Mundo teve em uma semana os três dias mais quentes já registrados na história. Mudança climática, verão no Hemisfério Norte e chegada do fenômeno El Niño explicam eventos
A temperatura média global bateu recordes por três dias na mesma semana. O valor registrado na segunda-feira (3) foi de 17,01ºC, superando o recorde anterior, de agosto de 2016, quando os termômetros bateram 16,92ºC. Um dia depois, na terça (4), os números ficaram ainda maiores, chegando à média global de 17,18ºC. Dois dias depois, na quinta (6), uma nova alta: 17,23°C.
Apesar de serem preliminares, os dados indicam que os próximos meses devem continuar com dias quentes, segundo cientistas. Fatores como a mudança climática, que provoca o aquecimento global, a ocorrência do fenômeno El Niño e o verão no Hemisfério Norte ajudam a explicar o cenário. O combo promete causar impactos negativos.
Neste texto, o Nexo explica o que há nos dados registrados nesta semana, como as medições são feitas e quais são os efeitos práticos do aumento do calor no mundo. Também detalha as causas para que os dias estejam mais quentes e mostra as previsões de cientistas para o segundo semestre de 2023.
O que os dados indicam
Os dados registrados esta semana são do Centro Nacional de Previsão Ambiental dos Estados Unidos, ligado à Administração Oceânica e Atmosférica (Noaa, na sigla em inglês), que mede os dados desde 1979. Pesquisadores afirmam, porém, que é possível estimar que o calor dos últimos dias não é visto há cerca de 125 mil anos na Terra.
A temperatura média global de 17,18ºC registrada na terça (4) ficou 1,64ºC acima da temperatura de linha de base do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas) para esse dia. O IPCC é uma autoridade científica ligada à ONU. A linha de base do grupo representa a temperatura “normal” (natural) da Terra na era pré-industrial, entre 1850 e 1900, antes da interferência humana na atmosfera.
Os valores registrados podem parecer pouco para quem vive num país quente, como o Brasil, mas não são. Para calcular a temperatura média global, pesquisadores agrupam dados de estações meteorológicas espalhadas por toda a Terra, dos lugares mais quentes aos mais frios. Esse tipo de medição existe desde o século 19 (para temperaturas anteriores, a ciência depende de evidências deixadas na natureza, como anéis de árvores e núcleos de gelo).
O aumento do calor nos primeiros dias de julho não é uma surpresa. Dados do serviço de observação europeu Copernicus já haviam indicado que o começo do mês anterior, junho de 2023, foi o mais quente já registrado na história. O período sucedeu um mês de maio em que a temperatura da superfície dos oceanos também bateu recorde.
Quais são as causas do calor
Dois fenômenos, um perene e um pontual, ajudam a explicar o aumento do calor recente. O primeiro é a mudança climática, que provoca o aumento generalizado das temperaturas há décadas por causa da emissão de gases de efeito estufa. O segundo é o El Niño, que começou em 2023 no dia 8 de junho e deve durar até o começo de 2024.
O El Niño é um fenômeno natural. É um evento marcado pelo aquecimento anômalo das águas do Oceano Pacífico na região da linha do Equador, nas proximidades da costa da América do Sul, como o Nexo explica no vídeo abaixo. Acontece de tempos em tempos (geralmente de dois a sete anos) e influencia o clima em várias partes do mundo:
Estão entre os efeitos do El Niño mais eventos climáticos extremos de chuva e seca ou mais ou menos ciclones tropicais, dependendo da parte do globo. Em nível global, o fenômeno eleva as temperaturas. Tempestades mais fortes costumam atingir partes da América do Sul, os EUA, o chifre da África e a Ásia central, enquanto as secas tendem a chegar à Austrália, Indonésia, parte do sul da Ásia, América Central e o norte da América do Sul.
Fora o El Niño, outro evento associado ao aumento das temperaturas em julho é o verão no Hemisfério Norte. A estação começa em meados de junho e vai até meados de setembro. É no Hemisfério Norte que se concentra a maior parte da massa de terra do planeta — por isso sua influência na temperatura global.
Quais são seus impactos
Diversos eventos climáticos extremos têm ocorrido à medida que as temperaturas aumentam. Com o aquecimento do Pacífico equatorial, o sul dos Estados Unidos passa por uma forte onda de calor. Mais de 50 milhões de pessoas têm sido afetadas pelo chamado domo de calor, fenômeno em que a atmosfera retém o ar quente e forma uma espécie de tampa sobre uma região.
A China também enfrenta uma poderosa onda de calor. As temperaturas têm chegado a valores acima de 40ºC em algumas cidades. O clima levou os governos locais a pedir a residentes e empresas que reduzam o uso de eletricidade. Perto dela, na Índia, uma onda de calor extremo em junho deixou 98 mortos.
As temperaturas têm superado 45ºC no norte da África, região influenciada pelo Atlântico Norte — que, assim como o Pacífico, registra aquecimento. Até mesmo a Antártida, que está em seu período de inverno, vem registrando temperaturas acima do normal. O gelo marinho do continente está em níveis baixos recordes para a data.
O que esperar dos próximos meses
Depois dos primeiros recordes de temperatura de 2023, a expectativa é que outros aconteçam nos próximos meses. “Não é um recorde para se celebrar e não será um recorde duradouro, com o verão do Hemisfério Norte ainda à frente e o El Niño se desenvolvendo”, disse à emissora CNN Friederike Otto, professora no Instituto Grantham para a Mudança Climática e o Meio Ambiente no Reino Unido.
“Infelizmente, essa é apenas a primeira de uma série de novos recordes que serão estabelecidos neste ano, à medida que as emissões crescentes de dióxido de carbono e gases de efeito estufa, juntamente com um evento de El Niño em desenvolvimento, empurram as temperaturas para níveis cada vez mais altos”
Pesquisadores alertam que o El Niño de 2023 pode se tornar um “Super El Niño”. O evento é classificado dessa forma quando provoca aquecimento de 2,5ºC ou mais nas temperaturas globais. O agravamento do fenômeno é esperado no contexto da mudança climática, que o alimenta (e também se alimenta dele).
Além das temperaturas, os eventos extremos devem se intensificar ao longo do ano. Nos EUA, as tempestades de inverno, que começam em dezembro, devem ser mais fortes que o comum. A Austrália pode sofrer com intensos períodos de seca e incêndios florestais. Setores como o agrícola e o elétrico devem registrar perdas, e o PIB (Produto Interno Bruto) tende a cair nos países mais afetados, resultando em consequências sérias para a economia global.
No Brasil, o El Niño costuma produzir o aumento das temperaturas médias em todas as regiões, com destaque para Sudeste e Centro-Oeste. As chuvas tendem a se intensificar no Sul, e a diminuir no Norte e Nordeste, o que eleva os riscos de seca e queimadas. Em 2023, essas três últimas regiões devem ser as mais impactadas pelo fenômeno.
Fonte: https://www.nexojornal.com.br/expresso/2023/07/07/Recordes-de-temperatura-o-que-esperar-em-2023?utm_medium=Email&utm_campaign=NLDurmaComEssa&utm_source=nexoassinantes
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