Fernando Dantas*
Segundo estudo, quase 3 bilhões de pessoas, ou 40% da população mundial, devem deixar a pobreza, principalmente nos países emergentes
Um total de quase 3 bilhões de pessoas, ou 40% da população
mundial, ascenderá à classe média até 2050, e elas virão quase
exclusivamente dos atuais mercados emergentes. Dessa forma, o consumo
dos países emergentes pode saltar de um terço do consumo global para
dois terços até 2050. A classe média no estudo é definida como famílias
com ganhos anuais entre US$ 3 mil e US$ 15 mil, com US$ 5 mil sendo o
divisor entre as classes médias baixa e alta.
Essas projeções estão no relatório "Consumidor em 2050/A alta da
classe média dos mercados emergentes", um minucioso estudo sobre os
padrões de consumo das massas que estão enriquecendo em países como
China, Índia, Filipinas, Peru e México realizado pelo departamento de
pesquisa global do HSBC, e divulgado em outubro. O Brasil também aparece
no relatório, mas com previsões que não são das mais brilhantes.
Segundo o HSBC, à medida que a renda cresce, a comida e outros
produtos básicos param de consumir a maior parte do salário e há mais
dinheiro para as coisas "divertidas" da vida. O estudo mostra que as
chamadas despesas discricionárias, que são as menos ligadas às
necessidades básicas de sobrevivência, sobem de aproximadamente um terço
para 60% do consumo total, quando os salários sobem de US$ 1 mil por
ano para algo em torno de US$ 15 mil.
O gasto com comida, que é de 43% para rendas anuais de até US$ 1 mil,
caem para 10,6%, para ganhos por ano de US$ 15 mil ou mais. Já os
restaurantes e hotéis, que respondem por apenas 2,9% na faixa de renda
mais baixa, sobem para 8,3% na mais alta.
Um dos países que deve ter um dos crescimentos mais fenomenais de
consumo até 2050, pela combinação de expansão econômica, estrutura
etária (população jovem) e crescimento populacional, são as Filipinas.
Segundo o relatório, o crescimento em restaurantes, recreação e cuidados
pessoais deve ser multiplicado por 25.
Consumo. Já a demanda por roupas, que hoje deriva em
65% dos mercados desenvolvidos, e 35% dos países emergentes, deve ter
uma reviravolta, como em muitos outros itens de consumo. Em 2050,
segundo a previsão do HSBC, 57% da demanda por roupas virá dos mercados
emergentes, e a parcela dos mercados ricos cairá para 43%.
Em termos de aparelhos portáteis de alta tecnologia, os mercados
emergentes respondem por apenas 24%, e os ricos, por 76%. Em 2050, 55%
da demanda virá dos emergentes, e apenas 45% dos desenvolvidos. O padrão
se repete com os serviços financeiros, até de forma mais extrema. A
parcela dos ricos vai recuar de 82% para 44% entre 2010 e 2050, enquanto
a dos emergentes subirá de 18% para 56%.
A revolução de consumo dos emergentes atingirá as mais diversas
áreas, como o turismo. Em 2011, 60 milhões de chineses viajaram ao
exterior, número que deve subir para 130 milhões em 2015 e 200 milhões
em 2020. Este último número é igual a três vezes o atual fluxo de
turistas americanos para o exterior.
O estudo mostra ainda o grande espaço para o crescimento do turismo
ao exterior das nações emergentes. Enquanto 20% da população americana,
34% da francesa e 13% da japonesa viajam anualmente para fora, na China o
porcentual corresponde a apenas 4,3%, e é ainda mais baixo em países
como o Brasil, com 2,7%, e a Índia, com 1,2%.
O trabalho mostra ainda que a renda dos trabalhadores emergentes vai
crescer velozmente até 2050. No caso dos chineses, o salto será de sete
vezes, com a renda individual anual per capita aumentando de US$ 2,5 mil
para US$ 18 mil. Como nota o estudo, "com uma população de 1,4 bilhão
de pessoas hoje, isto é muita gente se tornando mais rica".
Já a renda da população da Índia (que atingirá 1,6 bilhão de pessoas
em 2050) será seis vezes maior que a atual. As Filipinas, cuja população
será o dobro da alemã em 2050, vão ter um aumento de renda de nove
vezes. Entres os países latino-americanos, um dos maiores destaques do
relatório é o Peru, que é considerado uma "estrela". O aumento médio da
renda peruana projetado até 2050 é de quase 5% ao ano, comparado com
menos de 3% para o Brasil.
Renda. O Brasil, aliás, não aparece muito bem no relatório. A
previsão de renda per capita brasileira em 2050 é de US$ 13.547,
inferior a de países como México (US$ 21.793), Turquia (US$ 22.630),
Argentina (US$ 29 mil), Malásia (US$ 29.247), Chile (US$ 29.523) e até
de países como Peru (US$ 18.940), Líbia (US$ 26.182), República
Dominicana (US$ 16.406) e El Salvador (US$ 13.729).
Na verdade, o que conta muito contra o Brasil, por ser um dado
importante na metodologia do estudo, é a demografia. Segundo o
relatório, entre todos os emergentes, o Brasil terá a pior deterioração
demográfica entre 2010 e 2050, com uma alta da idade mediana de 29 para
45 anos.
Segundo o trabalho, "os indivíduos tendem a fazer a maior parte do
seu consumo durante seu tempo de vida entre as idades de 16 e 40 anos - o
período quando os níveis de renda sobem, as casas e as famílias estão
sendo construídas, e antes que os consumidores comecem realmente a
poupar para a aposentadoria".
As Filipinas, novamente, apresentam a melhor demografia. A idade
mediana do país é de apenas 22 anos, e em 2050 será de 32. A pior
demografia está no Japão. Em 2050, quase 25% dos japoneses terão mais de
75 anos. Segundo estimativa da fabricante Fujitsu, já neste ano o
consumo de fraldas geriátricas no Japão deve ser maior que o de fraldas
de bebês.
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* É repórter especial de Economia do Estado desde 2000. Formado em Jornalismo pela PUC-Rio.
Fonte: Estadão on line, 21/10/2012
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