sexta-feira, 21 de julho de 2023

Entrevista a Rosa Montero

 Porto Editora


«A Louca da Casa» chegou às livrarias numa nova edição com epílogo da autora espanhola

No 20.º aniversário da publicação do livro A Louca da Casa, a Porto Editora reedita a obra mais pessoal de Rosa Montero, até agora apenas disponível no mercado nacional em formato de bolso. Um romance? Um ensaio? Uma autobiografia? Há tanto para descobrir neste jogo narrativo pleno de surpresas. A nova edição conta com um epílogo da autora espanhola, que nos fala, nesta entrevista, sobre o fascínio pela imaginação do qual brotam os seus livros.  

E, de repente, passaram 20 anos desde a publicação de A Louca da Casa. Para quem ordena as recordações através de uma relação com livros (e namorados), como foi o processo de constatar o muito que aconteceu na sua vida literária e pessoal nesse intervalo de tempo? 

Bem, a vida também vai mudando a nossa perspetiva sobre as coisas. No epílogo para esta edição dos 20 anos, digo que agora a minha vida está essencialmente dividida, do ponto de vista temporal, entre a época anterior à morte do meu companheiro e a época posterior. O Pablo faleceu em 2009, após dez meses de doença. E, como digo no epílogo, agora olho para trás e vejo aquela divisão entre uma vida mais quente e uma vida mais fria, como quando estamos a conduzir na estrada e passamos por um túnel muito longo por baixo de uma montanha. Entramos no túnel pela vertente sul, tudo sol e luz, e saímos pelo lado norte, tudo enevoado e cheio de nuvens no céu. Nessa face norte, o sol aparece de vez em quando, e até podemos ver uma bela paisagem, mas a temperatura e a atmosfera mudaram.  

Diz que os romances surgem de um pequeno grumo imaginário. Qual foi o “ovinho” de A Louca da Casa

Foi um livro que me surpreendeu profundamente. Achei que estava a fazer um ensaio vulgar sobre escrita, daqueles textos sobre como escrever tão comuns a todos os escritores, e de repente a minha cabeça começou a brincar sozinha, e a inventar coisas, e a misturar tudo, e o título apareceu-me na cabeça. Então percebi que não estava a fazer um ensaio sobre como escrever, mas um artefacto literário lúdico e interativo sobre imaginação e criatividade. 

 

«[…] percebi que não estava a fazer um ensaio sobre como escrever, mas um artefacto literário lúdico e interativo sobre imaginação e criatividade.» 

 

Um dos grandes fascínios do livro é a incerteza sobre a percentagem de realidade/imaginação nele contida. E, apesar de já ter revelado um ou outro “equívoco” de leitura, essas dúvidas continuam a ser tema de conversa e curiosidade entre os leitores. Cada um pode acreditar naquilo que quiser, neste livro?  

É isso mesmo, esse é o jogo da criatividade: cada um pode e deve escolher no que quer acreditar. Mas direi também que o texto está repleto de chaves que alertam o leitor atento sobre onde estão as armadilhas. 

Combinando ficção, autobiografia e ensaio, este livro como que forma uma trilogia com o A ridícula ideia de não voltar a ver-te e o recente O perigo de estar no meu perfeito juízo. Não é assim? 

De facto, são livros indefiníveis que não pertencem a nenhum género. Na verdade, creio que inventei um subgénero com esses livros (risos). Eu chamo-os de artefactos literários, e eles são compostos de uma parte de ensaio, mas um ensaio pouco ortodoxo e pouco convencional; um pouco autobiográfico, mas também estranho e pouco confiável; com biografias altamente narrativas ou retratos de outros personagens conhecidos e com ingredientes ficcionais. Tudo misturado. 

 

«[…] são livros indefiníveis que não pertencem a nenhum género. Na verdade, creio que inventei um subgénero com esses livros (risos). Eu chamo-os de artefactos literários […].» 

 

No epílogo desta reedição confessa que tem na cabeça «a ideia ardente» de mais um título nesta linha. Quer contar-nos mais detalhes?  

Siiiiiim! E, se não morrer antes, acho que provavelmente será o meu último livro. Calculo que, se tudo correr bem, publicarei dentro de dez anos. E não, não posso dizer o tema específico deste último artefacto literário, mas sou apaixonada por ele e creio que pode ser lindo. 

E para os fãs de Bruna Husky – a detetive replicante que seguimos nos romances futuristas O Peso do Coração, Lágrimas de Chuva e Os Tempos do Ódio –, haverá novidades em breve nesse imaginário? 

Ai, ai, ai, estou justamente nisso agora…. Tentando escrever a quarta [aventura de] Bruna Husky, que será, parece-me, o último romance com ela. E para os fãs desta minha personagem, só queria repetir-lhes algo que já prometi publicamente noutras ocasiões: tranquilos, porque a minha Bruna não morrerá em nenhum dos meus livros… 

Fonte: https://www.portoeditora.pt/noticias/entrevista-a-rosa-montero/225487?utm_source=newsletterConte%C3%BAdos&utm_medium=email&utm_campaign=28029_MEG-NL-GPE&utm_content=_20230720+-+Newsletter+GPE+-+Julho_v2&utm_term=36968&m_i=xugQkxUxu34dqPsL%2BxZnHzJksqNXy8VzIFNjW5z4WkFtJQHohlXYvzKSW3ItPofz1wb0%2BwFWRrqFLOjyB3IFQu2mUs3xxg

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