Gilles Lapouge*
O presidente francês, François Hollande, teve uma ideia e
a confiou numa entrevista coletiva concedida aos seis maiores jornais
europeus. "Estamos perto, muito perto da saída da crise do euro... O
pior ficou para trás." Nada mal...
Sob esse título retumbante, Hollande explicou. Está se conseguindo
resolver de maneira definitiva a situação da Grécia que fez muitos
esforços e deve ter assegurada sua permanência na zona do euro. Ao mesmo
tempo, responderam-se às demandas dos países que fizeram as reformas
esperadas e devem poder se financiar com taxas razoáveis.
Enfim, a Europa criou a União Bancária.
E para os que poderiam duvidar do otimismo de Hollande, este
prosseguiu dando garantias. Essas garantias, na verdade, são o próprio
Hollande. Ele fala com frequência, na primeira pessoa, como se fosse
madame Angela Merkel: "Quero que todas as questões relativas à União
Bancária sejam acertadas até o fim do ano (...) Eu quis que a Europa
assumisse a prioridade do crescimento, sem recolocar em questão a
seriedade orçamentária...".
No embalo, ele deu suas instruções aos dirigentes dos países da zona
do euro: "Os países que estão com superávit devem estimular sua demanda
interna com um aumento dos salários e uma redução das deduções". E, ao
contrário, teve um pensamento para os países que sofrem com a
austeridade: "Não se deve infligir uma pena perpétua a nações que já
fizeram sacrifícios consideráveis se os povos não constatarem, em algum
momento, o resultado de seus esforços". Não é difícil perceber, por trás
desses "retratos falados", primeiro a Alemanha, e depois a Grécia, a
Espanha, a Itália, a Irlanda...
Aqui e ali, percebem-se críticas à Alemanha, mas sem acrimonia. Sobre
a chanceler Merkel, ele disse: "Ela é clara. Ela diz as coisas. Isso
faz ganhar tempo. Eu tenho a mesma abordagem. Em seguida, de nossos
pontos de partida, nós procuramos encontrar o melhor ponto de chegada. É
mais fácil com esses pontos de partida explícitos do que com pontos de
partida ambíguos. E ninguém pode dizer que madame Merkel é ambígua."
Essas declarações são duplamente importantes. De um lado, Hollande se
mostra um belo otimista. Ele é o primeiro "vigia" que nos anuncia que o
céu se desanuviará e que um dia os bons tempos voltarão. De outro, esse
homem que, com frequência, pintamos como indeciso, um pouco apagado, se
apresenta como um chefe. E como um dos arquitetos da Europa. "Eu
quero..., eu quis... eu decidi..., etc." O otimismo de Hollande será
partilhado? No mesmo jornal Le Monde (consagrado à Europa), o
ministro brasileiro da Fazenda, Guido Mantega, foi mais prudente. "Não
vimos uma compra de dívida pelo Banco Central Europeu (BCE). O Fundo
Europeu de Estabilidade Financeira (Feef) não funciona, embora essa
medida tenha sido anunciada há um ano. Os problemas persistem de maneira
muito grave na Grécia e na Espanha.
"As soluções propostas dizem respeito apenas aos problemas visíveis,
em outras palavras, à possibilidade de crash dos bancos e ao
refinanciamento da dívida soberana. As medidas anunciadas podem pôr fim
ao estresse desses dois mercados, mas não resolverão a questão central
da retomada."
"... Trata-se de saber se essa iniciativa, que consiste em dizer às
populações que os salários continuarão a baixar e o trabalho continuará a
faltar durante dois ou três anos, ainda é politicamente viável. É uma
estratégia temerária." O ministro brasileiro falou depois de Hollande
que também desejou colocar a ênfase no retorno do crescimento.
"Sim", disse Mantega, "mas mesmo concordando com Hollande, não vejo
essas questões na ordem do dia. A proposta consiste em fazer uma
economia de 30 bilhões aumentando impostos e reduzindo despesas.
Mas onde está o programa de investimentos? O banco europeu para o
desenvolvimento já existe, mas não funciona. É preciso pensar com
urgência em uma estratégica que abrevie a crise. O tempo passa..." E
Mantega terminou com a bela frase "Como disse John Maynard Keynes, no
longo prazo, estaremos todos mortos".
TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK
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* Escritor e jornalista francês. Colunista do Estadão.
Fonte: http://www.estadao.com.br/19/10/2012
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