Em obra recém-lançada, filósofo e colunista da Folha diz que defesa do mais fraco costuma embutir mentiras
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Autor admite que ao valorizar uma minoria de "melhores" pode estimular intolerância, mas por erro de leitura
O pensamento politicamente correto é uma "praga", uma atitude política
que combina "covardia, informação falsa e preocupação com a imagem".
Quem afirma é o filósofo e colunista da Folha Luiz Felipe Pondé em seu novo livro, o "Guia Politicamente Incorreto da Filosofia" (Leya).
O politicamente correto conta uma mentira, afirma Pondé, ao defender que
"o mais fraco politicamente é por definição melhor moralmente". Para
seus defensores, tudo seria justificado "dizendo que você é pobre, gay,
negro, índio, ou seja, algumas das vítimas sociais do mundo
contemporâneo".
Trata-se, segundo o autor, de uma visão de mundo quase sempre "mau
caráter", que iguala a maioria ao bem, a massa numérica à bondade.
Pondé simplesmente inverte o argumento. Para ele, "o povo é sempre
opressor" e "a maioria tende à covardia e à fraqueza". O colunista
defende a existência de diferenças naturais de virtudes entre os homens,
que o discurso igualitário, "a serviço do mau-caratismo, da preguiça e
da nulidade", buscaria mascarar.
Alguns poucos seriam mais fortes e mais capazes. Esses, "os melhores",
lideram. "Os médios e medíocres seguem", afirma o filósofo.
O argumento é defendido de maneira beligerante. "O mundo virou um
churrasco na laje", "mulher gosta de dinheiro" e "a Bahia é uma terra
devastada pela alegria" são subtítulo de capítulos.
RISCO
No próprio livro, Pondé argumenta que sua defesa de uma minoria de
"melhores" e sua crítica ao discurso de "consciência social" não
implicam preconceito ou discriminação contra os grupos sociais citados:
negros, judeus, gays, índios, mulheres.
Mas é cabível perguntar se ele não teme ser mal compreendido. Se
racistas, homofóbicos e antissemitas não poderão encontrar em suas
palavras uma justificação; e os intolerantes, um estímulo.
"Existe sempre esse risco", admite ele. "Quando você é lido
publicamente, é sempre de alguma forma mal lido; e às vezes os riscos
vêm de quem vira seu fã, não de quem está criticando você."
TIPO MÉDIO
Não são poucos os críticos e os fãs do colunista. Mas, para Pondé, seus
leitores são idiotas. "O tipo médio do leitor de jornal ou do
telespectador de TV é um medíocre que se acha o máximo", escreve o
doutor em filosofia pela USP e professor da PUC-SP.
"O leitor e o telespectador são idiotas, e no fundo nós, que 'somos a
mídia', pouco os levamos em conta porque quase nada do que eles dizem
vale a pena."
Pondé dá uma pista da razão de seu sucesso ao comentar o capítulo sobre os seus leitores-idiotas.
"Há algo de retórico nesse comentário. Retórico no sentido de produzir
uma ampliação do argumento, na medida em que o debate é público. Mas há
também isto: quando você fala uma coisa dessas para o leitor, muitos se
colocam do lado de quem está escrevendo. Meu cunhado é um idiota; eu
não."
EDITORA Leya
QUANTO R$ 39,90 (224 págs.)
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