- O que é a ‘Vida líquida’? E por que o senhor rejeita o conceito de pós-modernidade?
- Líquido são substâncias que não podem manter a forma por muito tempo, assim como o mundo em que vivemos e nossos hábitos, reflexões e credos... Modernizamos nossas instituições hoje para considerá-las ultrapassadas amanhã. O que está em voga agora logo será condenado, objetos de culto e desejo desaparecem sem deixar pistas, pois o “interesse público” se move a uma velocidade que não permite que nenhum conceito seja propriamente assimilado. As regras do jogo líquido mudam tão rapidamente que não têm tempo para solidificarem-se em hábitos. Nas relações humanas talvez seja mais importante aprender a se desconectar do que conectar-se, em uma sociedade onde a tendência aponta para redes e não em estruturas que significaria trabalho regular e rotina. Assim, pensar a longo prazo é cada vez mais difícil, as regras do jogo mudam sem alertas indicando que ele terminou. Prefiro então usar modernidade líquida do que pós-modernidade, que sugere que não somos mais modernos. Nós somos! Mais do que antes: por escolha ou necessidade, modernizadores obsessivos e compulsivos.
- No livro o senhor diz que hoje a eternidade é rejeitada, mas não a infinitude.
O que eu sugiro é que a eternidade, assim como qualquer outro objeto ou desejo, precisa ser aplicado a um uso instantâneo. A ‘esperança de recompensa’ que costumava ser usada como a principal doutrina de vida no começo da modernidade – e de acordo com Max Weber foi também o segredo de seu espetacular sucesso – tende agora a parecer algo irrefletido, já que as mudanças desaparecem tão rápido quanto chegam. Há duas décadas foram criados os cartões de crédito com o slogan “Acabe com a espera do desejo”. Este apelo parece ter ressoado por quase todas as demandas universais. A tendência é viver entre um momento e outro esperando por aquele que represente o big bang. Então a última experiência não cumpriu esta expectativa, tudo bem. Há dezenas de outros momentos pela frente... Nossa capacidade atual de renegociar o significado do tempo é imensa. Cada unidade de tempo parece conter dentro de si uma nova chance de big bang, deixando um cemitério de fantasias e possibilidades negligenciadas. Ou, dependendo do ponto de vista, um cemitério de chances perdidas.
* ZYGMUNT BAUMAN, sociólogo polonês de 81 anos. Tem 11 livros publicados no Brasil, entre eles O mal estar na pós-modernidade e Globalização: as conseqüências humanas. Vida Líquida. Sociedade Líquida. Amor Líquido. (Entrevista do JB/Idéias & Livros, 24/03/2007, fl.3).
- Líquido são substâncias que não podem manter a forma por muito tempo, assim como o mundo em que vivemos e nossos hábitos, reflexões e credos... Modernizamos nossas instituições hoje para considerá-las ultrapassadas amanhã. O que está em voga agora logo será condenado, objetos de culto e desejo desaparecem sem deixar pistas, pois o “interesse público” se move a uma velocidade que não permite que nenhum conceito seja propriamente assimilado. As regras do jogo líquido mudam tão rapidamente que não têm tempo para solidificarem-se em hábitos. Nas relações humanas talvez seja mais importante aprender a se desconectar do que conectar-se, em uma sociedade onde a tendência aponta para redes e não em estruturas que significaria trabalho regular e rotina. Assim, pensar a longo prazo é cada vez mais difícil, as regras do jogo mudam sem alertas indicando que ele terminou. Prefiro então usar modernidade líquida do que pós-modernidade, que sugere que não somos mais modernos. Nós somos! Mais do que antes: por escolha ou necessidade, modernizadores obsessivos e compulsivos.
- No livro o senhor diz que hoje a eternidade é rejeitada, mas não a infinitude.
O que eu sugiro é que a eternidade, assim como qualquer outro objeto ou desejo, precisa ser aplicado a um uso instantâneo. A ‘esperança de recompensa’ que costumava ser usada como a principal doutrina de vida no começo da modernidade – e de acordo com Max Weber foi também o segredo de seu espetacular sucesso – tende agora a parecer algo irrefletido, já que as mudanças desaparecem tão rápido quanto chegam. Há duas décadas foram criados os cartões de crédito com o slogan “Acabe com a espera do desejo”. Este apelo parece ter ressoado por quase todas as demandas universais. A tendência é viver entre um momento e outro esperando por aquele que represente o big bang. Então a última experiência não cumpriu esta expectativa, tudo bem. Há dezenas de outros momentos pela frente... Nossa capacidade atual de renegociar o significado do tempo é imensa. Cada unidade de tempo parece conter dentro de si uma nova chance de big bang, deixando um cemitério de fantasias e possibilidades negligenciadas. Ou, dependendo do ponto de vista, um cemitério de chances perdidas.
* ZYGMUNT BAUMAN, sociólogo polonês de 81 anos. Tem 11 livros publicados no Brasil, entre eles O mal estar na pós-modernidade e Globalização: as conseqüências humanas. Vida Líquida. Sociedade Líquida. Amor Líquido. (Entrevista do JB/Idéias & Livros, 24/03/2007, fl.3).
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