No jornal britânico The Guardian do dia
5 de outubro, apareceu uma entrevista
com Hans Küng,
renomado teólogo católico,
fortemente em discordância com vários
aspectos da doutrina da sua Igreja.
Ainda em 1970, ele publicou um texto
em que declarava como inadmissível
a doutrina da infalibilidade papal.
Com a recente entrevista, o teólogo suíço, a quem em 1979 fora revogada a autorização ao ensino da teologia católica, volta sobre uma série de pontos da doutrina católica e convida clérigos e leigos católicos à sublevação contra a atual organização institucional e doutrinal católica. Sobre a hierarquia, ele fala como de uma realidade corrompida, sem credibilidade, insensível às verdadeiras necessidades dos fiéis.
Ele não usa meios termos para denunciar a pretensão papal de absoluta obediência por parte dos bispos. Ele vê muita semelhança entre o juramento que estes pronunciam e o dos generais alemães com relação a Hitler. Por isso, os bispos são reduzidos a "yes men", incapazes de defender posições avançadas como o uso dos anticoncepcionais ou a ordenação das mulheres. Küng reforça a dose ao apresentar o atual papa como um Putin católico. O primeiro vem das fileiras do KGB, e o segundo de algo de semelhante que é chamado de Congregação para a Doutrina e a Fé. Trata-se de um "putinismo" vaticano, como diz Küng.
Küng critica Ratzinger por ter "escondido" vários casos de crimes sexuais cometidos por padres em diversas partes do mundo. Ele também critica um excesso de pomposidade: "Vemo-lo frequentemente envolto em hábitos dourados", "com a coroa de um papa do século XIX" e "paramentos refeitos no modelo daqueles de Leão X Médici", o papa que escandalizava Lutero pelos luxos e pela corrupção no papado. Ele também o critica por favorecer a formação de uma multidão fanática com o único objetivo de louvá-lo.
Um "pontificado das oportunidades perdidas" é o modo pelo qual Küng chama o reino de Bento XVI: ele se refere em particular ao desperdício de oportunidades na reconciliação com o protestantismo, com o judaísmo, com os ortodoxos e com os muçulmanos. No campo da ética, Küng denuncia que nada foi feito pelas populações africanas na sua luta contra a Aids e impediu-se uma séria política de controle da natalidade. Küng não alimenta nenhuma confiança na capacidades da hierarquia católica de reformar a si mesma e a Igreja (ele parece estar falando dos políticos que se sentam no nosso Parlamento [italiano]!).
Por isso, ele confia em uma sublevação "de baixo" confia na atividade de fiéis que saibam dizer não, que não pretendem tolerar muito mais o estado de fato. Os seus dados lhe dizem que na Áustria há entre 300 e 400 padres abertos à sublevação, e que na Suíça há outros 150. Ele especifica que a tentativa do bispo de Viena de calar os padres teve um resultado miserável por causa da simpatia de que eles gozam junto à população. Quem leva a voz defende posições, no fim das contas, modestas como: admitir à comunhão os divorciados em segunda união, abrir às mulheres posições importantes na hierarquia, deixar mais espaço aos leigos. Tudo isso, no entanto, foi bloqueado pelo Vaticano.
Küng, que tem 84 anos hoje, apesar das suas desventuras, as quais não se subtraiu com um vil obséquio, graças à sua coragem e à sua liberdade de pensamento e de palavra, continua sendo um padre e não deixou de se comprometer com a renovação da sua Igreja e com o diálogo entre as fés. Há 20 anos, é o animador da fundação Weltethos, que se ocupa da ética no mundo. Os seus livros, as suas solicitações e o seu empenho continuam sendo contribuições estimulantes em todos os campos e não permanecerão em silêncio, mesmo que as conveniências do momento tentem cobri-los com um verniz de hipocrisia.
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A opinião é de Salvatore Rapisarda, publicada na revista Riforma, das Igrejas evangélicas batista, metodista e valdenses italianas, 19-10-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Fonte: IHU on line, 23/10/2012
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