terça-feira, 16 de outubro de 2012

Era dos excessos

 Paulo Guedes*
 
A maior ofensa aos deuses na Antiga Grécia eram as aspirações sem limite dos humanos. Os gregos antigos  atribuíam a perdição dos homens e a queda dos impérios ao castigo dos deuses às nossas desmedidas pretensões. A essa falta de moderação que nos condena aos excessos, a esse ímpeto que nos leva a desafiar os deuses pela ousadia de tentar feitos sobre-humanos, os gregos designavam por “húbris”.

Pois bem, as principais crises contemporâneas registram o eterno retorno desse tema humano, demasiadamente humano, da falta de moderação e da condenação aos excessos. Foram devastadores os excessos cometidos por financistas anglo-saxões contra o regime fiduciário ocidental. Foram irresponsáveis também os abusos cometidos pela social-democracia europeia contra a viabilidade financeira de sistemas públicos de saúde, educação e aposentadorias, redes de solidariedade que sustentam a civilização contemporânea.

Os excessos dos financistas e dos políticos quebraram seus bancos e seus governos. Enquanto os economistas celebraram as últimas décadas como o período da Grande Moderação, futuros historiadores examinando retrospectivamente nossa época dirão que essa foi uma Era dos Excessos, caracterizada exatamente pela enorme falta de moderação.
 
"Futuros historiadores examinando 
retrospectivamente nossa época
 dirão que essa foi uma Era dos Excessos"
 
Perdiam o juízo políticos, financistas, famílias e governos, embriagando-se todos com o endividamento excessivo. Faltou moderação nos financiamentos imobiliários, na alavancagem do sistema financeiro, nas promessas de  benefícios e aposentadorias futuras e nas doses cada vez maiores de liquidez injetadas por bancos centrais nas veias bancárias, muito antes do colapso de 2008-2009. A percepção do risco de cada instituição financeira era anestesiada  enquanto subia exponencialmente o risco sistêmico, fenômeno clássico de moral hazard — estímulo ao risco  excessivo pela falta de moderação das próprias autoridades monetárias.
 
O noticiário brasileiro registra também mais um episódio de perdição dos homens por ambição excessiva. O PT é um partido com extraordinárias contribuições à democracia brasileira. Destacou-se na defesa da transparência e da democratização dos orçamentos públicos. Mas, inebriados pelo poder, perderam-se alguns em desmedidas pretensões. Ofenderam aos deuses do Supremo, e por eles serão punidos.
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* Um dos fundadores do Instituto Millenium, Paulo Guedes é economista com Ph.D pela Universidade de Chicago, EUA. É fundador e sócio majoritário do grupo financeiro BR Investimentos e um dos quatro fundadores do Banco Pactual. Assina colunas no jornal “O Globo” e na revista “Época”. Foi professor de macroeconomia na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), na Fundação Getúlio Vargas (FGV) e no Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA) no Rio de Janeiro. Ex-CEO e sócio majoritário do Ibmec. Suas áreas de atuação são: o mercado de capitais e gestão de recursos.
Fontes: O Globo, 15/10/2012
http://www.imil.org.br/artigos/era-dos-excessos/?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+org%2Fhetj+%28Instituto+Millenium%29

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