quarta-feira, 3 de outubro de 2012

''Opor-se ao casamento gay não é homofobia''

Defender o casamento como relação
 do homem e da mulher 
na construção da família não deve cair sob 
a acusação de homofobia. Trata-se não 
de discriminação, mas sim da 
definição da instituição do casamento


A opinião é de Gaston Piétri, padre em Ajaccio, na França, e diretor de redação da revista Église de Corse. O artigo foi publicado no jornal Le Monde, 28-09-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Do texto da Conferência dos Bispos da França para a celebração do dia 15 de agosto, a opinião pública parece ter percebido apenas a rejeição do casamento homossexual. Não se pode negar que essa recusa tem estado muito presente juntamente com outros pontos considerados. Ela fazia parte, na oração para as famílias, das preocupações referentes ao devir das crianças. No momento em que elas correm o risco de existir somente "como objetos dos desejos dos adultos", como ignorar o seu direito fundamental de "beneficiar do amor de um pai e de uma mãe"?

Esses eram os termos do texto. Certamente, existem famílias monoparentais. A solicitude da sociedade não deveria lhes esquecer, para que, com os seus próprios meios, possam assegurar ao máximo a sua tarefa educativa. Outra coisa bem diferente é abrir o caminho deliberadamente para famílias não fundamentadas na aliança entre um homem e uma mulher. Desse modo, se encontraria negada a alteridade, que, em princípio, cabe à educação, como desde sempre cabe à concepção.

É nisso que o projeto de lei se apresenta como um projeto contrário a um dado antropológico que está na base da sociedade. Esse é o ponto de vista que a Igreja reconhece ter a missão de defender, juntamente com todos aqueles que compartilham essa concepção da relação do homem e da mulher na construção da família. Defender essa posição sobre o casamento como tal e sobre a adoção não deve cair sob a acusação de homofobia. Aqui o amálgama, a confusão é inaceitável. Trata-se não de discriminação, mas sim da definição da instituição do casamento.

Aos cidadãos, e especialmente aos católicos, que não se reconhecem nesse projeto de lei, lembra-se que esse projeto é o da proposta 31 do programa que os franceses adotaram no dia 6 de maio. E que seria, portanto, o próprio voto dos franceses que se encontraria contestado. Esse argumento equivale a dizer que não é possível se opor a esse projeto de lei sem cair na negação da regra democrática. O argumento é falacioso. É uma armadilha à qual a lucidez proíbe de ceder.

Simplesmente porque aqueles que fizeram a escolha desse programa político na sua globalidade tinham o direito de expressar uma reserva, ou mesmo uma oposição, com relação a esse ponto específico. Entre eles, há católicos. Há assuntos cujo debate vai além das considerações partidárias. Cidadãos e legisladores precisam, em certas circunstâncias, de uma liberdade sem a qual trairiam as suas opções éticas mais fundamentais. Talvez não vimos, em 1981, membros da oposição de direita votar pela abolição da pena de morte?

A Igreja Católica já se encontrou em situações nas quais era preciso evitar confusão entre a rejeição de um ponto particular e uma oposição absoluta à integralidade de um programa político. Esse foi o caso nos Estados Unidos em 2002. Bispos haviam acreditado que era seu dever excluir da comunhão eucarística, durante uma campanha eleitoral, aqueles que defendiam uma lei que autorizava o aborto.

A Congregação para a Doutrina da Fé se viu obrigada a intervir com a seguinte especificação: se nenhuma cooperação é legítima, em compensação um católico pode ser levado a votar em favor de tais candidatos a partir de outros motivos, contanto que sejam "proporcionais".

Sob o pretexto de um posicionamento da Igreja sobre o casamento homossexual, o objetivo seria o de encerrar os católicos em um campo político? Se alguns lobbies se prestassem a esse jogo anticatólico, simetricamente outros lobbies seriam tentados, em nome dos princípios da moral católica, a convocar os opositores com a intenção de reagrupá-los. Desse modo, seria anulado nos fatos o pluralismo político dos cristãos. Não há um partido católico. Não há razão para mudar.

A regressão nesse ponto seria mais do que inoportuna. Uma suposta disciplina substituiria a necessidade de discernimento, ao qual os cristãos são chamados no espírito da liberdade evangélica.
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Fonte: IHU on line, 03/10/2012

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