 15 anos em que disse que masculino e feminino não existem. Nós todos podemos ser fortes e fracos, corajosos e medrosos, passivos e ativos, independentemente de sermos homem ou mulher. Quando o sistema patriarcal se instalou, há 5 mil anos, dividiu a humanidade em duas partes e determinou com muita clareza o que era masculino e o que era feminino. Foi criado um ideal masculino de força, sucesso, poder, “homem não chora”. A mulher deveria ser meiga, cordata, submissa. Essa fronteira está se dissolvendo. É bem provável que, daqui a algum tempo, as pessoas escolham o seu objeto de amor pelas características de personalidade, e não mais por ser homem ou mulher.
Diante de uma sociedade ainda tão fortemente homofóbica e de um Congresso capaz de sustentar a definição de família como a união entre um homem e uma mulher, não é difícil imaginar um mundo com cada vez mais bissexuais e relações múltiplas?
O Supremo Tribunal Federal aceita o casamento entre pessoas do mesmo sexo. As famílias sempre foram muito maleáveis. Antigamente, existiam grandes famílias, a maioria vivia no campo, todo mundo morava junto. Com a Revolução Industrial, no século 19, as famílias se mudaram para os centros urbanos e se formaram as famílias nucleares: pai, mãe e filhos. Isso já está dando sinais de mudança há algum tempo. Com as separações, vêm filhos de outros casamentos, há mães que criam os seus filhos sozinhas, os homens que pedem a guarda do filho, algo que antes não acontecia. Há um grande número de pais com guarda compartilhada. Antigamente, quando havia uma separação, nem se discutia, a criança ficava com a mãe. Na minha infância, eu tinha um amiguinho do prédio do lado que morava só com o pai. Os comentários é que a mãe deveria ser uma vagabunda para o juiz não ter deixado o filho com ela. Hoje, a gente sabe que os homens podem cuidar de uma criança tão bem quanto as mulheres. Os papéis eram muito definidos, o que era masculino, o que era feminino. Lembro que homem não podia lavar o cabelo com xampu, isso era coisa de maricas. Lembro que atendi pais com brigas horríveis com os filhos adolescentes, rapazes, que queriam deixar o cabelo comprido. Era coisa de mulher. São muitos os preconceitos. As pessoas nem paravam para refletir sobre os absurdos. Isso está mudando.
Você está no terceiro casamento, uma relação aberta.
Não sei qual é a sua definição de relação aberta. No meu casamento, meu marido não me controla, nem eu a ele. Penso que isso é uma questão de respeito ao outro.
Os seus relacionamentos sempre foram pautados por isso?
Todos. Nos outros dois casamentos, não cheguei a conversar sobre isso, mas nunca tive controle de ninguém e nunca permiti controle sobre mim. O meu atual marido me conheceu fazendo palestra, então ,ele já sabia (risos). Acho um desrespeito chegar para o outro e exigir: “Só transe comigo”. Não cabe. Claro que toda relação é regida por códigos, mesmo que não sejam verbalizados. Já vi pessoas que dizem assim: “Pode transar com quem quiser, eu também, desde que seja uma vez só com aquela pessoa”. Eu não acho que seja respeitoso ficar proibindo ele de transar com quem quiser. A gente já convive muito tempo junto, ele é escritor também, escrevemos cinco livros juntos. Moramos em um apartamento onde tenho o meu escritório e ele tem o dele. É muito importante começar a refletir sobre as crenças, os valores aprendidos, para poder se livrar dos preconceitos e do moralismo. É isso que atrapalha a vida. Para você viver bem, tem de ter coragem. Você pode escolher passar a vida subjugada aos valores aprendidos, sofrendo com medos, culpas, frustrações. Ou você pode questionar tudo isso e escolher que caminho quer para a sua vida.
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Reportagem por : larissa.roso@zerohora.com.br
Fonte: http://www.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a4923841.xml&template=3898.dwt&edition=27979§ion=1016
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