“... Educar é também desconsiderar os obstáculos da miséria e do obscurantismo, e fazer a criança sonhar, o adolescente derrubar os entraves culturais, para que pleiteiem um mundo à altura da sua imaginação.
Educar é fazer o aluno fruir dos bens do planeta em todas as suas manifestações. Para que sua fantasia, seu verbo, sua linguagem, sejam libertárias, destemidas, sem freios. É fazer do ato de pensar um feito tão natural quanto respirar. Um dom ao alcance de todos, independente de sua condição.
Educar é defender o exercício e a prática que transformam o sujeito passivo em sujeito da própria história. É dar fé a quem esteja na sala de aula de ser ele uma entidade inviolável, uma aposta do futuro.
Educar é prender o aluno à escola, empenhar todos os recursos para evitar a evasão escolar, a fuga da vida. É despertar nele o desejo de vir a ser um projeto existencial magnífico, sem brechas, fissuras. De vir a se no futuro um congressista, um artista, um escritor, um operário, um mestre. Alguém que, ao explorar sua irrenunciável vocação para a vida, nela inclua como meta o saber, o desvendamento da inteligência, o coração ardente, a mirada camaleônica e reveladora.
Educar é também convencer alunos e cidadãos que o professor é a única entidade social capaz de modificar a sociedade e torná-la melhor. É um ser aparelhado para opor-se à barbárie. Pois quem, senão o Mestre, tem a habilidade de chegar mais perto e rapidamente ao coração jovem que recém deixou as paredes da casa?
Educar é ajudar a traduzir historicamente o que separa os indivíduos, enquanto lhes explica o que pode uni-los sob a tutela da lei e da solidariedade cidadã. É auxiliar a distinguir o que pertence à órbita do individual e o que emerge do coletivo.
Educar é combater a realidade reducionista do aluno, é introjetar em sua caixa de memória o desejo irrenunciável de apropriar-se do conhecimento. É fomentar-lhe o gosto pela leitura que, por si mesmo, combate a resignação, a passividade, e concede-lhe, em troca, infindáveis oportunidades, dando-lhe o acesso, ao infinito mundo.
Educar é fazer crer ao aluno, e por conseqüência à sociedade, que a imaginação está ao alcance de todos. Com ela, esgrime-se o cotidiano, compatibiliza-se o sonho e realidade, apropria-se do que até então, não havíamos aprendido.
Educar é combater o trivial, o frívolo, o que permanece na área dos equívocos acumulados. É ajudar a formar um indivíduo para que ele possa decidir, com rara propriedade, de que modo conduzir sua vida. É permitir que a matéria humana, dada a sua transcendência moral, converta-se finalmente em um ser, uma pessoa, um bem intangível.” (Nélida Piñon – Aprendiz de Homero – Ed. Record, RJ, 2008, pp.236 a 238)
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