Paulo Guedes*
A maior ofensa aos deuses na Antiga Grécia eram as aspirações sem
limite dos humanos. Os gregos antigos atribuíam a perdição dos homens e
a queda dos impérios ao castigo dos deuses às nossas desmedidas
pretensões. A essa falta de moderação que nos condena aos excessos, a
esse ímpeto que nos leva a desafiar os deuses pela ousadia de tentar
feitos sobre-humanos, os gregos designavam por “húbris”.
Pois bem, as principais crises contemporâneas registram o eterno
retorno desse tema humano, demasiadamente humano, da falta de moderação e
da condenação aos excessos. Foram devastadores os excessos cometidos
por financistas anglo-saxões contra o regime fiduciário ocidental. Foram
irresponsáveis também os abusos cometidos pela social-democracia
europeia contra a viabilidade financeira de sistemas públicos de saúde,
educação e aposentadorias, redes de solidariedade que sustentam a
civilização contemporânea.
Os excessos dos financistas e dos políticos quebraram seus bancos e
seus governos. Enquanto os economistas celebraram as últimas décadas
como o período da Grande Moderação, futuros historiadores examinando
retrospectivamente nossa época dirão que essa foi uma Era dos Excessos,
caracterizada exatamente pela enorme falta de moderação.
"Futuros historiadores examinando
retrospectivamente nossa época
dirão que essa foi uma Era dos Excessos"
Perdiam o juízo políticos, financistas, famílias e governos,
embriagando-se todos com o endividamento excessivo. Faltou moderação nos
financiamentos imobiliários, na alavancagem do sistema financeiro, nas
promessas de benefícios e aposentadorias futuras e nas doses cada vez
maiores de liquidez injetadas por bancos centrais nas veias bancárias,
muito antes do colapso de 2008-2009. A percepção do risco de cada
instituição financeira era anestesiada enquanto subia exponencialmente o
risco sistêmico, fenômeno clássico de moral hazard — estímulo ao risco
excessivo pela falta de moderação das próprias autoridades monetárias.
O noticiário brasileiro registra também mais um episódio de perdição
dos homens por ambição excessiva. O PT é um partido com extraordinárias
contribuições à democracia brasileira. Destacou-se na defesa da
transparência e da democratização dos orçamentos públicos. Mas, inebriados pelo poder,
perderam-se alguns em desmedidas pretensões. Ofenderam aos deuses do
Supremo, e por eles serão punidos.
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* Um dos fundadores do Instituto Millenium, Paulo Guedes é economista com
Ph.D pela Universidade de Chicago, EUA. É fundador e sócio majoritário
do grupo financeiro BR Investimentos e um dos quatro fundadores do Banco
Pactual. Assina colunas no jornal “O Globo” e na revista “Época”. Foi
professor de macroeconomia na Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro (PUC-Rio), na Fundação Getúlio Vargas (FGV) e no Instituto de
Matemática Pura e Aplicada (IMPA) no Rio de Janeiro. Ex-CEO e sócio
majoritário do Ibmec. Suas áreas de atuação são: o mercado de capitais e
gestão de recursos.
Fontes: O Globo, 15/10/2012
http://www.imil.org.br/artigos/era-dos-excessos/?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+org%2Fhetj+%28Instituto+Millenium%29
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