Em um mundo onde o acesso a informação está cada vez mais
democratizado e o conhecimento se multiplica em uma velocidade nunca
antes vista, ensinar se tornou um grande desafio. Os professores não são
mais os únicos donos da verdade. Os currículos precisam ser flexíveis e
construídos de acordo com as novas necessidades do mercado.
As universidades, portanto, não podem mais abrigar apenas uma elite
que dita as regras e que está distante do que acontece no mundo real.
Embora muito se fale sobre essas transformações, que envolvem também a
construção de um novo modelo de negócio mais sustentável, a maior parte
das instituições de ensino superior ainda funciona da mesma forma há um
século - e pode estar caminhando para a obsolescência.
Essas foram algumas conclusões da 3ª Conferência Internacional
"Reinventando o Ensino Superior", cujo tema deste ano foi
"Eduempreendedorismo: Novas Formas e Caminhos Para a Diferenciação no
Ensino Superior". O encontro, promovido pela IE University, reuniu na
sede da escola espanhola, reitores, gestores de associações de ensino e
especialistas de diversos países.
O objetivo foi colocar no mesmo ambiente representantes de diferentes
tendências e modelos de escolas, das mais tradicionais como Oxford às
mais modernas como Brown, além de instituições como o World Economic
Forum e a Wikipedia - todos com o desafio comum de entender esse novo
momento no ensino.
"A globalização trouxe um novo tipo de competição e as universidades
precisam responder às necessidades atuais do mercado", diz Santiago
Iñiguez, presidente da IE Business School. Ele diz que existe uma
pressão enorme para que essas instituições sejam mais efetivas em seus
modelos de negócios e ensino.
"Há uma explosão da demanda por ensino superior, especialmente em
países emergentes como Brasil, China e Índia. É preciso, no entanto,
pensar em qualidade", diz Arnould de Meyer, presidente da Universidade
de Negócios de Cingapura. Ele trabalhou por 23 anos no Insead, onde foi
responsável por montar a operação asiática da escola na região.
De acordo com Meyer, a escassez de professores doutores em todo mundo
pode comprometer esse desenvolvimento. "A Indonésia, por exemplo, já
sofre com esse problema". Em sua opinião, é necessário formar um novo
perfil de professor que seja ao mesmo tempo dedicado à pesquisa, mas que
tenha trânsito no mercado. "Os acadêmicos, no geral, são avessos ao
networking, mas isso precisa mudar. "
Não se trata, contudo, apenas do perfil de quem ensina, mas também do
conteúdo oferecido em sala de aula. "É preciso dividir com os
estudantes o desenho dos currículos para que eles sejam cada vez mais
interativos e customizados", diz Meyer. As pesquisas acadêmicas devem
ser interdisciplinares e alinhadas com as necessidades do conhecimento e
do mercado.
A inclusão das artes no currículo em todos os cursos da universidade
americana Brown, segundo seu diretor de departamento de educação Kenneth
Wong, é uma forma de inserir valores que vão além das disciplinas
tradicionais. "Acreditamos na formação de um cidadão mais engajado na
sociedade, interessado em saber a natureza dos governos e dos mercados, e
não apenas as últimas tendências na área de marketing", explica.
Um dos grandes desafios das universidades hoje é formar os estudantes
para um mercado de trabalho que ninguém sabe ao certo como será. "Temos
que preparar os jovens para empregos que ainda não existem", diz Carlos
Enrique Cruz Limón, vice-reitor da universidade mexicana Tecnológico de
Monterrey. Para ele, as escolas vão ter que desenvolver novas atitudes e
competências dos alunos tendo em vista que as transformações estão cada
vez mais rápidas.
O uso de tecnologias e ferramentas modernas que disseminam o
conhecimento como o Wikipedia - enciclopédia virtual construída
coletivamente por milhares de usuários voluntariamente, que hoje é o
quinto site mais popular do mundo e tem textos escritos em mais de 300
idiomas -, é visto como inevitável, mas exige cuidado. "Os alunos
precisam buscar informação em mais de um lugar e desenvolver o
pensamento crítico. As escolas devem estimular isso", diz Meyer.
A diretora do programa de educação da Fundação Wikimedia, Annie Lin,
diz que o objetivo do Wikipedia é democratizar a informação. "Ele vai
conduzir o aluno a outras fontes", diz. O uso do site, segundo ela,
ajuda a treinar algumas habilidades importantes no mercado atual.
"Refiro-me à comunicação on-line, ao contato com pessoas de diferentes
nacionalidades e backgrounds tentando solucionar problemas e trabalhando
juntas" diz. Além disso, o estudante treina sua capacidade de síntese e
clareza ao escrever um texto.
O ensino on-line é outro assunto que está sendo muito discutido entre
os educadores e que vem crescendo aos poucos em vários países. Para
Michele Petochi, diretor da área de educação do Fórum Econômico Mundial,
a tecnologia ainda é cara e sua efetividade está sendo testada. O custo
de um curso on-line em uma universidade de primeira linha, segundo ele,
é três vezes maior do que o pago pelo aluno. "O mundo não sabe ainda de
onde as pessoas aprendem de verdade, se é com experiências virtuais e
presenciais, se é no trabalho ou em atividades sociais", afirma.
Com o aumento dos cursos a distancia e as parcerias internacionais,
algumas escolas questionam se ainda vale investir em infraestrutura.
"Estamos olhando cada vez mais para fora", diz o vice-reitor de
Monterrey. Para a diretora do programa Education UK do British Council,
Pat Killingley, são os próprios estudantes que pedem esse movimento
internacional. "Eles dão as cartas e os negócios se organizam a partir
dessa demanda."
Para se manterem sustentáveis e ampliarem o número de parceiros e
escritórios ao redor do mundo, como fazem as escolas de negócios, as
universidades terão que olhar para um público que está acima da faixa
entre 18 e 28 anos de idade. "O conhecimento do mundo dobra de tamanho a
cada sete anos. Isso significa que as pessoas precisarão pensar em um
estudo de longo prazo e as universidades têm que estar preparadas", diz
Meyer.
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Reportagem Por Stela Campos | De Madri
Fonte:http://www.valor.com.br/carreira/2883342/universidades-debatem-o-futuro-do-ensino#ixzz2AhPjw9yV
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