quinta-feira, 29 de março de 2018

As novas escolas do futuro

Arnaldo Niskier*

Alunos de escola técnica em São Paulo participam de aula em laboratório

Alunos de escola técnica em São Paulo participam de aula em laboratório - Luiz Carlos Murauskas - 1º.abr.15/Folhapress

O professor deve atualizar-se nas tecnologias e se descobrir um facilitador do processo educacional, reinventando ações didático-pedagógicas


As mudanças de grande amplitude que caracterizam a sociedade contemporânea vêm causando um impacto de proporções inéditas no campo educacional, particularmente no que concerne à juventude.

O aumento crescente da demanda por mais escolaridade, a busca por novas formações, a necessidade de percursos curriculares mais flexíveis, a existência de recursos pedagógicos tecnologicamente avançados, o advento da internet e das redes sociais e a comprovada limitação das metodologias mais ortodoxas tornam evidente que a escola, como é hoje, não atende às expectativas e necessidades da juventude brasileira.

Das profissões de 2019, 60% ainda não existem. É preciso preparar nossos jovens para esse mercado. O conhecimento é o maior insumo do século 21. É ele que determinará o sucesso de um profissional. E o maior centro de distribuição de conhecimento segue sendo a escola.

Ao longo da história, a escola foi adaptando-se às novas tecnologias. Num primeiro momento, a educação formal era baseada em aulas expositivas, com o enfoque no discurso do professor. Hoje, temos diversas mídias educacionais. O grande desafio é saber utilizá-las de modo eficiente e permitir que contribuam com as práticas pedagógicas.

Já se fala em quarta revolução industrial. São tecnologias capazes de integrar os domínios físicos, digitais e biológicos da vida humana. Essa revolução seria caracterizada pela difusão da internet móvel, o surgimento dos sensores menores, mais poderosos e mais baratos, e pela inteligência artificial e aprendizado da máquina.

O professor deve atualizar-se nas tecnologias inovadoras e se descobrir um facilitador do processo educacional, reinventando um conjunto de ações didático-pedagógicas.

Prevê-se a valorização do ensino técnico-profissional de que o país tanto carece. O ensino médio deve oferecer habilidades e competências aos alunos segundo suas escolhas pessoais --e de acordo com as variações do mercado.

É o que faz com sucesso o Sistema S desde a década de 50, com a boa tradição dos seus cursos profissionalizantes. Quando o assunto é tecnologia aplicada à educação, o Sesi, Senai e Senac são pioneiros na formação dos profissionais do futuro. Essas entidades colocam os jovens em contato com a tecnologia desde cedo e contribuem com a formação de adultos mais conectados à inovação.

O Sesi mantém aulas de robótica no currículo de 400 de suas escolas de ensino médio e fundamental. Há cinco anos, organiza um torneio de robótica para estudantes de 9 a 16 anos, de escolas públicas e particulares, desafiados a criar soluções inovadoras e construir robôs com peças de Lego.

É lamentável que, em nosso país, ainda faltem investimentos na qualificação de professores. Faltam também laboratórios e bibliotecas. O Brasil tem cerca de 200 mil escolas, a maioria sem bibliotecas e laboratórios compatíveis. Diante disso, como oferecer a nossos educandos a possibilidade de uma educação de qualidade?

É essencial corrigir essas falhas. As sociedades mais bem-sucedidas economicamente e as que alcançaram os graus mais elevados de bem-estar são as que mais dominam as várias áreas do saber. A questão da educação é estratégica para atingir o estágio de desenvolvimento que almejamos como nação.
-------------------
* Professor e jornalista, é membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), presidente do CIEE/RJ (Conselho de Integração Empresa-Escola) e doutor honoris causa pela Unama (Universidade da Amazônia)
Fonte:  https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2018/03/arnaldo-niskier-as-novas-escolas-do-futuro.shtml

Nenhum comentário:

Postar um comentário