sábado, 13 de outubro de 2012

A criança e o porquinho

 Alfredo Meneghetti Neto*
 
Os pais devem estar atentos às crianças muito consumistas. Uma pesquisa do professor Mischel, nos Estados Unidos, demonstrou que não conseguir controlar os impulsos é ruim e que isso já nasce com a pessoa. O estudo começou em uma sala de aula, com um grupo de crianças de quatro anos de idade. Ele lhes ofereceu um marshmallow para ser consumido imediatamente, mas, se eles esperassem um pouco, poderiam, ao invés de um, ter dois marshmallows! A seguir, ele se ausentou por cerca de 20 minutos. Como seria de se esperar, algumas crianças comeram imediatamente um marshmallow, e outras decidiram esperar, recebendo, portanto, dois deles! Quatorze anos mais tarde, o professor Mischel retornou à mesma aula e aplicou um teste. Foram, então, apresentadas diferenças significativas entre os dois grupos de crianças. Aquelas que conseguiram atrasar a gratificação (esperando pelo regresso do professor Mischel) foram mais positivas e persistentes. Já as crianças que consumiram imediatamente o marshmallow foram mais indecisas e menos autoconfiantes. Assim, as crianças que não conseguem controlar o seu impulso tendem a ter baixa satisfação profissional, má saúde e mais frustração na vida.

Provavelmente, um dos maiores erros é não ensinar as crianças a lidarem com o dinheiro. E o fato de não se falar sobre isso em casa pode fazer com que as crianças tenham uma ideia errada sobre a vida. Muitas crianças poderão pensar que as luzes da casa, o telefone e a televisão são obras de Deus e que ele mesmo se encarregará de mantê-los sempre funcionando. Desse modo, quanto mais cedo os pais falarem sobre finanças, mais rápido elas entenderão que o dinheiro é o que faz movimentar tudo em casa e que é importante saber administrá-lo bem.

Desde cedo, com dois ou três anos de idade, as crianças podem começar a receber lições de economia. Pode-se mostrar algumas moedas e notas para elas, espalhando-as pelo chão e pedindo para elas identificarem as moedas de 25 ou 50 centavos e também as notas de R$ 2 e de R$ 5.

A partir dos cinco anos, a criança já pode ser levada a um supermercado para ser ensinada e estimulada com as noções de caro e barato, troco e poupança. Isso vai ter um efeito didático importante, mesmo que elas ainda não saibam verbalizar seus pensamentos. Mas não se pode usar o dinheiro para remunerá-las por tarefas da casa, como fazer a cama ou arrumar o quarto, pois isso deve ser sua obrigação. Também é importante estimular a criança a participar do orçamento doméstico, incentivando-a a dar sugestões sobre modos de reduzir despesas.

Depois disso, gradativamente, deve-se apresentar-lhes noções do custo do dinheiro (juros) e de consumo consciente e ajudá-las a abrir uma poupança, oferecendo-lhes um porquinho para guardar dinheiro ou até mesmo dois porquinhos, um para os eventos comerciais do ano e outro para o seu presente de aniversário. Isso pode fazer toda a diferença para corrigir as crianças muito consumistas, tão bem identificadas no estudo do professor Mischel.
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*Economista da FEE e professor da PUCRS
Fonte:  http://www.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a3916781.xml&template=3898.dwt&edition=20595&section=1012
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