quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Você já ouviu falar do futuro da internet?

 João Pedro Pereira –

A internet em 100 anos: previsões para o futuro da rede - TecMundo

Numa era de polarizações, as discussões não têm de ser todas de trincheiras. E o mundo, mesmo o mundo da tecnologia, nem sempre é binário.

Comecemos 2022 sem achar que tudo é uma questão de zero ou de um.

Começamos 2022 a olhar para o futuro em particular, para o que tem vindo a ser descrito como a próxima geração da Internet.

É possível que o leitor já se tenha deparado com o conceito de Web3, também chamada Web 3.0.

Um parágrafo sobre como viemos até aqui.

A primeira geração da Web

  • é a dos sites mais ou menos estáticos, que começaram a surgir na década de 1990 e que massificaram a Internet:
  • páginas pessoais, sites de universidades, jornais e revistas online, a Amazon, o eBay e o Yahoo.

A Web 2.0 é a Web social:

  • os blogues, o MySpace, o Facebook e o YouTube,
  • em vez de apenas sites, passámos a ter plataformas online.

A Web 3.0, durante algum tempo, tinha um significado distinto do actual, pouco relevante na discussão de hoje. Para os interessados, já em 2009 escrevíamos no PÚBLICO sobre o assunto.

Chegamos assim à Web3 (ou a nova Web 3.0).

É a ideia de uma Internet assente em tecnologias descentralizadas, leia-se, a tecnologia de blockchain, popularizada com a bitcoin.

Numa penada muito incompleta,

  • uma blockchain é uma base de dados de que qualquer pessoa pode ter uma cópia actualizada automaticamente,
  • por oposição a uma base de dados que alguém (um banco, o Google) gere de forma centralizada.

Um ponto de partida para perceber as ideias da Web3

  • é esta entrevista da Wired a Gavin Wood, co-fundador da ethereum, a plataforma em que assenta o ether (a segunda mais popular criptomoeda depois da bitcoin),
  • e criador da Fundação Web3.

Como se percebe pergunta após resposta, o entrevistado cai nas falácias habituais dos tecno-utópicos:

  • a maioria das organizações faz parte de um establishment nocivo;
  • as transformações na sociedade passam pelas tecnologias informáticas (lembram-se de quando o Facebook queria ser uma plataforma para a vida pública?);
  • a tecnologia é salvífica (uma aplicação para combater a Covid-19?);
  • e a confiança entre pessoas deve ser substituída pela transparência e exactidão da tecnologia.

Este último argumento é tão central na Web3 quanto velho nas tecnologias de informação.

Wood argumenta que,

  • como a tecnologia da Web3 é escrutinável (isto é, assenta em dados a que qualquer pessoa pode ter acesso e em código informático que qualquer um, teoricamente, pode interpretar),
  • a confiança entre humanos deixa de ser necessária e o mundo será um lugar mais seguro.

Não é preciso ir longe para perceber a falha do argumento:

  • a maioria das pessoas não tem conhecimentos para compreender as entranhas do código informático, da mesma forma que não compreende os meandros dos sistemas financeiros ou a engenharia que garante que as pontes não caem.
  • Transparente ou não, open source ou não, uma confiança generalizada numa dada tecnologia informática implica que os utilizadores confiem em quem a cria ou em quem a regula.

Não há nada de novo aqui, excepto que a confiança geral em quem desenvolve tecnologia na Internet está em mínimos históricos.

Se chegou até este ponto da leitura,

  • estará à espera de que a conclusão desta newsletter seja a de que a Web3 é uma utopia, na melhor das hipóteses,
  • ou um logro, na pior.

Não tem de ser uma coisa ou outra.

  • A televisão não matou a rádio,
  • a Web 2.0 não matou os sites da Web 1.0
  • e alguns conceitos da Web3 ajudarão a moldar o futuro da Internet, mesmo que não sejam exactamente o caminho da salvação.

Numa era de polarizações, as discussões não têm de ser todas de trincheiras. E o mundo, mesmo o mundo da tecnologia, nem sempre é binário.

Comecemos 2022 sem achar que tudo é uma questão de zero ou de um.

* João Pedro Pereira. Editor de Newsletters e Projectos Digitais

Fonte: Público/Lisboa

Fonte do Blog:  http://www.padrescasados.org/archives/105490/ja-oiuviu-falar-do-futuro-da-internet/?utm_source=feedburner&utm_medium=email

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