sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Sungjang Rinpoché, um grande mestre espiritual

© Frédéric Stucin pour  La Vie

“Para os tibetanos, ele é um “tulku”: a reencarnação de um grande mestre que fez o voto de retornar para ajudar todos os seres. Um erudito, cheio de humildade, de bondade e de paciência, capaz de ensinar a via progressiva para o Despertar, 
apesar de sua pouca idade”, 

escreve Corine Chabaud em artigo publicada no revista francesa La Vie, edição n. 3489, 12 a 18 de julho de 2012. A tradução é do Cepat.

Eis o artigo.

Ele nasceu grande sábio erudito, mas não sabia. “Até os 5 anos eu era uma criança comum. Aos 6 anos eu perdi a minha liberdade”, lembra-se Sungjang Rinpoché. Após uma sessão de divinização, o dalai lama o reconheceu dentre os milhares de nomes de uma lista como a 4ª reencarnação de Ngawang Drakpa, discípulo do fundador da ordem do Guélougpa (o do dalai lama). Sungjang vivia então com sua família em Nagwa, no ex-Amdo tibetano, uma região hoje situada na província chinesa de Sichuan.

Logo depois, policiais chineses à paisana chegaram até ele para pedir a carta que reconhecia o seu novo estatuto. “Os ratos a comeram”, retorquiu seu pai. Sungjang recorda-se dos golpes que choviam, do sangue que corria, e de seu “medo de que todo o mundo fosse morrer naquela noite”. Sua família sobreviveu, mas foi confinada em uma residência permanentemente vigiada. Ele só pôde estudar no mosteiro vizinho de Kirti, sem nunca ter sido autorizado a sair de sua cidade. Até os11 anos, idade com a qual pôde fugir do Tibete.

Este é outro acontecimento épico de sua vida. Evoca sua excitação em finalmente sair da sua cidade, no alto de Lhasa, a expedição clandestina até a fronteira, um guarda armado que gritou “pare”, o medo de morrer; depois, sua caminhada vitoriosa até o Nepal e a Índia. Sentado sobre um tapete de meditação no templo de madeira em Vincennes, Paris, o jovem mestre espiritual fala sobre o seu extraordinário destino.

Para os tibetanos, ele é um “tulku”: a reencarnação de um grande mestre que fez o voto de retornar para ajudar todos os seres. Um erudito, cheio de humildade, de bondade e de paciência, capaz de ensinar a via progressiva para o Despertar, apesar de sua pouca idade. “Eu me sinto como um monge comum”, insiste. Aos 27 anos, Sungjang Rinpoché mora agora na França. Em março de 2012, esse jovem fundou em Lorey, no vale do Eure, o mosteiro de Tatsang Lhundup Ling, ou “Jardim das Realizações Espontâneas”. Antes, ele havia criado a associação humanitária Tibete Compaixão Internacional.

Dotado de uma incrível aura, esse guia espiritual ensina filosofia budista na Europa e no sudeste da Ásia. Sungjang Rinpoché visita regularmente Dharamsala, na Índia, onde mora a sua mãe exilada. Seu pai, um opositor que ficou 26 anos preso, morreu há quatro anos sem que pudesse vê-lo. E um de seus irmãos está preso no Tibete, condenado a 14 anos de cárcere por rebelião. Dores que seu estado de consciência superior ajuda a manter afastadas.

Sungjang Rinpoché transmite uma forte serenidade. Mas ele denuncia a sorte que a China reserva ao seu povo: a limpeza étnica, as torturas, os assassinatos, as esterilizações forçadas. Ou ainda a pilhagem dos recursos, a destruição das florestas e a poluição das águas. “Os chineses se comportam como nazistas”, ousa dizer. “Eles querem as nossas terras, mas eliminando o nosso povo. Nenhum governo ousa opor-se a esta superpotência econômica”.

Por conta do desespero dos tibetanos as imolações se multiplicam. Jovens monges budistas, ou mesmo mães de família se revoltam contra a falta de liberdade religiosa. Sungjang Rinpoché não eleva a voz nem mesmo quando fala sobre tudo isso. Desapegado dos bens materiais, ele leva uma vida monástica regrada. Levanta às 6h30. Vai dormir às 23h30. Nesse meio tempo, longas horas de meditação e de prática tântrica de alto nível. Um telefonema à sua mãe todos os dias. Escreve poemas em tibetano. “Eu não tenho preocupações. Levo uma vida feliz”, revela alegre. Esse jovem sábio não tem idade. [Esta última frase, em francês, tem sua rima: “Ce jeune sage n’a pas d’âge”.]
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Fonte:  IHU on line, 31/08/2012

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