Por que vivemos, se temos de morrer, isto não sei responder em definitivo. Só sei que em toda parte no mundo, a vida está ligada com a morte. Não há vida sem morte, nem entre os animais e nem entre as plantas. Também nós, seres humanos, participamos dessa realidade; nós também vivemos sob a lei da morte e do renascimento. Nossa vida é finita. Não podemos fugir disso, apesar de todas as tentativas da ciência de postergar a morte. A questão é como lidar com isso. Se aceitamos que nossa vida é finita, então isto dá ao tempo vital que nos está disponível um valor especial.
Nossa vida é única. Pos isso devemos vivê-la cuidadosamente. A arte da vida consiste em integrar a morte em nossa vida e, dessa forma, viver mais intensamente. A morte nos convida a sentir o mistério da vida e estamos agora, neste instante, totalmente presentes. Quando penso na minha morte, sou estimulado por este pensamento a viver conscientemente, a dizer as palavras que há muito queria ter dito, a escrever aquilo que corresponde de fato ao meu íntimo e de fazer aquilo que acho ser minha tarefa no mundo. E não viverei inadvertida e descuidadamente por aí, mas vou degustar cada momento com muito apreço. Sinto, na perspectiva da morte, o gosto pela vida. Quando todo dia pode ser o meu último, não vou desperdiçá-lo inutilmente.
Quando a morte é o limite da minha vida. Todo o limite tem dois lados, o aquém e o além, que se completam pela separação. A morte é o limite que me convida a viver consciente e intensamente dentro dos limites. Mas é também o limite que eu ultrapasso e que me conduz da limitação da minha existência condicionada por uma série de restrições históricas para uma nova amplidão. No ultrapassar desses limites, não morro para o nada, mas para a plenitude da vida, para dentro de Deus. Portanto, minha morte não é só fim, mas também um novo começo, uma transformação desta vida, a satisfação de meu desejo mais profundo... (GRÜN, Anselm. O livro das respostas. Ed. Vozes, RJ, p.63/64 - Grün é monge beneditino da Abadia de Münsterschwarzach (Alemanha). Tem seus livros poblicados em 28 línguas)
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