segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Uma Igreja Católica que deveria abandonar a sua rigidez

É um exercício do qual a Igreja Católica detém o segredo e do qual podemos reconhecer-lhe o mérito. Por três semanas, a partir de domingo, 7 de outubro, cerca de 260 bispos vindos de todas as partes do mundo se envolverão em Roma em uma introspecção para tentar responder a uma pergunta fundamental sobre o futuro da instituição: nas sociedades contemporâneas, fortemente descristianizadas, como se pode convencer as pessoas da pertinência da mensagem cristã?

A reportagem é de Stéphanie Le Bars, publicada no jornal Le Monde, 07-10-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

A pergunta é quase tão antiga quanto a Igreja. Mas assume uma relevância particular em um contexto de pluralismo religioso e cultural que já se difunde muito velozmente e em uma época em que a Igreja Católica, muitas vezes contracorrente, pretende continuar fazendo parte dos debates éticos e antropológicos que sacodem as sociedades modernas.

Para preparar o Sínodo dedicado à "nova evangelização", a Igreja analisou severamente os motivos internos e externos que, há várias décadas, confirmam uma desafeição pela crença e pela prática religiosa nos países tanto do Norte quanto do Sul. Os bispos expressaram preocupação com uma "apostasia silenciosa" dos fiéis que se afastam da Igreja.

Com lucidez, levaram em consideração "a credibilidade das instituições eclesiais", "a excessiva burocratização das estruturas institucionais", a "insuficiência numérica do clero", "celebrações litúrgicas formais, ritos repetitivos", ou, ainda mais preocupante, a falência da Igreja "em dar respostas adequadas aos desafios" do momento.

Fraquezas ainda mais preocupantes por se apresentarem, segundo os bispos, em um contexto hostil, caracterizado pelos efeitos devastadores das "espiritualidades individualistas", pelo "neopaganismo", pelo "niilismo cultural", pelo "fechamento à transcendência" ou pelos "novos ídolos que são a ciência e a tecnologia".

Essa vontade de analisar as próprias fraquezas e de remediá-las é louvável e é única, nesse nível, entre as grandes religiões. Mas em um momento em que, com o 50º aniversário do Concílio Vaticano II, se perfilam longos meses durante os quais os católicos de todo o mundo serão chamados a fazer um balanço e a tirar os ensinamentos de um exame de consciência muito mais importante, a questão em jogo para a Igreja está realmente apenas no modo de propôr a sua mensagem? Ou na evolução de uma parte dessa mensagem?

O Vaticano II, segundo a opinião geral, abriu a Igreja ao mundo. Foi um Concílio que produziu elementos de ruptura raramente igualados na história dos concílios: da afirmação da liberdade religiosa às novas relações com o judaísmo, do convite feito aos fiéis de se apropriarem do estudo da Bíblia a uma liturgia mais acessível...

Segundo certas interpretações, conservadoras para não dizer integralistas, foram tais evoluções que aceleraram a crise da Igreja. Outras correntes defendem, ao contrário, a ideia de que, sem o Vaticano II, a distância entre a Igreja e a sociedade seria abismal hoje. Uma coisa é certa: o Concílio Vaticano II e as reflexões posteriores evitaram enfrentar a maior parte dos pontos de rigidez que dão origem a muitas perplexidades entre os fiéis.

Há católicos que se interrogam. Encontramo-los na camada chamada de "progressista" dos fiéis e do clero, mas também em ambientes mais pragmáticos, mais ligados "à mensagem de Jesus" do que às obrigações e às proibições da instituição. Todos chamam a atenção sobre os mesmos assuntos. Podemos citar a atitude com relação aos divorciados em segunda união, sempre oficialmente excluídos da comunhão durante a missa, a doutrina da Igreja sobre a contracepção, a procriação assistida, a moral sexual em geral, a distinção dificilmente compreensível entre a "acolhida" reservada aos homossexuais e a condenação persistente da homossexualidade, ou, em outro registro, a recusa categórica de Roma a abrir o debate sobre o celibato dos padres ou sobre o acesso das mulheres ao presbiterato...

Essa rigidez parece ainda mais estéril enquanto religiosos e teólogos, em público e em privado, se interrogam sobre a obstinação para manter tais regras. E, enquanto isso, na base, padres e fiéis tentam encontrar compromissos entre as linhas. Entretanto, em muitas questões, a palavra da Igreja perdeu credibilidade. Vê-se isso com o debate sobre o casamento gay: embora levantando vários pontos dignos de reflexão, as intervenções da Igreja, às vezes fora de lugar, parecem inaudíveis.

Nesse contexto, pode-se duvidar que as "peregrinações", a "santidade" e a "purificação" às quais o papa convida os cristãos e a Igreja, as Jornadas Mundiais da Juventude, as "novas tecnologias", o "estilo mais missionário" dos fiéis ou uma "afirmação explícita da fé" no espaço público, isto é, as soluções propostas pelo trabalho preparatório dos bispos para promover a "nova evangelização", sejam suficientes para convencer os "tépidos" e os hesitantes.

Mas o abandono da rigidez certamente não virá desse papa, e sem dúvida nem daquele que o sucederá. Bento XVI recentemente declarou que "não existem condições suficientes" para um Vaticano III. Porém, a Igreja, talvez, não teria interesse de rever as suas posições sobre os problemas ligados à liberdade das pessoas no que elas têm de mais íntimo? Ou seja, aquelas posições que minam hoje, em grande parte, a mensagem cristã como um todo?
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Fonte: IHU on line, 14/10/2012
Imagem da Interent

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